Nos últimos 15 anos, as companhias aéreas encontraram uma nova maneira de aumentar a receita: espremer mais assentos em cada avião. O resultado disso é a frustração e a resistência dos passageiros, que agora suportam assentos mais estreitos com menos espaço para as pernas. E a resolução do problema está longe de ser apreciada. Em 2022, a Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados arquivou uma proposta que estabelecia regras para a disposição de assentos nas aeronaves com espaços maiores visando uma maior comodidade dos passageiros. |
O Projeto de Lei 5047/20 estabelecia que a Agência Nacional de Aviação (Anac) definisse padrões sobre os assentos da aeronave, como distância mínima entre assentos e material de composição das poltronas, com o objetivo de garantir aos passageiros padrões básicos de conforto. O projeto também estipulava um mínimo de assentos especiais para pessoas cujo peso ou altura esteja fora do padrão da população.
A proposta foi rejeitada com a alegação de que "conforto é uma variável subjetiva" e que a Anac tem competência legal para editar regras e critérios sobre o tema, o que não é verdade, de fato, a agência mantém as penas abertas para as empresas aéreas.
Além de caro, viajar de avião no Brasil é cada vez mais desconfortável. A Anac "não estipula" um espaço mínimo entre poltronas. A decisão fica a cargo da empresa fabricante da aeronave e da companhia área. No entanto, durante o processo de certificação, a Anac avalia se o espaço útil permite que o avião seja evacuado em até 90 segundos.
Ao contrário do Brasil, os reguladores federais americanos começaram a receber comentários públicos sobre uma proposta para impor padrões mínimos de largura e espaço para as pernas dos assentos das companhias aéreas para interromper os muitos anos de encolhimento. Se algo não for feito logo os voos locais adotarão os assentos verticais da Aviointeriors.
Os padrões são necessários, dizem os defensores dos direitos dos passageiros, para garantir que ninguém sofra durante voos longos e possa escapar rapidamente de um avião em caso de emergência. As companhias aéreas se opõem a qualquer padrão, dizendo que estudos mostraram que o tamanho dos assentos não afeta a rapidez com que os passageiros saem de um avião em uma catástrofe.
O Departamento de Transportes dos EUA também não impõe nenhum padrão de espaço para as pernas, largura ou conforto do assento. Em vez disso, o governo federal permite que as companhias aéreas coloquem qualquer número de assentos em uma cabine, em qualquer tamanho, desde que os passageiros possam evacuar em uma emergência em 90 segundos. É um padrão que está em vigor desde a década de 1990 no mundo todo.
Na última década, as companhias aéreas reduziram o espaço para as pernas para acomodar mais assentos por cabine. Desde 2011, a distância média entre os assentos caiu de 90 centímetros para 75, de acordo com um grupo de direitos dos passageiros. As companhias aéreas de custo ultrabaixo reduziram o espaço em muitos assentos para 70 centímetros.
Isso só demonstra como o brasileiro voa em "lata de sardinha". Em 2010, Anac criou selos através de sua resolução nº 135, que criava cinco categorias de espaço: A, com mais de 73 centímetros entre poltronas; B, entre 71 e 73; C, entre 69 e 71; D, de 67 a 69; e E, menos de 67 centímetros entre os assentos. Ou seja o selo de distância da Anac é comparável aos das companhias aéreas de baixo custo.
O processo permitiu que as companhias aéreas coletassem mais receita de passageiros, compensando os preços dos combustíveis que começaram a disparar a partir de 2008.
Mas estudos de saúde mostraram que, desde o final dos anos 1980, o brasileiro médio com mais de 20 anos ganhou cerca de 13 quilos e o tamanho de sua cintura aumentou mais de 5 centímetros. Da mesma forma, ainda que seja considerado baixinho a estatura média passou de 1m64 para 1m73, enquanto o espaço entre assentos só fez diminuir.
Os defensores dos passageiros dizem que a realidade em um avião é diferente hoje da década de 1980. Passageiros com mais de 1m80 não conseguem sair do assento se o passageiro da frente reclinar a poltrona. Os passageiros atuais tendem a carregar vários dispositivos eletrônicos nos aviões e mais bagagem de mão para evitar taxas de bagagem. Essas mudanças, dizem os defensores dos passageiros, tornam a evacuação de um avião com assentos apertados ainda mais difícil.
Representantes da indústria aérea dizem, lógico, que não há nada de errado com o status quo dos assentos das companhias aéreas. Elas ameaçam aumentar os preços ou cobrar taxas de bagagem mais altas para compensar a perda de receita por ter menos passageiros amontoados.
O produtor do canal do Youtube Vox, Edward Vega, explica por que a distância os assentos do avião, coloquialmente conhecida como "espaço para as pernas", diminuiu com o tempo no vídeo logo abaixo. A explicação simples é "dinheiro". As companhias aéreas não têm requisitos legais de espaço para as pernas, por isso faz mais sentido financeiro oferecê-lo a um valor maior para quem pode pagar.
- "A fim de obter o máximo número de pessoas a bordo, você deve inovar -como projetar assentos mais finos- ou reduzir o espaçamento dos assentos. As companhias aéreas fizeram as duas coisas", diz Edward. - "Além disso, agora eles oferecem a opção de gastar mais dinheiro para o passageiro ter mais espaço para as pernas, permitindo que você (e sua carteira) escolha o conforto que deseja."
O que ele quer dizer com "gastar mais dinheiro", pode ser traduzido em assento premium, também conhecido como assento conforto, que é uma poltrona comum, da Classe Econômica, com mais espaço, seja nas primeiras fileiras, ou nas saídas de emergência, e custam em torno de 30% do preço da passagem. Já a Classe Econômica Premium (ou flexível), disponível nos voos de longo trajeto de poucas companhias aéreas, geralmente oferece uma poltrona maior e melhor, com apoio para os pés, além de um serviço de bordo mais incrementado, mas podem custar bem mais que o dobro da econômica.
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