Como bichos-da-seda em cativeiro planejam involuntariamente sua própria morte

Bombyx mori, a mariposa da seda doméstica, é a parente mais próxima da Bombyx mandarina. Sua larva ou lagarta, o bicho-da-seda, é um inseto economicamente importante, sendo um produtor primário de seda. As mariposas da seda domésticas são inteiramente dependentes dos humanos para reprodução, como resultado de milênios de reprodução seletiva. Mariposas de seda selvagens (outras espécies de Bombyx) não são tão comercialmente viáveis na produção da seda porque seu casulo é normalmente pequeno e com lesões.

Bombyx mori.

A sericultura, a prática de criar bichos-da-seda para a produção de seda crua, está em andamento há pelo menos 5.000 anos na China, de onde se espalhou para a Índia, Coréia, Nepal, Japão e Ocidente. A mariposa da seda doméstica foi domesticada a partir da mariposa da seda selvagem, autóctone no norte da Índia ao norte da China, Coréia, Japão e regiões do extremo leste da Rússia.

É improvável que as mariposas da seda tenham sido criadas domesticamente antes da Era Neolítica. Antes disso, as ferramentas para fiar quantidades de seda não haviam ainda sido desenvolvidas. A mariposa domesticada e a selvagem ainda podem se reproduzir entre si e às vezes produzem híbridos.

As mariposas domésticas são muito diferentes da maioria dos membros do gênero Bombyx. Por exemplo, a espécie doméstica, em comparação com a selvagem, aumentou o tamanho do casulo e do corpo, maior taxa de crescimento e eficiência em sua digestão. Ganhou tolerância à presença e manuseio de humanos, e também a viver em condições de superlotação nas colônias.

Bombyx mandarina.

As mariposas domésticas perderam sua capacidade de voar, então os machos precisam de ajuda humana para encontrar uma companheira, e não têm medo de predadores em potencial, porque simplesmente não conhecem um. Os pigmentos de cor nativos também foram perdidos, então as mariposas domésticas são leucísticas, já que a camuflagem não é necessária quando elas vivem apenas em cativeiro.

Essas mudanças tornaram o Bombyx mori inteiramente dependente dos humanos para sobreviver, e não existem na natureza. Os ovos são mantidos em incubadoras para ajudar na eclosão.

Lesley McClurg, da série KQED Deep Look, explica no vídeo que ilustra este post como os bichos-da-seda em cativeiro involuntariamente tramam sua própria morte coletiva, fazendo o que é mais natural para eles. O casulo do bicho-da-seda é feito de um pedaço incrivelmente longo de fibra de seda. Se a lagarta se transformasse em mariposa, aquele único fio do casulo estaria quebrado e inutilizável.

Para a maioria dos bichos-da-seda em cativeiro, é aqui que sua jornada termina. Para preservar a integridade do fio de seda contínuo em cada casulo, os produtores de seda matam a pupa dentro da crisálida por fervura, vapor ou calor.

Bombyx mori versus Bombyx mandarina.

Em seguida, os fios são desmembrados em água quente e desenrolados à mão usando fiandeiras especializadas e ferramentas de coleta de seda. Esta seda crua é então reunida em grandes carretéis e refinada em fios comercialmente valiosos. Pode ser necessário até 2.000 bichos-da-seda para fazer um vestido adulto.

Apesar do fim prematuro da maioria dos bichos-da-seda, algumas pupas sortudas podem continuar se desenvolvendo e se tornam mariposas, para que possam gerar a próxima geração, mas será necessário que uma mão humana coloque o macho ao lado da fêmea. Depois de séculos sob nossa vigilância, esses tecelões diligentes não durariam muito na natureza. Eles mal podem se mover.

Apesar de tudo isso, a seda continua popular, e não apenas na indústria da moda. Hoje, a indústria da seda é avaliada em mais de US$ 10 bilhões em todo o mundo, mas é mais do que apenas um item de luxo. A seda é quilo por quilo mais forte que o aço, e agora é usada na medicina para curar ossos e tendões.

Nosso caso de amor de cinco mil anos com esse material extraordinário continua mantendo os bichos-da-seda em cativeiro, até aprendermos a fiar a seda melhor do que eles.