A visão é a principal maneira pela qual os humanos sentem o mundo, então o que acontece quando você de repente tira a visão? Em 2004, pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard descobriram. Alvaro Pascual-Leone, professor de neurologia, liderou uma equipe que vendou treze adultos jovens saudáveis por 96 horas seguidas. Durante esse período, como parte de um estudo mais amplo, os participantes aprenderam Braille por quatro horas por dia, envolvidos em atividades de estimulação tátil como quebra-cabeças e modelagem em argila e fizeram exames cerebrais diários. |
Os voluntários viveram suas vidas normalmente: tomaram banho, se vestiram, comeram, foram para a academia, tudo na escuridão total e entorpecedora.
- "Uma venda especialmente projetada foi usada para impedir toda a percepção da luz", descreveram os pesquisadores. - "Ela foi mantida no lugar por uma tira de velcro e ainda presa por bandagens. A venda permiti o movimento total dos olhos, bem como a abertura e fechamento das pálpebras. A manipulação potencial da venda pelos sujeitos foi controlada com o uso de uma peça de papel fotográfico colado na parte interna da venda."
Durante seu tempo privado de visão, os voluntários documentaram seus pensamentos, sentimentos e percepções com um gravador de áudio. Os pesquisadores ficaram surpresos quando ouviram as gravações e descobriram o que os participantes experimentaram.
Dez dos treze testemunharam alucinações visuais repentinas e incontroláveis que geralmente começavam entre o primeiro e o segundo dia. Uma mulher de 29 anos viu um rosto verde aterrorizante com olhos grandes quando estava na frente do que ela sabia ser um espelho.
Um homem de 24 anos viu espelhos, lâmpadas, árvores e paisagens cheias e brilhantes. Uma mulher de 24 anos viu uma mancha de luz "na forma exata de Elvis Presley". Um homem de 23 anos testemunhou contornos de peças de quebra-cabeça em movimento que "se deformaram em outras formas amorfas".
Uma mulher de 20 anos relatou ter visto uma borboleta que se tornou um pôr do sol, uma lontra e, finalmente, uma flor. Ela também relatou ter visto "cidades, céus, caleidoscópios, leões e pores do sol". A grande maioria dos sujeitos que alucinaram também viu luzes piscando em vários momentos.
Todas as alucinações ocorreram quando os voluntários estavam acordados. A venda dos olhos não parecia afetar seu sono nem seus sonhos. Na verdade, Pascual-Leone não ficou surpreso ao ouvir as vívidas alucinações.
- "Isso é o que o cérebro faz. Ele inventa histórias, evoca imagens. Nosso cérebro brinca conosco continuamente", disse ele, que ficou mais surpreso, no entanto, com os resultados dos exames cerebrais dos participantes.
- "No segundo dia, os exames mostraram que os cérebros dos voluntários já estavam começando a mudar. No quinto dia, o toque com as mãos estava estimulando o córtex visual do cérebro", descreveu. Ou seja, o cérebro estava aprendendo a confiar mais no toque do que na visão.
Ele supõe que as conexões já deveriam estar lá e que o experimento simplesmente as desmascarou, evidência não apenas a favor de uma neuroplasticidade excepcional, mas de uma maneira totalmente nova de olhar para o cérebro. O que os neurocientistas chamaram de córtex visual no século passado parece não ser dedicado exclusivamente aos olhos. Talvez ele possa ser definido com mais precisão como a área do cérebro mais capaz de discriminar relações espaciais e que usará qualquer entrada sensorial relevante.
Esta é mais uma evidência de que a função abrangente do cérebro é interpretar a realidade, e ele se reorganizará rapidamente para atingir esse objetivo, não importa de onde venha a informação externa, seja visão, som ou toque.
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