Por muitos anos alguns cientistas estudaram uma forma de invisibilidade conhecida como cegueira por desatenção ou cegueira perceptiva, que não tem nenhuma relação com quaisquer defeitos ou déficits de visão. Em 1999, na demonstração mais conhecida, o cientista cognitivo Daniel Simons mostrou às pessoas um vídeo e pediu que contassem quantas vezes três jogadores de basquete vestindo camisa branca passaram uma bola. Se você não conhece a experiência, pode experimentá-la agora em primeira mão no primeiro vídeo deste post. |
Então, quantas vezes os jogadores de camisas brancas passam a bola no seguinte vídeo? Mas tem que ser o número exato de passes que são feitos entre eles?
Na experiência original 50% dos espectadores não viram uma pessoa fantasiada de gorila passar pelo vídeo. Se você foi um deles, reveja o vídeo e note que após 30 segundos, uma mulher vestida de gorila entrou em cena, olhou para a câmera, bateu no peito e foi embora.
Esse vídeo foi uma sensação na Internet naquele ano. Então, em 2010, Simons decidiu fazer uma sequência. Desta vez, os telespectadores já esperavam que o gorila aparecesse, mas ainda assim deviam contar quantos passes de bola foram feitos. E assim foi.
Mas os telespectadores estavam tão focados em observar o gorila enquanto contavam os passes que negligenciaram outros eventos inesperados, como a cortina ao fundo mudando de cor ou a falta de um jogador de camisa preta.
Como eles poderiam perder algo bem diante de seus olhos? Essa forma de invisibilidade não depende dos limites do olho, mas dos limites da mente. Conscientemente, vemos apenas um pequeno subconjunto de nosso mundo visual e, quando nossa atenção está focada em uma coisa, deixamos de notar outras coisas inesperadas ao nosso redor, incluindo aquelas que podemos querer ver.
Considere, por exemplo, o famoso incidente de 1995, conhecido como "a surra de Michael Cox", em que a polícia estava perseguindo quatro suspeitos que fugiam do local de um tiroteio.
Depois de encurralar os suspeitos, o primeiro policial a chegar, Michael Cox, à paisana perseguiu um deles a pé. Outros policiais que chegaram ao local erroneamente pensaram que Cox era um suspeito e o espancaram. Enquanto isso, outro oficial, Kenny Conley, começou a perseguir o mesmo suspeito e passou direto pela altercação. Conley alegou não ter visto Cox ou seus agressores e foi condenado por perjúrio e obstrução da justiça.
A condenação de Conley levantou uma questão legal intrigante: uma testemunha ocular poderia realmente deixar de notar uma agressão como essa? No ano passado, Simons e o professor de psicologia Christopher Chabris decidimos colocar o álibi de Conley à prova. Embora não pudessem simular uma perseguição policial em alta velocidade, conseguiram extrair o elemento mais crítico: o foco de Conley em perseguir um suspeito.
Nesse outro experimento, pediram aos participantes que corressem atrás de um assistente e contassem o número de vezes que ele tocou seu chapéu. Enquanto corriam, eles passaram por uma luta encenada em que dois homens pareciam estar surram um terceiro. Mesmo em plena luz do dia, mais de 40% não viram a briga. À noite, 65% não perceberam. À luz de tais dados, a declaração de Conley de que ele nem mesmo viu Cox ou seus agressores era plausível.
Na verdade, a maioria de nós não tem consciência dos limites de nossa atenção e é aí que reside o perigo real. Por exemplo, podemos falar ao telefone e dirigir porque estamos erroneamente convencidos de que notaríamos um evento repentino, como um carro parando na nossa frente.
A cegueira perceptiva tem um lado positivo, no entanto. Nossa habilidade de ignorar distrações ao nosso redor nos permite manter nosso foco.
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