Uma jornalista russa que interrompeu um noticiário ao vivo para protestar contra a invasão a Ucrânia no canal de televisão mais popular do país está sendo julgada e pode ser condenada a 10 dias de prisão, informou nesta terça-feira um tribunal russo. Marina Ovsyannikova foi detida depois de irromper nesta segunda-feira no estúdio do Canal Um da televisão estatal russa ao vivo. Ela está sendo julgada por um delito administrativo pela violação das normas sobre a organização de um evento público não autorizado no tribunal de distrito de Ostankinskiy. |
A jornalista está sendo assistida por Pavel Chikov, um advogado de direitos humanos, que publicou uma foto (abaixo) junto a ela depois que mais cedo tinha denunciado que sua cliente havia sido detida e não conhecia seu paradeiro.
Quando a apresentadora de notícias Yekaterina Andreyeva lançou uma nota sobre as relações com a Bielorrússia, Marina, que vestia um traje formal escuro, apareceu de repente, sustentando um cartaz escrito a mão que dizia "Não à guerra" em inglês.
Abaixo, o cartaz dizia em russo: "Parem a guerra. Não creiam na propaganda. Aqui estão mentindo". Estava assinado em inglês: "Russos contra a guerra".
A manifestante conseguiu dizer algumas frases em russo, entre elas "Alto à guerra!", enquanto Yekaterina, que apresenta o jornal desde 1998, tentou encobrir o protesto falando mais forte. De repente a transmissão é interrompida e mostra um hospital.
O incidente foi uma violação de segurança muito incomum na emissora estatal Canal Um, estritamente controlada. Seu programa de notícias no horário nobre, chamado "Time", é transmitido desde a era soviética e é visto por milhões em todo o país, em particular pelos russos idosos.
o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, descreveu o protesto de Marina como "vandalismo" na terça-feira pela manhã, elogiando o Canal Um pelo que chamou sua programação de qualidade, objetiva e oportuna. Por sua vez, o presidente ucraniano Volodymir Zelensky celebrou o gesto de Marina durante seu discurso noturno.
- "Estou agradecido com os russos que não deixam de tentar transmitir a verdade. Aos que lutam contra a desinformação e dizem a verdade, os fatos reais a seus amigos e seres queridos", disse Zelensky. - "E pessoalmente à mulher que entrou no estúdio de Canal Um com um cartaz contra a guerra."
Os russos que descrevam a invasão como uma guerra ou publiquem o que o Kremlin descreveu como informação "falsa" podem enfrentar até 15 anos de prisão. Segundo os especialistas, Marina poderia enfrentar acusações segundo a lei e ser condenada entre três e 15 anos de prisão. No entanto, segundo seu advogado, ela está sendo julgada em um processo administrativo por "organização de evento público descoordenado". Isto significa que ela pode pegar no máximo 10 dias de cadeia, em vez de ser acusada pela nova lei contra desinformação no país, que pode render sentenças de até 15 anos.
Numerosos meios de comunicação foram fechados após cobrir negativamente a guerra e muitos jornalistas foram obrigados a fugir do país com medo de serem obrigados a tomar novichok.
A televisão estatal é a principal fonte de notícias para milhões em Rússia e transmite exata e estritamente aquilo que o Kremlin mande, por exemplo, de que o país se viu obrigado a invadir a Ucrânia.
OVD-Info, um grupo que monitora as detenções nos protestos da oposição, disse que Marina trabalha no Canal Um como editora. A ONG também publicou um vídeo onde Marina diz que seu pai é ucraniano e sua mãe é russa e que não vê os outros países como inimigos.
- "Infelizmente, nos últimos anos trabalhei no Canal Um, fazendo propaganda para o Putin e agora estou muito envergonhada disto", disse Marina. - "Envergonho-me de ter permitido que dissessem mentiras na televisão. Envergonha-me ter permitido que os russos fossem zumbificados", agregou.
Ela diz que o canal vem fazendo propaganda e se mantendo em silêncio sobre as reais notícias de 2014 quando tudo isto começou, aparentemente se referindo à tomada de Crimeia por parte de Moscou e ao apoio aos separatistas da Ucrânia.
- "Não fomos aos protestos quando Putin mandou envenenar Alexei Navalny. Simplesmente observamos em silêncio este regime anti-humano. E agora o mundo inteiro se afastou de nós."
Rússia bloqueou ou limitou as populares plataformas de redes sociais Facebook, Twitter e Instagram, todas as quais foram amplamente utilizadas para fazer declarações políticas.
O videoclipe do incidente se espalhou rapidamente nas redes sociais, e já foi visto por quase 9 milhões de pessoas. Muitos usuários renderam homenagem à "extraordinária coragem" da mulher em um contexto de forte repressão contra a oposição.
Desde o início da invasão na Ucrânia em 24 de fevereiro, quase 10 mil manifestantes já foram presos na Rússia.
Leonid Volkov, próximo a Navalny, o líder opositor detido desde o ano passado depois de sobreviver a um envenenamento, tuitou que seu movimento está disposto a pagar qualquer fiança imposta a Marina.
Atualização: Um juiz do tribunal do distrito de Ostankinsky de Moscou acabou de ordenar que Marina Ovsyannikova pague uma multa de 30.000 rublos (1.446 reais) após irromper o estúdio do noticiário mais visto da Rússia. Ela foi solta, mas seu advogado advertiu que ainda poderiam apresentar acusações contra ela com uma pena de até 15 anos de prisão.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários