Solenodonte: o mamífero peçonhento que é considerado um 'fóssil vivo'

O solenodonte-haitiano (Solenodon paradoxus), também conhecido como agouta é um organismo pancrônico que não mudou muito nos últimos 76 milhões de anos. É também um dos três mamíferos venenosos que existe no planeta, capaz de inocular veneno nas suas presas através de dentes especiais. Encontrado apenas na Ilha de São Domingos, englobando assim os territórios da República Dominicana e do Haiti, é frequentemente descrito como um "fóssil vivo", graças ao fato de existir, praticamente inalterado, nos últimos 76 milhões de anos.

Surpreendentemente, isso equivale a dizer que uma vez ele já fugiu entre os pés gigantes dos dinossauros, nos dias em que esses vagavam pela Terra. O animal de aparência estranha tem o tamanho de um coelho, com uma pelagem castanho-avermelhada. Tem pés desproporcionalmente grandes, com garras, olhos pequenos e redondos e um nariz muito longo e fino.

Esta espécie pertence à mesma família dos musaranhos e toupeiras, mas é muito maior. Recebe seu nome científico, solenodon, por causa de seus dentes sulcados. Geralmente habitam áreas arborizadas onde podem fazer suas tocas ou túneis. Eles os constroem entre as raízes das árvores, sob rochas ou em troncos ocos.

O solenodonte é mais ativo à noite e passa os dias dormindo. Ele gosta de ficar sozinho e é muito esquivo. Por isso os naturalistas dizem que é mais provável ver um fantasma do que essa criatura indescritível. E, de fato, poucos já estiveram cara a cara com um. Mesmo a maioria dos dominicanos não reconhece prontamente seu nome ou foto.

Embora se mova de forma bastante estranha, fazendo um movimento em ziguezague desajeitado, na verdade é muito rápido. Ele se move dessa maneira para não ser uma presa fácil para os predadores.

Ele emite sons semelhantes aos de outros animais quando está com medo. Para se comunicarem entre si, emitem sons semelhantes aos dos pássaros. Como a maioria dos animais da ordem Soricomorpha tem uma visão terrível; tão ruim que é considerado quase cego. No entanto, tem um olfato incrivelmente bem desenvolvido. Isso permite que ele se movimente para cuidar de suas tarefas diárias.

As fêmeas têm duas glândulas mamárias que estão localizadas muito perto da base de suas caudas. Elas também têm glândulas na virilha e nas axilas que liberam um odor desagradável para afugentar seus inimigos.

Mas talvez sua característica mais bizarra -e pré-histórica- seja que é o único mamífero que pode injetar veneno através de seus dentes, da mesma forma que uma cobra. Em cada lado de sua mandíbula inferior, tem um segundo incisivo com uma glândula venenosa. Essa glândula libera veneno que usa para se defender de seus inimigos e matar suas presas.

Ele pode até usar o veneno para matar outros machos durante o acasalamento. O veneno, embora não seja mortal para os humanos, causa uma dor considerável. É a ferramenta perfeita para o insetívoro, permitindo que ele se alimente de insetos enquanto se move pela floresta à noite.

Além de seu veneno, o solenodonte também ostenta na ponta de seu nariz um osso articular chamado "probóscide" que é totalmente único no reino animal. Este osso permite que o focinho longo e delgado do animal se mova habilmente enquanto cutuca o chão em busca de insetos, aracnídeos e larvas. Também foi sugerido que os solenodontes usem seus estranhos cliques e sons de assobio como ecolocalização para capturar suas presas no escuro.

Os machos enfrentam a possibilidade de morrer envenenados ao acasalar com fêmeas irritadas. A fêmea pode ter duas ninhadas por ano, que pode ter entre um e três filhotes pesando entre 40 e 55 gramas ao nascer. Se ela der à luz três filhotes, apenas dois sobreviverão, já que a mãe tem apenas duas glândulas mamárias.

O solenodon está listado como uma espécie em extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Isso se deve principalmente à destruição de seu habitat natural e sua baixa taxa de reprodução.

Estas são apenas as principais ameaças atuais ao solenodon. No entanto, outras espécies sendo introduzidas em suas áreas, como cães, furões , gatos e outros, também contribuíram para a diminuição de sua população.

A República Dominicana e o Haiti costumavam ter uma mistura diversificada de macacos, musaranhos, preguiças e roedores, mas estes foram morrendo um a um. A chegada dos humanos há cerca de 6.000 anos e a invasão européia 4.500 anos depois trouxeram ondas de extinção à medida que as florestas caíram, espécies invasoras foram introduzidas e algumas espécies foram rapidamente simplesmente comidas até a extinção.

Hoje, apenas dois mamíferos nativos sobrevivem: o solenodonte e um roedor arborícola chamado hutia são os únicos mamíferos nativos que restam.