Um grupo de pesquisadores publicou ontem um estudo onde relatam a descoberta de dois exoplanetas temperados com massa semelhante à da Terra orbitando Gliese 1002, uma estrela anã vermelha "apenas" a 15 anos-luz de distância do Sistema Solar na constelação de Cetus. Os Dois companheiros planetários de Gliese 1002 foram descobertos utilizando espectroscopia Doppler -também conhecida como método de velocidade radial velocidade radial-. Ambos orbitam dentro da zona habitável de sua estrela, embora não transitem por sua estrela hospedeira. |
O estudo, publicado na revista Earth and Planetary Astrophysics, da Universidade de Cornell, acredita que no futuro próximo será possível determinar a presença e composição de atmosferas nos exoplanetas, Gliese 1002b e 1002c, com o espectrógrafo ANDES (acrônimo do inglês para ArmazoNes high Dispersion Echelle Spectrograph), o instrumento que será instalado no telescópio do Observatório Europeu Austral, atualmente em construção no Cerro Armazones, localizado no norte do Deserto do Atacama, no Chile.
Como costuma acontecer, os grandes sites de notícia alardearam a história como se fosse uma descoberta monumental. Junte-se a isso leitores que só leem o título da matéria e muitos tem a sensação de que podemos preparar mala e cuia para mudar para lá no mês que vem. Mas nem com reza brava.
Primeiro dois aspectos astrofísicos simples: o primeiro é que os planetas não transitam por Gliese 1002, o que significa que apenas uma face deles é banhada pelo sol. Isso representa um ambiente extremamente pobre para tentar evoluir a vida. Um dos planetas recebe 0,67, e o outro, 0,257 do fluxo luminoso do Sol. A superfície voltada para o sol pode ser a parte mais habitável, enquanto o outro lado é provavelmente 10 vezes mais frio que a Antártica. Seja como for daria para viver de um lado só do planeta.
O segundo impedimento é que as anãs vermelhas levam até 100 milhões de anos para se estabelecer na sequência principal. Durante esse período, os exoplanetas podem não ser habitáveis porque perderam toda sua água para o espaço. As anãs vermelhas também sujeitam seus planetas na suposta zona habitável a ventos estelares muito mais fortes e radiação, o que torna problemática a sobrevivência em suas atmosferas.
Mas vamos fazer vistas grossas e fingir que esses planetas não são um inferno, senão um novo paraíso que vai abrigar a espécie humana. Como poderíamos chegar lá, afinal estão apenas a 15 anos-luz de distância -ou 4,6 parsecs-, certo? Não poderíamos! Com a tecnologia que temos disponível hoje e com a melhor nave disponível levaríamos 558 milhões de anos para chegar até lá.
Graças às Teorias da Relatividade de Albert Einstein, sabemos que nosso universo tem um limite de velocidade. Esse limite é definido pela velocidade da luz, que viaja a impressionantes 299.792 km/s. Se estivermos olhando para as horas, isso se traduz em 1,1 bilhão de km/h. Para um pouco de contexto, se conseguíssemos viajar na velocidade da luz, seríamos capazes de dar 7,5 voltas na Terra por segundo.
Se você está se perguntando, há apenas cerca de 31.500.000 segundos em um ano e, se multiplicar isso por 186.000 -a distância que a luz percorre a cada segundo-, obtém 9,4 trilhões de km, a distância que a luz pode percorrer em um ano.
O tempo que levamos para viajar um ano-luz é, sem surpresa, consideravelmente maior que um ano. Na verdade, leva entre seis meses apenas para chegar a Marte, que fica a apenas 12,5 minutos-luz de distância. E a New Horizons levou quase uma década para ir da Terra a Plutão, que fica logo ali na esquina, a 4,6 horas-luz de distância.
Mesmo se embarcássemos na melhor nave da atualidade, levaríamos cerca de 37.200 anos para percorrer um ano-luz. Andando? Isso levaria cerca de 225 milhões de anos, supondo que você conseguisse manter uma velocidade constante de 12 minutos para cada quilômetro e não parasse para ir ao banheiro e nem fazer um lanchinho. Seria um pouco difícil, para dizer o mínimo, especialmente quando a gente considera que os humanos modernos existem há apenas 200.000 anos.
A pior coisa? Mesmo depois de todo esse deslocamento de um ano-luz, ainda estaríamos no meio do nada em lugar nenhum com nada remotamente interessante. A estrela mais próxima, Proxima Centauri, está a mais de quatro anos-luz de distância. Ou seja, ou alguém descobre o segredo para pular no espaço usando um buraco-de-minhoca ou voltemos nossas expectativas para a possível colonização da lua ou da impossível de Marte. É o que temos para hoje!
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários