As características atípicas do ornitorrinco fizeram com que o primeiro espécime empalhado levado para a Inglaterra fosse classificado pela comunidade científica como uma brincadeira de mau gosto, como se alguém tivesse costurado um bico e pés de pato em um castor. Mais tarde acabou sendo citado como prova de que a Mãe-Natureza tem senso de humor. Em 2008, a criatura, considerada um dos mamíferos mais estranhos do mundo, teve seu código genético sequenciado, revelando ser uma mistura bizarra de mamífero, ave e réptil, com sexualidade muito complexa. |
Enquanto os humanos têm dois cromossomos sexuais, o X e o Y, o ornitorrinco tem 10, com cinco de cada tipo. É a coisa mais estranha sobre um animal muito estranho. Em teoria, significa que existem 25 sexos possíveis, embora na prática isso não aconteça.
Pertencente a um antigo grupo de mamíferos chamados monotremados, os ornitorrincos sempre confundiram os cientistas. No mapeamento completo de seu genoma, os pesquisadores responderam algumas perguntas sobre a espécie. A equipe explicou que eles preservaram muitas das particularidades originais de seus ancestrais que ajudam na adaptação ao ambiente em que vivem.
Acredita-se agora que muitas das características mais estranhas do animal evoluíram independentemente. Por exemplo, o veneno, que é liberado pelas esporas das patas traseiras do macho, se desenvolveu no final da história da evolução do animal. E o notável bico eletrossensível, que ajuda o ornitorrinco a caçar debaixo d'água enquanto seus olhos e ouvidos estão cobertos, apareceu muito depois que o ornitorrinco se separou de seus ancestrais reptilianos.
Eles são os únicos mamíferos que põem ovos, as fêmeas não têm mamas (suam o leite através do ventre), têm duas camadas de pelos, bicos de pato, pés palmados, esporões de tornozelo venenosos, caudas planas... Ninguém sabe por quê, mas quando essas pequenas criaturas são colocadas sob luzes UV, emitem um brilho azul-berilo biofluorescente. O que é estranho, mas ainda mais estranho são as pessoas que os colocaram sob luzes UV.
Mas essas não são as únicas características físicas que tornam os ornitorrincos animais únicos. Além dessas particularidades bizarras, os mamíferos monotremados também não têm um órgão importante: o estômago.
Assim como seu parente mais próximo, a equidna, outra antologia da estranheza, sua garganta se conecta diretamente ao intestino. Não há saco no meio que secreta ácidos poderosos e enzimas digestivas.
Os pesquisadores descobriram que os ornitorrincos perderam os genes que criam o ácido estomacal, as enzimas digestivas e a bomba de prótons gástricas, fazendo com que eles também perdessem seus estômagos ao longo de um longo processo evolutivo.
Esse fenômeno provavelmente ocorreu porque os animais têm dietas que não requerem esses ácidos e enzimas específicos para a digestão. Segundo os cientistas, essa evolução é provavelmente irreversível.
No entanto, uma coisa é clara: muitos animais lidam muito bem com a falta de estômago. Existem muitas soluções possíveis. Por exemplo, o intestino do baiacu e do peixe pulmonado, que também não têm estômagos, tem suas próprias enzimas destruidoras de proteínas. As gargantas de alguns peixes têm um conjunto extra de dentes que ajuda a macerar o que eles engolem.
Curiosamente, todas as espécies sem estômago vivem na água, ou, como a equidna, tiveram ancestrais aquáticos.
Por que a mistura na informação genômica de mamíferos, aves e répteis é bizarra? Que répteis e aves compartilhem genomas ancestrais é bem comum, mas é "bizarro" que mantenham os de mamíferos, e, muito mais, que apresentem uma mistura de características físicas antigas e não encontradas em nenhum outro animal.
Não é por acaso que também se refiram ao ornitorrinco como fóssil vivente, mas ele já tem tantos predicados maiúsculos, que a gente nem leva em conta que o ornitorrinco está praticamente isolado na árvore genealógica da vida.
Só há um outro animal que apresenta uma informação genômica com mistura de características de répteis, aves e mamíferos e ele não é um mamífero: a tuatara, o último réptil vivente da ordem dos rincocéfalos.
As tuataras também têm uma grande lista de singularidades: vivem mais de 100 anos, sua morfologia é semelhante a de algumas aves, não hibernam em temperaturas gélidas... além de apresentarem comportamentos pouco compreendidos pela ciência. Se isso não é bizarro, anormal, anômalo, atípico, diferente, esquisito, estranho, incomum, insólito, inusitado, invulgar, maluco, original, singular, surreal (escolha seu adjetivo preferido), realmente eu não sei o que poderia ser.
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O SARIGUÊ TAMBÉM TEM ALGUMAS MISTURAS.