Cientistas adicionando um gene de inteligência humana em macacos é o tipo de coisa que você veria em um filme como "A Origem do Planeta dos Macacos". Mas pesquisadores chineses fizeram exatamente isso, melhorando as memórias de curto prazo dos macacos em um estudo publicado em março de 2019 na revista chinesa National Science Review. Embora alguns especialistas tenham minimizado os efeitos, muitos questionaram a ética do procedimento e as preocupações persistem sobre aonde este tipo de pesquisa pode levar. |
O objetivo do trabalho, liderado pelo geneticista Bing Su, do Instituto de Zoologia Kunming, foi investigar como um gene ligado ao tamanho do cérebro, o MCPH1, pode contribuir para a evolução do órgão em humanos. Todos os primatas têm alguma variação desse gene. No entanto, em comparação com outros primatas, nossos cérebros são maiores, mais avançados e mais lentos para se desenvolver; os pesquisadores se perguntaram se as diferenças que evoluíram na versão humana do MCPH1 poderiam explicar nossos cérebros mais complexos.
Su e sua equipe injetaram em 11 embriões de macacos rhesus um vírus portador da versão humana do MCPH1. Os cérebros dos macacos transgênicos -aqueles com o gene humano- desenvolveram-se em um ritmo mais lento, semelhante ao de um humano, do que os dos macacos livres da transgene. E quando tinham 2 a 3 anos de idade, os macacos transgênicos tiveram melhor desempenho e responderam mais rápido em testes de memória de curto prazo envolvendo correspondência de cores e formas. No entanto, não houve diferenças no tamanho do cérebro ou em qualquer outro comportamento.
Mas os resultados não são o que a comunidade científica comentou. Algumas pessoas questionaram a ética de inserir um gene do cérebro humano em um macaco, uma ação que pode ser o começo de uma ladeira escorregadia para imbuir animais com inteligência semelhante à humana.
Em um artigo de 2010, James Sikela, geneticista da Escola de Medicina da Universidade do Colorado, Nos EUA, e co-autores perguntaram se um macaco humanizado se encaixaria em sua sociedade ou viveria em condições desumanas devido a seus genes alterados.
Para justificar o trabalho, Su e seus coautores sugeriram que esse tipo de pesquisa de genes cerebrais poderia fornecer informações sobre distúrbios neurodegenerativos e sociais, mas eles não descrevem quais seriam essas aplicações. Realmente não dá para ver nada no paper que faça alguém pensar que o experimento foi necessariamente uma boa ideia.
No trabalho de pesquisa, os autores também afirmam que a - "...distância filogenética relativamente grande -cerca de 25 milhões de anos de divergência dos humanos- alivia as preocupações éticas."
Os macacos Rhesus são menos parecidos com os humanos em termos de capacidades sociais e cognitivas do que os primatas como os chimpanzés, que são mais próximos de nós. Essa maior distância evolutiva sugere que seria mais difícil acabar com um macaco que agisse como um humano.
- Realmente não importa quando eles se diferenciaram dos humanos na árvore filogenética", diz Rebeca Walker, bioética da Universidade da Carolina do Norte. - "Eles estão falando sobre memória de curto prazo aprimorada, o que os colocaria mais perto de nós em termos dessas habilidades cognitivas."
Ela acha que manipular essas habilidades torna o trabalho eticamente duvidoso e requer uma justificativa mais forte.
- "Embora macacos e humanos tenham genomas semelhantes, ainda existem dezenas de milhões de diferenças genéticas. Alterar um gene cuidadosamente projetado para pesquisa não resultará em mudanças drásticas", escreveu Su na imprensa estatal chinesa.
James Sikela concorda que tal mudança pode ser pequena. Ainda assim, ele se pergunta sobre a possibilidade de encontrar um gene com grande efeito na cognição.
- "Existem alguns elementos arriscados nesse caminho", diz Sikela. - "É preciso pensar nas consequências de onde isso está levando e qual é a melhor maneira de estudar esse tipo de questão."
Rebeca também se preocupa com a direção desse trabalho.
- "Poderíamos melhorar o cérebro humano por meio desses métodos?" pergunta. Embora ela pense que ainda não estamos nem perto disso, observa que a ciência pode avançar com uma rapidez surpreendente. Por exemplo, o CRISPR, a técnica de edição de genes que antes parecia muito distante da pesquisa humana, foi usada na China para editar os genomas de gêmeos em 2018.
Su acha que o pequeno número de animais é uma limitação. Ele diz que tem uma solução, no entanto, ao criar mais macacos e também está testando novos genes de evolução do cérebro. Um que ele está de olho é o SRGAP2C, uma variante de DNA que surgiu há cerca de dois milhões de anos, exatamente quando o Australopithecus estava cedendo a savana africana aos primeiros humanos. Esse gene foi apelidado de "interruptor da humanidade" e o "elo genético perdido" por seu provável papel no surgimento da inteligência humana.
É preocupante fazer esse tipo de pesquisas com primatas, para dizer o mínimo. Lembrando que, às vezes, a vida imita a arte; foi assim que o Cesar desenvolveu inteligência, emoções humanas e travou uma batalha épica para determinar qual espécie era dominante no planeta Terra.
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Comentários
Pensei que os macacos tinham começado a fazer o L…