Lamentavelmente, esta é uma história comum: uma família adquire um peixe-dourado, mas depois seu filho cansa-se dele; talvez porque o futebol, as aulas de guitarra ou as tarefas escolares comecem a roubar todo seu tempo. A família quer se desfazer do peixe mas não quer causar nenhum dano a ele, motivo pelo qual o jogam em um rio ou corpo de água local (ou inclusive no vaso sanitário). Um movimento talvez bem intencionado, mas que está causando problemas ecológicos. |
Na semana passada, os funcionário florestais de Burnsville, uma cidade de Minnesota ao sul de Minneapolis, Estados Unidos, instaram os moradores a deixar de soltar seus mascotes peixes em tanque e lagos.
- "Crescem mais do que pensa e contribuem para piorar a qualidade da água, porque eliminam os sedimentos do fundo e arrancam as plantas", tuitou a conta oficial da cidade. - "Recentemente encontraram grupos destes grandes peixes coloridos no lago Keller."
A mensagem incluía fotos de alguns dos "peixinhos" dourados que foram encontrados no lago, e eram bem maiores do que a gente pode imaginar. Os peixes-dourados (Carassius auratus) podem ser pequenos quando criados em aquário, porque o próprio espaço limita seu crescimento, mas estas criaturas, que são membros da família das carpas-cinzentas-asiáticas, podem chegar a medir quase meio metro de comprimento (eu explico no fim do artigo). Originários do leste da Ásia, são espécies invasoras quando introduzidas nas vias fluviais nas quais não pertencem.
Há uma expressão muito usada em criadouros de peixes que se aplica exatamente a este problema: "os peixes estão indo para o barro". É que para comer, as carpas -quando mal tratadas- e os peixinhos-dourados soltos vão para o fundo de lagos e tanque à procura de comida, enturvando as águas com os sedimentos que agitam, perturbando a vegetação. Isto resulta em falta de alimentos as populações de peixes nativos que acabam morrendo.
Os peixes-dourados também podem transmitir parasitas, e também são uma espécie incrivelmente resistente a águas turvas, mudanças drásticas de temperatura e baixos níveis de oxigênio na água. Então, uma vez que ingressam às vias fluviais, podem ficar durante anos.
Para piorar as coisas, a espécie reproduz-se rapidamente. As fêmeas produzem até 40.000 ovos a cada ano, bem mais que a maioria das espécies de peixes de água doce. Dado que não têm predadores naturais nos ecossistemas de água doce fora da Ásia, muitos desses descendentes podem sobreviver e habitar essas águas desenfreadamente. A sua carne também é indigesta, devido ao gosto que adquire ao se alimentar de barro.
Os peixes-dourados estão longe de ser os únicos animais de estimação que podem criar tais problemas. Os funcionário públicos florestais da Flórida, por exemplo, estão faz anos elaborando políticas e incentivos para evitar que as pessoas libertem répteis, incluindo pítons-birmaneses, sucuris-verdes, lagartos-do-nilo, iguanas e tegus.
Esses animais têm causado estragos nos delicados ecossistemas da Flórida, Estados Unidos, incluindo um grande problema de pítons nos Everglades. O estado passou a permitir a caça de pítons no parque e também instou os moradores a abaterem iguanas invasoras sempre que for possível.
Os gatos livres, tanto os selvagens como de estimação, também são um grande problema porque se alimentam de aves e mamíferos nativos, às vezes de maneira extrema. E graças a sua popularidade como mascotes, as espécies de papagaios não nativos também se estenderam pelos Estados Unidos. Os cientistas estão pesquisando seus efeitos nos ecossistemas.
Os funcionários florestais de Minnesota advertiram durante muito tempo sobre os perigos de liberar peixinhos-dourados na natureza. No fim do ano passado, os funcionários do condado de Carver, perto de Burnsville, Estados Unidos, disseram que tinham retirado 50.000 peixes-dourados (ver vídeo abaixo) das águas locais em uma semana, estimando que poderiam restar uns 500.000 mais.
Também não é apenas Minnesota. Em 2013, conservacionistas da Universidade de Nevada disseram que tinham encontrado cada vez mais peixes-dourados de grande tamanho no lago Tahoe. E os peixes-dourados também se apoderaram das vias fluviais do Colorado, Maryland e inclusive da província canadense de Alberta.
Então, se alguém deseja se desfazer de seu peixinho-dourado, considere presentear a um pet shop ou a um aquário em vez de libertar em um lago. Seus ecossistemas locais agradecerão.
Para concluir, uma foto que muitos acham que é falsa. O protagonista da fotografia é um francês chamado Raphael Biagini, jornalista da área de pesca. A imagem, que se tornou viral faz alguns anos, é surpreendentemente autêntica, mas a alegação de que o peixe em seus braços é um peixinho-dourado é relativamente verdadeira!
O peixe em questão é uma carpa-dourada. A explicação é que faz milhares de anos os chineses começaram a domesticar e selecionar esses peixes por seu tamanho ou para alimentação (grandes) ou para ornamentação (pequenos). Depois de algum tempo, os cientistas passaram a classificar o peixinho-dourado como uma subespécie, Carassius auratus, e o de ciprinídeos maiores em outras espécies, como o da carpa-koi, mas, geneticamente falando, ambos são relativamente os mesmos peixes.
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