A seleção ao serviço militar indiano é simples, mas efetivo e com soluções geniais

Com mais de 1 bilhão de habitantes, status de nação nuclear e um desenvolvimento econômico extraordinário, a Índia conseguiu atingir o nível de potência mundial. Gigante em plena escalada, o país conseguiu mudar sua imagem de "ator regional" singelo, relacionada fortemente a uma diplomacia moral herdada dos anos de governo de Jawaharlal Nehru. Hoje, os atores globais já não ousam fazer críticas ao país, que tem a 3° maior força militar terrestre e o maior exército voluntário permanente do mundo.

O exército indiano, de fato, é um serviço voluntário e, embora exista uma cláusula para o alistamento militar na sua constituição, o alistamento nunca foi imposto. Ainda assim muitos dos jovens que completam 18 anos se alistam vendo ali uma melhor perspectiva de vida como militar.

No entanto, no ano passado, o Comitê Parlamentar Permanente da Índia, o Ministério da Defesa e o Departamento de Pessoal e Treinamento (DoPT), que é uma ala do governo que administra e redige políticas para funcionários públicos, recomendaram tornar o serviço militar obrigatório de 2 anos para todos os jovens.

De qualquer forma, o governo não pretende tornar obrigatório o serviço militar para os jovens, mas todos aqueles que se voluntariarem deverão permanecer 5 anos prestando o serviço (hoje é 2) com possibilidade de engajamento no final.

O programa consistirá em parte-habilidades e parte-diploma. Aqueles que não desejam seguir a carreira militar, terão um diploma em mãos depois dos 5 anos -com capacidade de garantir um emprego facilmente na área civil-, e aqueles que desejam entrar nas forças de defesa podem adquirir postos de oficiais.

Como poderíamos imaginar, em um país de 1,366 bilhões de pessoas, a seleção de novos recrutas não deve ser um processo simples. Mas os militares indianos arrumaram uma forma de simplificá-lo, como mostra o vídeo que ilustra este artigo, gravado durante o teste de seleção no distrito de Cuddalore, em Tamil Nadu, sul do país.

O teste de aptidão física do Exército Brasileiro compreende uma corrida de 12 minutos, máximo de flexões de braços sem limite de tempo e máximo de flexões abdominais em cinco minutos. O teste físico é seguido de coleta de dados antropométricas, como peso, estatura, índice de massa corporal e percentual de gordura, além do famoso sopro no braço visando identificar qualquer hérnia insuspeita. Homens com menos 1m60 e mulheres com menos de 1m55 são dispensados no Brasil.

Tudo isso é feito homem a homem, uma impossibilidade na Índia, onde os oficiais de recrutamento precisariam de pelo menos uma semana (ou mais) para verificar todos os candidatos a recruta.

Para simplificar o processo, a cabeça dos voluntários deve alcançar ou superar uma fita esticada a 1m60 acima do chão, no teste antropométrico -é impossível não rir com os cabeludos que tentam falsear a estatura-.

O teste físico consiste de dar seis voltas em torno de uma pista, que parece um hipódromo. Se as medidas da pista foram oficiais, ela mede 4 furlongs, ou 807 metros, resultando em um total de 4.842 metros. Note que, na chegada, os primeiros colocados são dirigidos a uma "baia" especial, provavelmente por serem considerados atletas potenciais.

Aqueles que mostram bom vigor físico têm suas passagens liberadas para seguir no teste de seleção. O pelotão de retardatários, no entanto, é barrado e dispensado. Na sequência todos os aprovados anteriormente fazem 10-30 flexões na barra vertical, saltam um fosso e percorrem um ziguezague final. Como dá para perceber, milhares de rapazes fazem o teste em apenas uma noite

Como dizíamos parágrafos acima, todos são voluntários, a maioria vem de aldeias e outras áreas rurais, e, apesar de parecerem "magrelos", estes jovens são muito fortes e resistentes. Todos tem o sonho de propiciar um futuro melhor às suas famílias, como conta um tal de Jyothiss Varghese Mathew, cujo comentário traduzimos na íntegra porque é muito legal e comovente:

"Quando vi esses rapazes aqui, pude imaginar meu pai no lugar deles e sentir quanta dor e luta ele suportou para ser selecionado na Marinha da Índia como o filho mais velho de seus pais pobres e pelos nove irmãos mais jovens.

A seleção para a Marinha é quase semelhante à do Exército, então posso me relacionar facilmente com ela depois de assistir este vídeo. Quando li seu diário pessoal sobre sua jornada em um caminhão para participar do recrutamento da Marinha em Cochin, sem dinheiro nas mãos e apenas com bananas e água para sobreviver muitos dias, eu literalmente senti o coração partido por seus anos dolorosos por ter ficado longe de sua família desde muito jovem para dar a eles um futuro brilhante.

Ele costumava ser parecido comigo em sua juventude e eu podia sentir a tristeza em seu rosto em todas as suas fotos em grupo da época da Marinha, e sei que ele devia estar se sentindo muito sozinho sem seus pais e irmãos ao seu lado.

Por outro lado, joguei videogame, vagabundeei com amigos, lutei por pequenas coisas na mesma idade e ganhei uma vida luxuosa e colorida ao longo da minha vida em um ambiente melhor. E, hoje, seus irmãos e seus filhos e netos formam uma grande família espalhada pelo mundo e todos eles levando uma vida normal, mas infelizmente ninguém se lembra do meu pobre pai que uma vez embarcou naquele caminhão com grandes sonhos para dar a eles uma vida boa.

Ele expressou seu amor e afeto por seus irmãos em seus diários pessoais quando estava longe, que costumava escrever e manter como um hábito até sua morte. O que me deixa muito chateado e deprimido é que não pude fazer nada ao meu amado pai.

Se ele estivesse vivo hoje, eu teria devolvido tudo cem vezes mais durante os anos que ele sacrificou para trazer riquezas e glória para nossa família. Eu te amo, pai!