Este tênis é tão bom que as Olimpíadas o declararam uma trapaça

Em 2019, o corredor queniano de longa distância Eliud Kipchoge correu a maratona em menos de 2 horas, quebrando todos os recordes conhecidos, usando tênis Nike Vaporfly. Ele correu os 42km em 1h59m40, mas o tempo não foi homologado por não se tratar de uma prova oficial. Ninguém tinha dúvidas da capacidade do fundista, bicampeão olímpico e campeão mundial, mas algumas pessoas se perguntavam o quanto o triunfo de Eliud tinha a ver com seu talento de corrida versus o tênis de corrida que ele usou para ser o primeiro homem a correr a maratona abaixo da 2 horas.

“Rápido” é a palavra que Rachel Bull, diretora sênior de produtos de calçados da Nike Running, usa para descrever a série Vaporfly de tênis de corrida da empresa. No que diz respeito às escolhas de palavras, "rápido" não parece particularmente inspirado. É seguro dizer que não terá exatamente os estudiosos coçando a cabeça devido à sua ambiguidade. Dizer que os tênis de corrida são rápidos é como dizer que a chave para o sucesso de jogadores no campo é jogar tênis muito bem.

Mas quanto mais você se aprofunda no Vaporfly, a tecnologia de tênis de corrida de alta tecnologia da próxima geração que estreou há meia década, realmente não pode haver outra descrição. Uma pesquisa de preenchimento automático do Google por Vaporfly também traz as palavras "banido" e "controverso".

Por que? Ross Tucker, um cientista esportivo, escreveu em um blog no qual argumentava que a tecnologia dos calçados atrapalhava não o esporte da corrida, mas o significado da corrida.

- "Isso quebrou o princípio. A premissa é que correr, 'natural' como é, não deve ser decidido por quem usa o melhor tênis, mas por quem tem a combinação ideal de fisiologia, psicologia e tática", escreveu ele.

Não são muitos os tênis de corrida acusados de abrir uma fenda no tecido do espaço-tempo do esporte para o qual foram projetados. Em vez de usar designs de sola plana, o Vaporfly emprega um design de sola grossa que parece um pouco com os usuários correndo de saltos.

No entanto, embora isso possa não parecer a escolha mais aerodinâmica, essa mudança de "estética radical e icônica" acaba sendo incrivelmente eficaz: o primeiro modelo de tênis Vaporfly melhorou a economia de corrida -quanta energia é necessária para percorrer uma distância específica- em 4 %. Em um campo onde um único ponto percentual na economia de corrida é como reinventar a roda, isso é um enorme salto à frente.

O que causa a grande melhoria não é totalmente claro -ou, pelo menos, é um molho secreto que a Nike não conta-, embora tenha algo a ver com uma combinação de espuma na entressola e uma placa de fibra de carbono que está ensanduichada dentro do tênis. Este design permite o retorno de aproximadamente 80% da energia de cada batida do pé do corredor no chão.

Acusado de ser um exemplo de doping tecnológico, dando uma vantagem injusta aos atletas que os usavam, o Vaporfly foi quase totalmente banido de Tóquio 2020. No final, a World Athletics proibiu por tempo indeterminado os tênis com sola mais grossa que 40mm, o que inclui o tênis que Eliud Kipchoge usa.

No entanto, a tecnologia de calçados foi representada nos Jogos de Tóquio, embora em uma versão modificada. Em comunicado, a Nike disse que respeita o espírito das regras e que não cria nenhum tênis de corrida que retorne mais energia do que o corredor gasta.

- "Servir todos os atletas sempre será nosso foco, e liderar com inovação é o que a Nike sempre fez", disse Rachel. - "Continuaremos a criar novas e melhores soluções para treinamento e competição. Todos os tênis de estrada e de atletismo que os atletas da Nike usam seguem as diretrizes estabelecidas pela World Athletics."