O uso da Internet, computadores, smartphones e outros dispositivos eletrônicos aumentou dramaticamente nos últimos 20 anos, e esse aumento está associado não apenas a benefícios claros e tremendos para os usuários e sociedades, mas também a casos documentados de uso excessivo que muitas vezes têm efeitos negativos para a saúde. Também a "rolagem infinita", criada para proporcionar uma melhor experiência ao usuário, acabou se tornando um pesadelo por ser altamente viciante. O próprio inventor da "timeline infinita", Aza Raskin, se arrependeu de sua criação. |
Aza hoje afirma categoricamente que - "...estamos colocando toda a humanidade no maior experimento psicológico já feito." Talvez você não saiba o que é "rolagem infinita", mas certamente a usa diariamente já que está em todos os lugares. Você termina um episódio na Netflix e o próximo começa imediatamente. Você assiste a um vídeo do Tik Tok e o próximo aparece antes que você possa sair. A maioria das plataformas de vídeo adotaram a "porcaria" do reels. Você ouve uma música no Spotifye a próxima... você já sabe.
A "rolagem infinita" está aqui para bloquear qualquer pequena chance de pensar conscientemente se alguém ainda deseja consumir qualquer conteúdo. A pessoa abre o Instagram só para checar o que seu amigo postou: - "Meu Deus... meia hora já se foi!". Ou talvez você tenha caído na armadilha dos vídeos de gatinhos e, de repente, duas horas depois está assistindo um vídeo que explica o motivo das cabras cagarem bolinhas.
Na era digital de hoje, as mídias sociais são uma parte cada vez mais importante de nossas vidas diárias. Elas revolucionaram as comunicações, na medida em que agora é nosso meio preferido de comunicação cotidiano. As mídias sociais mudaram completamente nossas sociedades modernas. Desde os primeiros lançamentos de serviços digitais mal esboçados até seus sucessores modernos, houve um salto significativo na qualidade. Os serviços digitais foram aprimorados em todos os recursos que se possa imaginar: conectividade, velocidade, design ou utilidade, entre outros. No entanto, a maioria deles falhou conosco, como pessoas.
Essas primeiras melhorias foram conduzidas principalmente para contribuir para uma sociedade melhor, ao mesmo tempo em que democratizamos a tecnologia e aprimoramos nosso desempenho. No entanto, em algum momento, esse desejo por melhorias centradas no social se transformou em aumento de renda e engajamento do usuário. Desde então, todos os aplicativos e algoritmos estão tentando chamar nossa atenção implementando algumas técnicas de design específicas para reter nossa atenção de um mar cheio de possibilidades.
A "rolagem infinita" explora um atalho mental que muitas pessoas usam naturalmente, o viés de unidade. De acordo com essa teoria, nós humanos somos naturalmente motivados a completar uma unidade de algo. Acreditamos que seja qual for a quantidade que recebemos é a quantidade certa, então terminamos para obter satisfação. Exatamente a mesma coisa acontece com "timeline infinita". Como a quantidade de conteúdo oferecida é infinita, continuamos navegando para consumir tudo.
Em suma, "rolagem infinita" foi concebida para ser um grande avanço na experiência do usuário, e acabou se tornando um recurso viciante que aumentou drasticamente o envolvimento dos usuários, às custas de seu bem-estar. Isso mostra perfeitamente que projetar as experiências do usuário vem com uma grande responsabilidade: influenciar o tempo e o comportamento das pessoas não é algo para se tomar de ânimo leve.
A rolagem ainda é amplamente usada em muitas aplicações, embora seja comprovadamente viciante na melhor das hipóteses e prejudicial na pior. Assim, as empresas que utilizam este tipo de técnicas para reter a atenção dos usuários devem se responsabilizar por isso e oferecer meios e ferramentas eficazes para conscientizá-los.
Por exemplo, em 2018 nós implementamos a "rolagem infinita" no MDig durante dois meses, mas depois que um amigo disse que passou quase a noite inteira rolando nossas páginas, decidimos voltar para o método antigo que mostra só os artigos do dia, quando muito, que permitem que os usuários se monitorem e entendam quanto tempo passam grudados em seus celulares os PCs.
É por isso que, da próxima vez que você se encontrar preso em um ciclo de consumo digital, seja no Instagram, Twitter, no duvidoso Tik Tok ou qualquer outro, tente estar ciente da quantidade de tempo que está gastando. Tente se perguntar se isso vale a pena ou se era sua intenção original. Se a resposta for "Não", feche o aplicativo e tente parar o loop. Com um pouco de atenção e autocontrole, você pode se libertar das garras do "rolagem infinita" e recuperar seu tempo e atenção.
Para entender melhor esse assunto, a DW Brasil entrevistou o coordenador do Núcleo de Dependências Tecnológicas da USP, Dr. Cristiano Nabuco. No hospital onde atende, Dr. Cristiano recebe adolescentes de todas as regiões do país que chegam a ficar conectados na Internet mais de 50 horas de forma ininterrupta.
Para o psicólogo que já publicou 15 livros sobre psicologia, saúde mental e uso abusivo de tecnologia, as redes sociais podem produzir, pela primeira vez na história da humanidade, a interrupção da consolidação do conhecimento.
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