Quando Auguste Mariette descobriu o Serapeu de Saqqara em 1851 encontrou em seu interior numerosos objetos. Entre eles tinha uma estátua hoje conhecida como "o escriba sentado" e que representava um alto servidor público egípcio. Naquele momento esta escultura se destacava por seu notável realismo, que contrastava com o hieratismo com o qual se representava os faraós e os deuses. Auguste ficou no Egito como o primeiro Conservador de Monumentos, cargo criado pelo governo expressamente para ele em 1858, e em 1863 criou o Museu do Cairo com o fim de proteger as jazidas arqueológicos e deter a saída descontrolada de peças. |
Durante todo esse tempo seguiu realizando escavações e, uma delas voltaria a deparar outra surpresa no campo da escultura. Em 1860 enquanto escavava uma mastaba na necrópole de Saqqara, ao norte da pirâmide escalonada de Zoser, desenterrou uma excepcional escultura.
Os trabalhadores egípcios em seguida deram-se conta do caráter único da descoberta e, impressionados por seu realismo denominaram-no Cheik-O-Beled (em árabe o "chefe do povo", isto é, o prefeito), possivelmente porque lhes recordava alguém de sua localidade.
Em realidade representa Kaaper, um nobre egípcio que viveu no final da IV ou princípio da V dinastia (cerca de 2500 a.C.), e a mastaba -hoje denominada mastaba Kaaper ou Saqqara C8- era o lugar de enterro de sua família, já que também acharam outra escultura da sua suposta esposa ainda que ninguém saiba seu nome.
Estátua da esposa de Kaaper (à esquerda) cujo nome é desconhecido.
Kaaper era o chefe dos sacerdotes leitores (kher-heb), aqueles cuja missão era a leitura e recitação dos textos religiosos e os hinos sagrados durante os rituais do templo e cerimônias oficiais. Mas também ostentava o cargo de governador do Baixo Egito e escriba do exército real durante o reinado do faraó Userkaf, o primeiro da V Dinastia.
Desde 1914 sabe-se que era neto da princesa e sacerdotisa Wenschet, porque junto ao nome de seus filhos e filhas aparece o de Kaaper na porta falsa de sua tumba na necrópoles de Guiza, descoberta nesse ano por George Reisner.
A escultura é feita de madeira de figueira-doida (Ficus sycomorus), cobre, alabastro, vidro de rocha e obsidiana. Tem uma altura de 1,12 metros, o que é quase de tamanho natural. O sacerdote é representado com um grande barriga, cintura larga e rugas carnosas nas costas, caminhando e sustentando em sua mão esquerda a bengala que simboliza seu poder -substituído por uma cópia na atualidade-, e na direita provavelmente um cilindro.
Kaaper uma saia longa amarrada abaixo do umbigo, provavelmente do tipo que os nobres usavam quando estavam em casa, em vez das saias semi-dobradas reservadas para seu cargo. Seu cabelo curto sublinha as linhas redondas da cabeça e o rosto e funde-se com a opulência da imagem geral.
Diferente das estátuas de pedra, nas quais a figura nunca se desprende completamente do material do que foram talhadas, a estátua de madeira é independente. Não tem suporte para as costas e suas extremidades não estão unidas ao material original, senão que foram talhadas por separado e depois unidas à figura.
O surpreendente realismo da estátua acentua-se graças aos olhos, feitos usando quartzo e pequenas placas de cobre. O fato de que tenha sido representado com um certo grau de obesidade, algo habitual em outras representações da mesma época, pode ser devido segundo Fred S. Kleiner ao desejo de demonstrar a vida acomodada da pessoa e sua relativamente alta posição na sociedade.
O fato de que se tenha conservado sendo a madeira um material perecível pode ser porque estava originalmente coberta com uma delicada capa de gesso pintado, da qual só ficam alguns restos. Hoje pode ser visto, exposta permanentemente, no Museu Egípcio do Cairo.
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