Besouros do deserto do Namibe podem nos ajudar a resolver nossos problemas de seca?

Podemos extrair água suficiente do ar para sustentar lugares afetados pela seca em todo o planeta? A resposta talvez seja sim se seguirmos o exemplo de um besouro do deserto do Namibe chamado Stenocara gracilipes, que colhe a água da névoa da manhã no árido deserto do Namibe. Para beber água, o stenocara ergue-se sobre uma pequena crista de areia com as suas patas compridas e finas. Enfrentando a brisa, com o corpo inclinado em 45°, o besouro pega gotas de névoa em suas asas endurecidas. Sua cabeça está voltada contra o vento, e suas asas externas rígidas e irregulares se espalham contra a brisa úmida.

Minúsculas gotículas de água da névoa se juntam em suas asas; ali, as gotículas grudam em saliências hidrofílicas (que amam a água), que são cercadas por calhas cerosas e hidrofóbicas. As gotas se achatam quando entram em contato com as superfícies hidrofílicas, evitando que sejam sopradas pelo vento e fornecendo uma superfície para outras gotas se fixarem.

O acúmulo continua até que o peso da gota combinado supere a atração eletrostática da água, bem como qualquer força oposta do vento; em uma brisa de 30 km/h, tal gota grudaria na asa até atingir cerca de 5 mm de diâmetro; nesse ponto, ele rolará pelas costas do besouro até o aparelho bucal.

A biomimética -imitação das melhores ideias da natureza em nosso design de materiais, estruturas e sistemas- nos inspirou a inventar e melhorar redes anti-nevoeiro, garrafas de água com enchimento automático, sistemas de irrigação de coleta de água e outras soluções.

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts emularam essa capacidade criando uma superfície texturizada que combina materiais hidrofóbicos e hidrofílicos alternados. Os usos potenciais incluem a extração da umidade do ar e a criação de janelas e espelhos sem embaçamento.

Mais recentemente, pesquisadores demonstraram que esses besouros também podem obter água do orvalho, ou seja, do ar úmido sem névoa.