China propõe substituir o dólar como divisa de reserva para acalmar os mercados

O culpado da crise internacional é o dólar. Ao menos isso é o que parece que pensam na China, país que ontem, através do presidente de seu Banco Central, pediu que substituam o dólar como moeda de referência internacional e que adotem uma nova divisa de reserva.

Para isso, propôs usar uma nova moeda de referência que seja controlada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim, sustentam será possível estabilizar o clima financeiro e monetário mundial e Beijing poderá proteger suas gigantescas reservas cambiais.

A proposta foi apresentada pelo presidente do Banco do Povo da China, Zhu Xiaochuan, e reflete a intenção de Beijing por incidir nos assuntos econômicos internacionais, deslocando os países ocidentais.

Ainda que o ensaio de Zhou não mencione diretamente o dólar, ele expressou que a crise internacional expôs os perigos de apoiar o sistema mundial de pagamentos numa moeda de um só país, em clara referência à moeda dos Estados Unidos.

Numa decisão inusitada, o ensaio foi publicado em chinês e inglês, o que revela que estava dirigido à comunidade internacional.

Uma divisa de reserva é a unidade monetária na qual um governo tem suas reservas internacionais. Mas Zhou disse que a eventual nova moeda deveria ser utilizada para o comércio, o investimento, a avaliação de matérias primas e a contabilidade de empresas.

Beijing sempre se mostrou reticente à dependência do dólar para grande parte de seu comércio internacional e de acumular divisas estrangeiras. O premiê Wen Jiabao apelou publicamente a Washington neste mês para que evite adotar medidas, em resposta à crise econômica global, que possam minar o valor do dólar e consequentemente o bilhão em bônus do tesouro dos EUA pertencente a Beijing, bem como outras dívidas do governo estadunidense.

O dirigente chinês sugeriu utilizar o SDR (Special Drawing Rights ou Direito de Saque Especial, do FMI) como uma divisa de reserva supra soberana, que não sofreria influências de decisões políticas de nenhum país em particular.

O FMI criou o SDR como um ativo de reserva internacional em 1969, mas é usado só pelos 185 governos dos Estados membros do Fundo e instituições internacionais.

Rapidamente, os Estados Unidos responderam a China e defenderam o uso do dólar como uma divisa global chave. Tanto o presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, como o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, disseram que não permitirão (?) que a moeda de seu país seja despojada de seu status de referência como sugeriu Beijing.

O número dois do FMI John Lipsky, qualificou na terça-feira de "séria" a proposta chinesa, ainda que considerou-a de aplicação em longo prazo. "É uma ideia que não é nova, mas é uma proposta séria", disse em uma conferência de imprensa, agregando no entanto "...que não pensa que seja uma questão urgente, senão uma questão de longo prazo, que merece ser estudada e examinada seriamente".