O dia em que Carl Sagan advertiu o Congresso sobre Mudança Climática, em 1985

- "Sem as mudanças climáticas, não poderíamos habitar a Terra como fazemos hoje. O efeito estufa, pelo qual os gases na atmosfera de um planeta aumentam o calor da superfície desse planeta, torna possível a vida na Terra." É o que diz Carl Sagan no vídeo que ilustra este post. Ele acrescenta que, sem ele, a temperatura seria cerca de 30 graus centígrados mais fria: - "Isso é bem abaixo do ponto de congelamento da água em todo o planeta. Os oceanos seriam sólidos."

Um pouco da mudança climática induzida pelo efeito estufa, então, é uma coisa boa, mas aqui estamos despejando enormes quantidades de CO² e esses outros gases na atmosfera todos os anos, quase sem nenhuma preocupação com seu longo prazo e consequências globais, continua Carl.

É justo dizer que o nível de preocupação aumentou desde que Carl pronunciou essas palavras em 1985, quando "mudança climática" ainda não era um termo familiar. Mas mesmo assim, sua audiência era o Congresso americano, e seu discurso de quinze minutos continua sendo um caso sucinto e persuasivo para mais pesquisas sobre o fenômeno, bem como estratégias e ações para mitigá-lo.

O público não esperaria menos de Sagan, que apenas cinco anos antes apresentara a série de sucesso "Cosmos", baseada em seu livro de mesmo nome. Sua transmissão tornou contagiante seu entusiasmo pela investigação científica em geral e pela natureza dos planetas em particular. Quem poderia esquecer, por exemplo, sua introdução ao "lugar totalmente desagradável" que é Vênus, pesquisa sobre cuja atmosfera Sagan havia conduzido no início dos anos 1960?

- "Vênus é o planeta mais próximo - um planeta com aproximadamente a mesma massa, raio e densidade da Terra, mas tem uma temperatura de superfície de cerca de 470 graus centígrados", disse Sagan ao Congresso. - "O motivo? Um enorme efeito estufa no qual o dióxido de carbono desempenha o papel principal."

Quanto ao nosso planeta, Sagan já sabia que as estimativas sustentavam que, sem mudanças nas taxas de queima de combustível fóssil e gases de absorção de infravermelho liberados na atmosfera, haveria um aumento de temperatura de vários graus centígrados em média pelo meados até o final do próximo século.

- "Dados os efeitos potenciais de tal aumento, se não fizermos a coisa certa agora, haverá problemas muito sérios que nossos filhos e netos terão que enfrentar", alertou o físico faz 36 anos.

É impossível saber quantos ouvintes essas palavras convenceram na época, embora certamente pareçam calado fundo em um jovem senador na sala chamado Al Gore.