O mistério irresoluto dos dodecaedros romanos

É seguro dizer que existem segredos da antiga civilização romana que mesmo uma vida inteira de escrutínio não nos revelará. No entanto, historiadores e arqueólogos continuam sua busca, descobrindo com frequência artefatos que são ao mesmo tempo desconcertantes e reveladores. Um desses objetos é o dodecaedro romano. O objeto oco é um enigma de bronze com uma forma decaédrica de doze faces pentagonais planas. Sua presença na Europa central não revela nada de seu propósito. Mas existem algumas hipóteses que foram levantadas desde sua primeira descoberta, há mais de 300 anos.

O primeiro dodecaedro foi descoberto em 1739 por um historiador local em Aston, Hertfordshire, ao longo do interior da Inglaterra. Em seu relatório para a Sociedade de Antiquários, ele descreveu o objeto como "uma peça de liga de metal, ou latão antigo, consistindo de 12 lados iguais".

A estranha descoberta deixou todos os antiquários com o cenho arqueado, mas ainda havia mais a caminho. Cada objeto descoberto posteriormente era diferente em tamanho e construção. A maioria dos dodecaedros variam entre quatro e onze centímetros de tamanho e 35 e 580 gramas de peso. Cada superfície pentagonal contém um buraco, mas os tamanhos desses buracos quase sempre variam, dentro de um único dodecaedro, bem como entre vários. Cada um dos cinco vértices tem um botão globular. Menor que uma bola de tênis, o objeto parece mais um dado interessante.

Em 2016, 116 pedaços de dodecaedros foram desenterrados na atual Bélgica, Croácia, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Hungria, Luxemburgo, Holanda e Suíça. A descoberta mais ao norte foi feita na Muralha de Adriano, no norte da Grã-Bretanha. A mais meridional foi em Arles, na França.

Uma única amostra feita de prata foi encontrada em Genebra. Curiosamente, nenhum dodecaedro existe no império romano oriental, tanto quanto sabemos. Aqueles encontrados na região ocidental datam do segundo, terceiro e quarto século d.C. A aleatoriedade de suas localizações, bem como a falta de contexto escrito, deixou os historiadores ainda mais perplexos.

Em 1987, um homem chamado Brian Campbell descobriu um dodecaedro em seu quintal. Outros foram desenterrados em campos militares romanos, templos e banheiros públicos. Alguns apareceram em teatros e tumbas, alguns entre montes de moedas descartadas. Muitos historiadores também encontraram esses objetos em antiquários, o que dificultou o rastreamento de sua origem.

A maioria era adornada com desenhos e padrões, mas nunca letras ou números que pudessem nos indicar seu uso. Nenhuma menção ao objeto foi encontrada em textos romanos, e o solo escavado ao redor dos objetos também se recusa a revelar a verdade.

Apenas dois dodecaedros foram encontrados em escavações científicas controladas. Um desses sites era possivelmente uma loja que vendia mercadorias de metal precioso, confirmando a probabilidade de que o objeto estranho fosse precioso.

Mais de 200 historiadores propuseram mais de 50 possíveis usos do dodecaedro romano. Uma suposição datada é que o objeto era uma arma semelhante a uma maça. Mais recentemente, os historiadores estão chamando-o de dispositivo de medição. O argumento é explicado imaginando um soldado olhando para um objeto a poucos metros de distância através do dodecaedro. Supondo que o comprimento do objeto se encaixe no diâmetro do círculo, o que isso nos diz sobre a distância do objeto?

Os dodecaedros surgem principalmente nas terras galo-romanas, onde a civilização romana se sobrepôs à civilização celta. Nesse contexto, os 12 lados pentagonais podem ter relevância cósmica. Adivinhação e astrologia teriam sido quase impossíveis com o dispositivo, pois os botões tornariam impossível rolar e as paredes não possuem inscrições para decifrar como tal.

É possível que eles tenham sido usados para cálculos astronômicos com o sol brilhando através dos buracos em vários momentos do dia. A pesquisadora holandesa Sjra Wagemans o comparou ao icosaedro, um poliedro convexo de 20 faces, que serviu a um propósito semelhante.

G.M.C. Wagemans provou através de várias estimativas que alguns dodecaedros poderiam ser usados para determinar a melhor época para plantar grãos de inverno no norte da Europa. Há quem sugira que dodecaedro era inclusive um artefato para realizar bordados intrincados.

Restos de cera foram encontrados presos a vários dodecaedros. Isso poderia aludir ao seu uso como castiçais? Provavelmente não, porque os restos podem ser dos moldes de seus fabricantes. Além disso, um objeto comum, como um castiçal, deveria ser descoberto em regiões mais comuns, como a Itália. Mas nossos dodecaedros permaneceram indescritíveis na maioria das regiões do antigo império.

Outros grupos esotéricos e lobistas sugeriram usos criativos para o objeto, do crochê à decoração. Mas nenhum deles tem muita firmeza em seus argumentos. Seria um brinquedo? Parece se encaixar no popular jogo francês, o chamado bilboquet (biloquê).

A suposição final alega que o objeto era sagrado e importante para a prática religiosa. O dodecaedro encontrado na Caverna de Zeus, em Creta, era feito de cristal de rocha, e em suas doze faces encontramos caracteres gregos em vez de buracos. Algumas pessoas chegaram ao ponto de sugerir que o pequeno objeto oco era usado como um amuleto ou carregado em bolsas.

Apesar do tesouro de conhecimento à nossa disposição, os homens modernos acharam difícil determinar qual era o uso e a proeminência desse artefato de 2.000 anos. Talvez, em algum momento, um escrutínio mais profundo e uma imaginação livre revelem os segredos dessa bolinha que se tornou um dos maiores mistérios da arqueologia.