Os insetos podem ser maravilhosos ou exatamente o oposto. Temos um exemplo de difícil localização no gênero Neotrogla, que habita cavernas de três estados brasileiros. O Neotrogla brasiliensis vive no norte de Minas Gerais, Neotrogla aurora no Tocantins, Neotrogla truncata no Norte da Bahia, e Neotrogla curvata, no Sul da Bahia. Os insetos, que são alados, medem de 2,7 a 3,7 milímetros de comprimento. As fêmeas desse inseto possuem um pênis chamado ginossoma -embora produzam óvulos-, e com eles conseguem penetrar no macho para coletar a maior quantidade de esperma. |
Acredita-se que o motivo dessa estranha atividade é que em algum momento de sua história as fêmeas Neotrogla tiveram que se tornar coletoras de esperma mais eficientes, desenvolvendo esse mecanismo para coletar esperma.
O ginossoma tem uma estrutura altamente elaborada, semelhante a um pênis, com formato de arco, revestido por cerdas que atracam o macho. Isso impede que ele se solte durante o acasalamento, um processo que dura até 70 horas ininterruptas, na cópula mais demorada do reino animal, assegurando a transferência de um grande volume de esperma dos machos.
Um estudo realizado em 2014 descobriu as quatro espécies nesse gênero, e todas possuem genitália invertida: os machos têm uma estrutura parecida com uma vagina, enquanto as fêmeas têm o equivalente a um pênis, mas uma dúvida permanecia no ar: como as fêmeas conseguiram a protrusão e retração de seus apêndices?
Agora, um novo estudo organizado por pesquisadores do Brasil, Japão e Suíça encontrou a resposta. Para fazer isso, eles usaram uma técnica de raios X 3D chamada tomografia microcomputadorizada (µCT) para comparar a anatomia de Neotrogla com a de outros insetos intimamente relacionados.
Os dados da µCT confirmaram que a Neotrogla feminina desenvolveu dois grupos específicos de músculos para permitir que eles estendessem o ginossoma, para penetrar na genitália masculina semelhante à vagina.
Acontece que esses músculos também foram encontrados em insetos relacionados que não tinham pênis em pleno funcionamento. Isso levou os pesquisadores a concluir que os referidos músculos devem ter evoluído antes que os papéis sexuais fossem alterados no Neotrogla. Por que?
Os autores sugerem que as fêmeas podem usar músculos, na ausência de um gimnossomo, para estimular insetos machos durante o sexo para estimular a liberação de mais sêmen. De qualquer forma, e como explicam no estudo, a evolução desses músculos provavelmente foi a chave para a inversão dos papéis sexuais que torna esses pequenos habitantes das cavernas tão fascinantes.
Acontece também que o sêmen de Neotrogla é mais do que apenas um meio de reprodução, serve como um lanche altamente nutritivo para a fêmea faminta. Dado que sua dieta principal é de morcegos mortos e seus excrementos, ninguém pode culpá-las por quererem um lanchinho diferente.
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