Craco, um povoado fantasma italiano

Não é incomum que na atualidade encontremos pequenos povoados italianos em ruínas, clamando por novos moradores com promessas vazias de vendas de propriedades a 1 euro, quando as reformas dessas mesmas propriedades podem custar uma pequena fortuna. Pois bem, o país transalpino tem outro povoado de aspecto decadente em Basilicata, na província de Matera, no sul. Até o nome é estranho: Craco. Mas há duas diferenças. Em primeiro lugar, Craco, construída sobre uma colina de pedra e argila, não está a venda. Em segundo lugar, e em estreita relação com o anterior, trata-se de uma cidade fantasma, completamente desabitada.

A pouca consistência do terreno e a forte atividade sísmica da região originada por uma falha provocaram graves deslizamentos de terra, em 1963, que obrigaram os moradores a abandonarem o vilarejo em 1975. O deslizamento foi causado principalmente por vazamentos de redes de água e esgoto e pelo crescimento urbano do século XX.

No início dos anos noventa foram embora os últimos que ainda restavam. Em 2006, as autoridades lançaram um plano de revitalizar e restaurar o centro antigo para fins recreativos, turísticos e culturais, mas o projeto não saiu da gaveta.

De modo que hoje é possível percorrer suas solitárias ruas, contemplar as casas e igrejas em ruínas e a orgulhosa torre do castelo coroando o conjunto, sobressaindo sobre os maltratados telhados das moradias como querendo se descolar ainda mais do solo. Digo ainda mais porque o povoado já está localizado a uns 400 metros de altitude, dominando o meio.

O traçado urbano é do século XVI, ainda que já tinha assentamentos humanos faz 3 milênios. Cidade romana primeiro, como Graculum, colônia normanda e sueva depois, entre a Baixa Idade Média e o Renascimento foi repartida entre importantes famílias da região.

Ao final, a Natureza ganhou o braço de ferro com o Homem e, para sublinhar sua vitória, tinge as paredes que ainda seguem em pé do mesmo tom ocre empoeirado e seco que há na paisagem circundante, mimetizando ambos. O conjunto iconográfico foi utilizado por Mel Gibson para rodar algumas cenas da "Paixão de Cristo", de 2004.