O desafio nos climas árticos e subárticos é que os elementos são mais extremos e os invernos são muito mais longos, de modo que o acesso ao cultivo de frutas e vegetais é praticamente impossível. A única forma de fazê-lo seria em grandes estufas. Exatamente por isso a pesca e a caça são as principais fontes de alimento na Iacútia. Por isso a maioria das vilas realiza um festival de pesca anual chamado munkha, a tradicional pesca no gelo usando uma rede de arrasto onde toda a comunidade se reúne para participar. A atividade rende peixe o bastante para alimentar toda a vila durante o inverno. |
O munkha começou como uma atividade necessária em que apenas os homens participavam. A necessidade permanece hoje aliada a um festival que exige muito esforço e trabalho em equipe na pesca da carpa cruciana (Carassius carassius),mais conhecida no Brasil como pimpão.
Os preparativos para a pesca começam com antecedência, e o próprio processo é um feriado, que envolve quase toda a população da vila. A tradição de celebrar a pesca com todos vem desde tempos imemoriais.
A pesca no gelo é um negócio trabalhoso, requer o trabalho síncrono e bem coordenado de muitas pessoas. À frente de cada brigada (15-20 pessoas) está um "senhor", geralmente idoso e respeitado por todos, que conhece bem a área e é especialista no munkha. Ele, agindo por intuição, indica os locais onde é necessário fazer aberturas de acordo com a profundidade e topografia do fundo do lago e a presença de algas nele.
Enquanto a rede está em movimento debaixo do lago, uma brigada separada faz barulho e grita, batendo no gelo com uma vara, para levar os peixe para a rede. Muitas vezes acontece que a rede se depara com um obstáculo ou galhos, então é preciso retirá-la e repetir tudo de novo. Claro, a captura nem sempre é bem sucedida. Tudo depende do tamanho e da topografia do lago e, claro, da habilidade dos pescadores.
A propósito, quando, antes do início da munkha, aparece um corvo ou mais corvos, isso é considerado um bom presságio, já que os pássaros sabem que não ficarão sem comida. Mas quando uma mulher pisa nas redes ou um pescador infeliz joga um picador de gelo na água, não espere uma boa pescaria.
Como podemos ver no vídeo acima, o resultado deste ano foi ótimo e os locais terão comida suficiente para sobreviver ao longo e frio inverno. E o mais importante, há uma regra implícita: a pesca é compartilhada com todos os moradores, mesmo aqueles que não participaram. Essa tradição vem desde tempos imemoriais, quando pessoas que por um motivo ou outro não podiam pescar -idosos, doentes, deficientes, etc.- vinham assistir ao processo, mas depois do fim levavam carpas frescas para casa.
Estas vilas geralmente mantém uma série de lagos com peixes. O mostrado no vídeo, por exemplo, deverá ficar sem atividade pesqueira por pelo menos três anos. Uma forma de não perturbar o equilíbrio ecológico do lago e permitir a formação e crescimento de novos cardumes.
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