Com alto índice de 94,8% em 2022, a inflação registrada na Argentina foi a maior do país em mais de 30 anos. Segundo dados divulgados na quinta-feira passada (12/01), pelo Instituto Nacional de Estatísticas. Os números chegam após os resultados do mês de dezembro, que fecharam em alta de 5,1%, abaixo da máxima de 7,4% que foi registrada em julho. Dinheiro praticamente não vale nada, é mais barato cobrir as paredes com notas de peso do que comprar papel de parede, e simples idas às compras se transformam em expedições para encontrar as melhores ofertas. |
A procura é necessária porque é comum encontrar o mesmo item com uma diferença de preço de 70% a 100% entre lojas diferentes. É dramático, mas é o que acontece quando a inflação está tão alta. Uma das consequências da inflação alta é que a pessoa perde a percepção dos preços. Outra consequência é que a relação de preço entre diferentes produtos é completamente perdida. No final das contas, não tem noção do que é caro ou barato.
Enquanto o resto do mundo é forçado a lidar com o aumento vertiginoso dos preços, não há nenhuma grande economia que saiba lidar melhor com a inflação do que a Argentina. É uma realidade com a qual os argentinos têm vivido durante grande parte do último meio século; ainda hoje, o banco central do país continua imprimindo dinheiro para compensar o implacável déficit fiscal, enquanto deve bilhões de dólares ao Fundo Monetário Internacional.
Os argentinos têm uma relação complicada e única com o dinheiro. O país opera quase totalmente com dinheiro físico, papel-moeda que se tornou inútil. Há pouca confiança nos bancos e as pessoas guardam seu dinheiro debaixo do colchão ou em cofres.
A fotógrafa Irina Werning retratou o marido revestindo as paredes com notas de 10 pesos, o que é mais barato do que comprar papel de parede. O bundalelê é deliberado, para mostrar como estão expostos e nus à inflação.
Principalmente, eles tentam gastar seus pesos assim que recebem, por terem a sensação de que o dinheiro está queimando em suas mãos. Pode parecer estranho, mas esta é uma forma que eles arranjaram para se proteger da inflação.
Para proteger seu dinheiro, muitos argentinos com salários mais altos geralmente trocam pesos por dólares americanos assim que recebem o seu pagamento, ou qualquer moeda que esteja desvalorizando menos que o peso. A maior parte dessas interações ocorre no mercado negro, onde cerca de 50% do país opera. A taxa de câmbio oficial é de 147 pesos para 1 dólar, mas as taxas no mercado negro são em média de 290 pesos.
A repórter Natalie Alcoba da revista Vice foi até Buenos Aires para ver como os argentinos estão lidando com a alta inflação e fazendo o que for preciso para sobreviver. Alguns trocam on-line por itens básicos da despensa e outros abandonam o peso para proteger o valor de suas economias.
Enquanto isso o método buscado pelo presidente Alberto Fernández para conter a inflação é a de congelamento de preços. O governo anunciou em dezembro um acordo com empresas de distribuição de alimentos e produtos de higiene para manter as cifras de 2 mil produtos de primeira necessidade até março deste ano. Terceira maior economia da região, a Argentina não sabe o que é ter uma inflação abaixo de dois dígitos desde 2011, ainda no governo de Cristina Kirchner.
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Comentários
Estão ansiosos aguardando os 4 bilhões de dólares do BNDES. Só o Brasil (do pt) empresta dinheiro para caloteiros assumidos.