Em 1967, a Gyro Transport Systems, com sede no estado americano da Califórnia, construiu um protótipo de veículo conhecido como Gyro-X. O automóvel tinha apenas duas rodas, uma na frente e outra atrás e, como o nome do carro indica, utilizava um giroscópio embutido para permanecer na posição vertical quando não se movia. Embora seus desenvolvedores esperassem levar o Gyro-X à produção, apostando que ele seria o futuro dos transportes, a empresa faliu e o único espécime do carro ficou órfão. O design do Gyro-X de assento único foi criado pelo renomado designer industrial Alex Tremulis, contratado pela então Gyrocar. |
Ele já havia projetado veículos -a variedade de quatro rodas- para vária empresas como Cord Automobile, Duesenberg, General Motors, Tucker Car Corporation e Ford, onde trabalhou como chefe de estilo avançado e criou uma série de carros-conceito que encapsulam o que os americanos na década de 1950 esperavam do futuro. Entre eles estava o Gyronaut mais uma moto do que um carro, que estabeleceu um recorde de velocidade em terra de 395 km/h em 1966.
Na verdade a ideia do carro foi do especialista em giroscópios Tom Summers, que desenvolveu tecnologia giroscópica para navegação de mísseis durante a Segunda Guerra Mundial e instrumentos de aeronaves nos anos do pós-guerra. Em 1966, ele levou Alex para sua companhia Gyrocar -depois renomeada para Gyro Transport Systems- e levantou US$ 750.000 (cerca de uns US$ 6 milhões hoje).
O discurso deles para os investidores foi mais ou menos assim: use um giroscópio, dentro do qual uma roda gira em um eixo, deslocando o peso para manter o carro na posição vertical. O Gyro-X, com dois assentos, um atrás do outro, poderia ser mais leve e estreito do que um carro de quatro rodas e, portanto, mais eficiente. Com um motor de 80 cavalos de potência relativamente insignificante, ele atingiria 201 km/h e faria curvas de 40 graus sem tombar, sem necessidade de habilidades de motociclista.
Simplesmente tornando todos os carros tão finos, os dois imaginaram que seria possível dobrar a capacidade da estrada, daí o motivo de "venderem" o Gyro-X como "o carro do futuro". Mas se você esteve do lado de fora em qualquer momento no último meio século, você sabe que a gangue do giroscópio não deu muito certo. Alex e Tom construíram o protótipo do carro, mas seus esforços faliram em 1970, antes que pudessem dominar a engenharia complicada e provar suas alegações.
De acordo com um artigo na edição de setembro de 1967 da Science & Mechanics, o carro acabado pesava 839 kg, media 1,19 metros de altura, apenas 1,07 de largura e 4,7 metros de comprimento. Ele rodava em duas rodas de 15 polegadas e era movido por um pequeno motor de 80 cavalos de potência.
Seu único giroscópio acionado hidraulicamente de 20 polegadas girava a até 6.000 RPM, criando 1.763 Nm de torque. No entanto, precisava de aproximadamente três minutos para atingir essa velocidade, o que significava que os motoristas não podiam simplesmente entrar e sair. Um conjunto de estabilizadores retráteis, do tipo velocípede, semelhantes a uma roda de treinamento segurava o carro enquanto isso.
Esse único Gyro-X passou as próximas décadas saltando de um dono para outro, em algum momento perdendo seu giroscópio. Embora não se saiba exatamente o que aconteceu com o Gyro-X imediatamente após a Gyro Transport Systems fechar suas portas, em 2009, um colecionador chamado Mark Brinker comprou o carro na esperança de consertá-lo, mas logo descobriu que o projeto dava muito trabalho e dinheiro. Em 2011, ele o vendeu para o Museu do Motor Lane em Nashville, que abriga e restaura uma série de esquisitices automotivas.
Jeff Lane, diretor do museu, continuou de onde a pesquisa de Mark parou, desenterrando documentos antigos e se conectando com Steve Tremulis, sobrinho de Alex. Ele encontrou as patentes originais e algumas fotos, mas nada detalhando como realmente fazer um novo giroscópio. Lane consultou uma empresa de tecnologia de giroscópio. Nada. Ele procurou a General Motors e até mesmo um de seus antigos professores universitários para ver se eles tinham alguma dica. Mas a solução, ao que parece, não estava neste mundo.
Lane não chegou a lugar nenhum até que um visitante da loja de restauração do museu sugeriu que ele pensasse em ... iates, que usam estabilizadores para se manterem firmes em alto mar, para que os amantes da água ricaços não fiquem enjoados. Isso o levou à Agência Impianti, uma empresa italiana que enviou um representante a Nashville para criar uma versão digital do carro, calcular o tamanho do giroscópio e onde ele deveria ficar.
Um ano e meio depois, Lane abriu uma grande caixa de madeira e passou um mês ajustando o Gyro-X com seu novo giroscópio. O giroscópio de 230 libras, 17 polegadas de diâmetro, ocupava grande parte do espaço sob o capô, e então eles tinham que encaixar todo o resto -bomba hidráulica, tanque de combustível, baterias, o motor retirado de um Mini Cooper- ao redor dele.
Em seguida, eles assumiram o resto do carro, fabricando novos painéis de porta e um painel com base em fotos do protótipo em seu estado original. Trocaram o assento de fibra de vidro por um de alumínio, como era nos dias de Alex e Tom. Ele gastou cerca de US$ 500.000 no total, mais da metade só no giroscópio. E, finalmente, em maio de 2018, a equipe ligou o carro, levantou as rodinhas de velocípede e começou a passear pelo estacionamento em duas rodas.
- "Foi engraçado para mim. O giroscópio balança um pouco, como se você estivesse sentado em um barco", disse Lane.
Desde então o carro se transforma na principal atração aonde quem que vá e a equipe de Lane sempre volta a mexer no software do controlador para melhorá-lo ainda mais.
- "Você pode dizer que é por isso que não funcionou naquela época, eles não tinham software ou os sensores que temos", diz Lane.
Mas não é como se Lane esperasse realizar o sonho de Alex e Tom de colocar todo mundo em duas rodas. Ele está feliz em reviver uma ideia original e envolvente.
- "É um carro lindo, uma obra-prima da engenharia, feito por duas pessoas realmente brilhantes e famosas. Trazê-lo de volta à vida me deu grande alegria", concluiu ele.
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