Na costa de Santa Catarina, especificamente no município de Laguna, pescadores locais entram em águas turvas em busca de tainhas migratórias. Por conta própria, seria complicado encontrar o peixe prateado. Mas os humanos recebem ajuda de um aliado incomum: golfinhos selvagens. Com as redes nas mãos, os pescadores esperam pacientemente enquanto seus parceiros cetáceos conduzem os peixes em direção à costa. Uma dica dos golfinhos, geralmente um mergulho profundo, indica quando eles devem lançar suas redes. Os golfinhos são conhecidos inclusive por seus nome dados pelos pescadores. |
Esta parceria de pesca tem passado de geração em geração, perdurando por mais de um século. Embora os pesquisadores soubessem que os humanos lucraram com esse emparelhamento, eles não puderam confirmar se isso beneficiava os golfinhos também. Agora, em um novo estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, os pesquisadores sugerem que os cetáceos que caçam com humanos aumentaram as taxas de sobrevivência em relação aos que não o fazem.
- "A cooperação entre humanos e animais selvagens em geral é um fenômeno raro em escala global", disse Mauricio Cantor, biólogo da Universidade Estadual do Oregon e autor do artigo. - "Normalmente, os humanos ganham o benefício e a natureza paga o custo. Mas essa interação vem acontecendo há mais de 150 anos."
Usando drones, sonar e gravação de som subaquático, os pesquisadores registraram a equipe de pesca interespécies em ação. Eles descobriram que quando os pescadores lançavam suas redes em sincronia com os sinais dos golfinhos, os cetáceos aumentavam suas taxas de cliques de ecolocalização para criar um "zumbido terminal", um sinal de que estavam se aproximando da presa. Quando os pescadores não estavam em sincronia com os golfinhos, essa resposta era menos comum.
Os golfinhos aproveitavam os peixes desorientados após o lançamento dos pescadores, chegando a arrebatar alguns diretamente das redes.
Os pescadores também tiveram mais sucesso quando trabalharam com os golfinhos. Quando os golfinhos estavam presentes, os pescadores tinham 17 vezes mais chances de pegar peixes e pescar quase quatro vezes mais tainhas quando sincronizavam o lançamento com os sinais dos cetáceos. 86% de todas as 4.955 tainhas capturadas durante o período de estudo vieram de interações síncronas, quando ambos os predadores coordenaram suas ações perfeitamente um com o outro.
- "Os golfinhos beneficiam os pescadores reunindo cardumes de tainhas em sua direção, criando manchas temporárias de alta qualidade pouco antes de dar uma deixa e sinalizando quando as presas estão ao alcance das redes dos pescadores", escrevem os autores. - "Durante as entrevistas com os pescadores mais experientes, 98% relataram que os golfinhos obtêm benefícios de forrageamento de interações síncronas."
O estudo também revelou que os golfinhos que caçam com humanos tiveram um aumento de 13% na taxa de sobrevivência em relação a outros golfinhos. Esses golfinhos cooperativos têm maior probabilidade de ficar perto da costa, reduzindo a chance de enredamento em equipamentos de pesca ilegais.
- "Este estudo mostra claramente que tanto os golfinhos quanto os humanos estão prestando atenção no comportamento uns dos outros, e que os golfinhos fornecem uma pista de quando as redes devem ser lançadas", disse Stephanie King , bióloga que estuda a comunicação dos golfinhos na Universidade de Bristol, na Inglaterra, e não estava envolvida na pesquisa. - "Este é um comportamento cooperativo realmente incrível."
Mas os pesquisadores dizem que essa parceria está em perigo. As mudanças nas temperaturas da superfície do mar estão levando a menos tainhas e afetando para onde elas vão.
- "Na maioria das vezes, as temperaturas do mar estão subindo, tornando menos provável que a tainha chegue à costa", disse Damien Farine, coautor e ecologista da Universidade Nacional da Austrália. Além disso, os golfinhos estão ameaçados pela poluição e as operações de pesca comercial extrapolam a tainha.
Ainda assim, a relação golfinho-humano poderia ser protegida se o Brasil a declarasse patrimônio cultural, pois é uma interação que vai além apenas dos benefícios materiais. Tentar preservar a diversidade cultural também é uma forma indireta de preservar a diversidade biológica.
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Essa cooperação não é exclusiva de Laguna- SC, em Tramandai/Imbé-RS também ocorre o mesmo tipo de parceria na barra de Imbé, e com pratica a mais menos o mesmo tempo...