Babi Yar, que então estava nos arredores da capital ucraniana e hoje faz parte da urbe, representa o ponto culminante do chamado "Holocausto das balas", o assassinato de milhões de pessoas, em sua imensa maioria judeus, mas também ciganos, prisioneiros de guerra ou resistentes, fuzilados junto a barrancos, em fossas comuns escavadas com pressa, em bosques ou em descampados perto dos núcleos urbanos.
A ONG Yahad in Unum, dirigida pelo sacerdote francês Patrick Desbois, localizou milhares de lugares de assassinato que foram apagados da memória. Ao final do conflito, quase 100.000 pessoas tinham sido assassinadas nesta ravina e um total de 1,5 milhões de judeus tinham sido exterminados na Ucrânia.
Esta matança atingiu uma escala que não igualou nenhum dos campos de extermínio em um período de tempo similar. O que as câmeras de gás ofereciam não era tanto uma forma de matar mais pessoas em apenas um dia, em comparação com os fuzilamentos, senão que um meio de fazer que o assassinato resultasse mais fácil para os assassinos.
Oitenta anos depois, a memória de Babi Yar vem sendo recuperada lentamente com uma série de esculturas recém inauguradas que recordam às vítimas, instaladas no que agora é um parque (abaixo). Durante a existência da URSS ocultou-se deliberadamente que o objetivo do massacre foram judeus.
Para os historiadores, Babi Yar figura como um dos momentos cruciais do Holocausto, quando a vontade homicida nazista deu um passo sem volta para o abismo para os judeus europeus. A maioria dos especialistas acha que durante o inverno de 1941 Hitler ordenou a chamada Solução Final, que se traduziu em 1942 na Operação Reinhard, o extermínio de 1,7 milhões de judeus poloneses em um período de três meses, e nas câmeras de gás de Auschwitz, onde foram assassinados um milhão de judeus de toda Europa. Mas, antes dos campos de extermínio, a Shoah já estava em marcha: as matanças começaram na Polônia ao princípio da guerra e aceleraram-se com a invasão da URSS, em junho de 1941. No final do verão e princípio do outono de 1941 ocorreu um ponto de inflexão.
O nível de brutalidade atingido pelos nazistas durante a invasão da URSS, com apoio de colaboradores locais, tem poucos precedentes na história. Os Einsatzgruppen chegaram a Vilna em 24 de junho de 1941, as mortes sistemáticas na cidade começaram em 4 de julho.
Em Kiev, que contava com 27% de população judia antes da guerra, nos primeiros dias da invasão pareciam tranquilos. No entanto, poucos dias depois, começaram a explodir edifícios no centro da cidade: a NKVD, a polícia política de Stalin, tinha colocado explosivos em lugares estratégicos. Os nazistas culparam os judeus e em 28 de setembro colocaram cartazes em toda a cidade os chamando a apresentar ao dia seguinte em um lugar próximo a Babi Yar, sob a ameaça de serem fuzilados se não fizessem. Não tiveram nem tempo para fugir. Uma da cada quatro vítimas do Holocausto foi assassinada em alguma ravina ucraniana.
Além deste massacre, Babi Yar foi cenário de milhares de outras execuções durante os dois anos que durou a ocupação nazista em Kiev. O número total de mortos na ravina não é exato, mas o número mais aceito, cerca de 100 mil, foi fornecido pelo cálculo de moradores obrigados a enterrar os corpos. Tempos depois, o campo de concentração de Syrets foi erguido no local e nele internados prisioneiros de guerra russos, civis comunistas e combatentes da resistência, que ali eram executados.
Quando os nazistas se retiraram de Kiev, fizeram tentativas de esconder os sinais das atrocidades cometidas durante os anos de ocupação. Entre agosto e setembro de 1943, o campo de Syrets foi parcialmente demolido e diversos corpos exumados e queimados, com as cinzas espalhadas pelas áreas vizinhas. Na noite de 29 de setembro de 1943, quando o campo estava sendo desmantelado, estourou uma revolta entre os internos e quinze deles conseguiram escapar; após retomar o controle da situação, os alemães fuzilaram os 311 sobreviventes.
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