Em 2019, a Organização Mundial de Saúde incluiu pela primeira vez a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) em sua Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CEI). A fonte de referência pode ser o documento médico mais influente do mundo, orientando como os médicos diagnosticam doenças e quais tratamentos as seguradoras cobrem em mais de 100 países. A entrada oficial da MTC no CEI foi o resultado de anos de um forte lobby e esforços do governo chinês. |
O Partido Comunista Chinês vê a inclusão como a chave para seu objetivo de espalhar a prática globalmente, contrariando a medicina ocidental no processo. Mas enquanto os adeptos da MTC sem dúvida aplaudiram o movimento da OMS, os defensores da medicina baseada na ciência lamentaram amplamente.
- "É provável que o capítulo da OMS sobre medicina tradicional saia pela culatra", escreveram os editores da principal revista científica da atualidade, Nature. - "É abrangente, detalhada e corre o risco de legitimar uma filosofia subjacente infundada e algumas práticas não científicas. Quaisquer que sejam seus objetivos, é improvável que o capítulo da OMS faça outra coisa senão alimentar a expansão das vendas de tratamentos amplamente não comprovados."
Os editores ainda fizeram questão de asseverar que associação da OMS, fortemente abonada por Tedros Adhanom Ghebreyesus, com medicamentos que não são devidamente testados e podem até ser prejudiciais é inaceitável para o organismo que tem a maior responsabilidade e poder de proteger a saúde humana.
A MTC deriva de crendices de muitos milhares de anos de que uma energia vital chamada qi existe dentro do corpo, difundindo-se por canais chamados meridianos. As forças vitais chamadas yin e yang também estão presentes. Através do uso da acupuntura, tai chi e vários remédios à base de ervas e animais, todas essas forças e energias podem ser equilibradas, mantendo ou restaurando a boa saúde.
Como deve ser aparente, MTC é um absurdo supersticioso, essencialmente mágico. É verdade que a arte marcial tai chi pode fornecer exercícios e meditação salubres, mas a acupuntura é um placebo teatral e quase todos os remédios semelhantes a poções são inúteis do ponto de vista medicinal.
O sistema, por exemplo, recomenda peles de burro cozidas e gelatinosas para combater a tosse e o câncer, cavalos-marinhos secos para impotência e enurese noturna e bile de urso como panaceia. Mais de mil plantas e 36 espécies animais estão incluídas no total.
Os famosos remédios fitoterápicos da vovó muitas vezes tem princípios curativos. No entanto, ao contrário da crença popular, o uso de plantas medicinais não é isento de risco. Além do princípio ativo terapêutico, a mesma planta pode conter outras substâncias tóxicas.
Deve-se observar que a definição de medicamento fitoterápico é diferente de fitoterapia pois não engloba o uso popular das plantas em si, mas sim seus extratos. Os medicamentos fitoterápicos são preparações elaboradas por técnicas farmacêuticas, além de serem produtos industrializados.
Devido à popularidade da MTC em todo o mundo -o governo da China estima que haja 900 milhões de praticantes, se é que alguém acredita nesses números-, a demanda por seus remédios pode ser bastante alta. Isso cria três problemas principais.
Primeiro, o desejo aparentemente insaciável pelos remédios da prática está levando as espécies à beira da extinção. Os usuários geralmente preferem remédios derivados de animais selvagens em vez de criados em fazendas. Por exemplo, as glândulas do cervo-almiscarado são usadas para tratar o coma e restaurar o fluxo menstrual. Apenas um pode ser vendido por até 200 mil reais no mercado negro. Mais de 100.000 cervos-almiscarados morrem a cada ano para atender à demanda somente na China, e apenas 230.000 das espécies residentes no leste da Ásia permanecem.
Outras espécies devastadas incluem tigres por seus pênis, rinocerontes por seus chifres, ursos-do-sol por suas vesículas biliares e pangolins por suas escamas. Até o humilde burro está em risco. Entre 1996 e 2016, a população de burros selvagens da China caiu de 9,4 milhões para 4,6 milhões, à medida que os humanos buscavam as "valiosas" peles dos animais.
Nem as plantas são poupadas. O ginseng-brasileiro (Pfaffia glomerata) era considerada mato há uns 50 anos, mas hoje está em risco graças a décadas de colheita para que pudesse ser vendido a preços altos para comerciantes na China e Hong Kong. Com efeito, 95% da raiz da planta cultivada no interior do Paraná é exportada para a China.
Na MTC o ginseng é considerado uma cura para o resfriado comum. Estudos mostram que não. Na melhor das hipóteses, semelhante à vitamina C, o ginseng pode reduzir a duração de um resfriado se tomado profilaticamente por longos períodos de tempo.
Além dos danos da MTC à flora e à fauna, também pode haver riscos genuínos à saúde dos seres humanos. De acordo com os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, alguns remédios estão "contaminados com compostos tóxicos, metais pesados, pesticidas e microorganismos", resultando potencialmente em sérios efeitos colaterais.
Padrões de fabricação negligentes e adulteração deliberada na China são os culpados. Por exemplo, em 2019, o FDA encontrou altos níveis de chumbo nos produtos fitoterápicos de uma empresa. Como os remédios MTC geralmente não são benéficos, parece especialmente ilógico consumi-los quando o risco de dano é maior do que o potencial de benefício.
Finalmente, como aprendemos com a recente pandemia de covid-19, o contato frequente e prolongado entre humanos e animais selvagens pode gerar desastres. A MTC incentiva muito o comércio de animais selvagens como morcegos, pangolins e roedores que abrigam doenças que podem abrigar vetores de doenças para os humanos.
Para resumir, a medicina tradicional chinesa oferece pouco ou nenhum benefício à saúde, ao mesmo tempo em que põe em perigo várias espécies animais, colocando os consumidores em risco devido a produtos duvidosos e aumentando a probabilidade de pandemias globais. Dada a sua imensa popularidade em todo o mundo, pode ser o “remédio” alternativo mais prejudicial.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários