Em 1969, o britânico Donald Crowhurst se propôs a dar a volta ao mundo sozinho em uma corrida de veleiros, mas, na verdade, nunca deixou o Atlântico durante seus 243 dias no mar, enquanto falseava as posições no mapa. Enquanto pesquisava em 2015 para escrever um artigo sobre essa rocambolesca história, esbarrei pela primeira vez com a notícia de que um longa-metragem sobre ele estava sendo produzido. Vários sites publicaram relatos de um filme britânico de alto nível estrelado por Colin Firth e Rachel Weisz, e algumas fotos foram postadas on-line confirmando a produção. |
Parecia uma infeliz coincidência, já que dificilmente escrevo algum artigo que inevitavelmente poderia causar spoiler no filme. De forma que deixei a história de lado para ser escrita em outro momento. Até tentei encontrá-la no site da Reader's Digest -sem sucesso-, porque me lembrava que tinha lido o relato do episódio no antigo Almanaque Seleções.
Nos anos seguintes, no entanto, a data de lançamento do filme foi repetidamente adiada, tanto que se tornou um assunto recorrente entre os fofoqueiros de Hollywood, que especulavam que a viúva de Donald, Clare, não concordou com algumas passagens do roteiro, ou que o lançamento estava estava sendo posposto para coincidir com o 50º aniversário dos eventos, ou mesmo que nunca seria lançado nos cinemas.
O filme "The Mercy", intitulado no Brasil como "Somente o Mar Sabe", foi lançado em fevereiro de 2018 e faz jus a trágica história de Donald Crowhurst sobre sua loucura no mar. Agora, cinco anos depois decidi escrever o artigo já que certamente não causará spoiler em ninguém.
Muito antes do filme de Hollywood, a história inspirou filmes, livros, peças de teatro, instalações de arte, poemas e até uma ópera. Enquanto muitas histórias de aventuras no mar parecem deixar o público em geral apático, o conto de Donald continua a fascinar quase 55 anos depois que o marinheiro mais famoso de Teignmouth, Inglaterra, desapareceu sem deixar vestígios. E ainda, apesar das muitas histórias escritas sobre ele, realmente sabemos muito pouco sobre ele do que sabíamos há 54 anos.
O começo de tudo: concurso Globo de ouro
Donald Crowhurst em 1969.
Tudo começou quando Francis Chichester fez sua histórica circunavegação sozinho em 1966-67. Não foi o primeiro a fazê-lo, mas certamente o mais rápido até aquele ponto, completando a circunavegação em 226 dias com apenas uma parada, em Sydney, para consertar sua autodireção. Mesmo antes de atracar em Plymouth, havia uma percepção geral, que se espalhou como osmose por todo o mundo da vela, de que o próximo passo seria velejar sozinho sem parar.
O desafio foi transformado em concurso pelo Sunday Times que, em março de 1968, anunciou dois prêmios: um troféu Globo de Ouro para a primeira pessoa a dar a volta ao mundo sozinho e sem escalas, e 5.000 libras de prêmio em dinheiro para a pessoa que fizesse isso no tempo mais rápido. Esta era então uma soma considerável, equivalente a mais de 500 mil reais hoje. A única estipulação era que os competidores deveriam sair de um porto britânico entre 1º de junho e 31 de outubro de 1968 e retornar ao mesmo local.
Nove capitães acabaram se inscrevendo para a corrida: a famosa dupla transatlântica de remo Chay Blyth e John Ridgway, que navegavam em barcos quase idênticos de fibra de vidro de 30 pés; Bernard Moitessier, já uma espécie de lenda na França por quebrar o recorde de navegação de longa distância em seu ketch de aço Joshua; Loïc Fougeron, amigo de Bernard; Robin Knox-Johnston, um desconhecido oficial da marinha mercante britânica que navegava em um pesado barco de madeira chamado Suhaili; dois ex-oficiais da marinha britânica, Bill King e Nigel Tetley; o experiente marinheiro italiano Alex Carozzo; e o desconhecido Donald Crowhurst.
Donald era de longe o menos experiente, o estranho. Nascido na Índia em 1932, ele foi para um colégio para filhos de ingleses abastados depois da guerra, até que as finanças da família e a morte de seu pai o forçaram a interromper seus estudos.
Ele ingressou na Força Aérea Real em 1948, mas foi expulso depois de seis anos depois de sair com um carro da companhia na noitada; a mesma coisa aconteceu quando ele se juntou ao exército e foi forçado a renunciar depois que foi pego bêbado tentando fazer uma ligação direta em um carro durante uma escapadela.
O caráter persuasivo de Donald
Donald com sua esposa Clare e seus filhos Rachel, Simon, Roger e James, por volta de outubro de 1968.
Em seguida, ele conseguiu um emprego como caixeiro-viajante de uma empresa de materiais elétricos, mas foi novamente demitido após bater o carro da empresa. Sempre persuasivo, ele conseguiu um emprego como engenheiro-chefe de design de uma empresa de eletrônicos em Somerset e, em 1962, abriu sua própria empresa, a Electron Utilisation, para fabricar dispositivos eletrônicos para iates.
A empresa teve um bom começo, vendendo um localizador de direção de rádio simples, mas bem projetado, que Donald apelidou de Navicator. Algumas empresas da área investiram no projeto, antes de desistirem porque a Electron não estava atendendo os pedidos.
Rapidamente ficou claro que, embora Donald fosse uma personalidade carismática e um inovador brilhante, ele não tinha perspicácia nos negócios para administrar uma empresa de sucesso, e a Electron Utilization logo estava com problemas financeiros.
Donald conseguiu persuadir o empresário local Stanley Best a investir 1.000 libras para levar a empresa ao longo do que ele garantiu ser um período temporário de escassez, mas devia ser óbvio para ele que estava a caminho de outro fracasso.
O fracasso como empresário
Colin Firth como Donald Crowhurst no filme "Somente o Mar Sabe".
Então com 35 anos, ele podia ver o mesmo padrão se repetindo, de alta ambição frustrada por mesquinhos aspectos práticos. Só que, casado com Clare, com quatro filhos e morando em uma casa confortável nos arredores de Bridgwater, em Somerset, as apostas eram maiores do que nunca.
Sua resposta ao fracasso foi reinventar-se novamente. Dessa vez, ele se tornaria um velejador recordista, um herói marítimo: daria a volta ao mundo sozinho, embora até então só tivesse se aventurado em velejar, principalmente, a bordo de um saveiro de 20 pés. Primeiro, porém, ele precisava de um barco.
Depois de não conseguir persuadir um comitê local a emprestar-lhe um bom barco para a viagem, ele decidiu que um trimarã seria a embarcação ideal, apesar de nunca ter navegado em um. Para obter o financiamento para construir o barco dos seus sonhos, ele deu talvez o maior golpe de sua vida.
Com a sua empresa afundando cada vez mais em um grande buraco, seu patrocinador Stanley Best queria o reembolso do empréstimo, mas Donald conseguiu persuadi-lo de que a melhor maneira de recuperar seu dinheiro seria financiar a construção do novo barco.
A reviravolta
Uma réplica do Teignmouth Electron de 41 pés usado nas filmagens de "Somente o Mar Sabe".
O cerne de seu argumento era que ele usaria o trimarã como uma plataforma de teste para suas novas invenções, e a publicidade obtida ao entrar na corrida catapultaria a empresa para o sucesso. O problema era que o empréstimo era garantido pela Electron Utilisation, o que significava que, se o empreendimento falhasse, a empresa iria à falência.
Para entender como ele conseguiu essa reviravolta é preciso voltar no tempo. Fotos de Donald o fazem parecer nerd e nada legal aos olhos modernos. Com suas orelhas de abano, testa alta, cabelos cacheados, gravata e suéter com decote em V, ele parece o epítome do inventor excêntrico. Mas todos os relatos contemporâneos o descrevem como uma personalidade carismática e vibrante, o tipo de pessoa que ilumina uma sala quando entra, além de ser extremamente inteligente.
Na verdade, sua esperteza era um problema para ele próprio. Com o dom da palavra e, uma vez convencido de alguma coisa, podia persuadir qualquer um a acreditar nele.
- "Isso é importante. Donald tinha esse talento definitivo", disse sua esposa Clare. - "Ele podia dizer as coisas mais incríveis, mas não importa o quão malucas parecessem, ele era inteligente e engenhoso o suficiente para torná-las realidade. Sempre. Este é um ponto muito importante sobre sua personalidade."
O último a partir na corrida e cheio de dívidas
A viúva Clare segura a última fotografia tirada de Donald com sua família.
Então Donald conseguiu o dinheiro para o Teignmouth Electron, que foi construído pela Cox Marine quando quase todos os outros capitães já haviam começado suas tentativas de volta ao mundo. Donald finalmente partiu em 31 de outubro, apenas algumas horas antes do prazo final do Sunday Times expirar e seu barco não estava realmente acabado.
Nenhuma das invenções inteligentes que ele criou para o barco estava conectada, incluindo a importantíssima bolsa de flutuação no topo do mastro, que deveria inflar se o trimarã virasse. Seu revolucionário "computador", que deveria monitorar o desempenho do barco e acionar vários dispositivos de segurança, não passava de um monte de fios soltos.
Pior ainda, ele teve que pedir ainda mais dinheiro emprestado a Stanley para terminar o barco e hipotecou sua casa para garantir o empréstimo. Donald parecia bem desconexo perambulando pelo convés de seu trimarã ao partir para sua grande aventura.
Um barco furado cheio de problemas
Foi apenas o começo de seus problemas. Depois de dois dias no mar, ainda à vista da Cornualha, os parafusos começaram a cair de sua autodireção e, não tendo sobressalentes a bordo, ele teve que canibalizar outras peças da máquina para substituí-los.
Alguns dias depois, no meio do Golfo de Biscaia, ele descobriu que o compartimento dianteiro de um dos cascos estava cheio de água de uma escotilha com vazamento. Logo, outros compartimentos começaram a vazar e, como ele não conseguiu a tubulação correta para as bombas de porão, sua única opção foi retirar a água com um balde. Então, duas semanas depois de deixar Teignmouth, seu gerador quebrou após ficar encharcado com água de outra escotilha com vazamento.
- "Este maldito barco está caindo aos pedaços devido à falta de atenção aos detalhes de engenharia!!!", escreveu ele em seu diário. Alguns dias depois, ele fez uma longa lista de trabalhos que precisavam ser feitos e concluiu que suas chances de sobrevivência, se continuasse, eram de, no máximo, 50%. Foi quando começou a pensar em abandonar a corrida.
Mas Donald estava em um dilema triplo. Se desistisse nessa fase, não apenas sua reputação seria destruída, mas seu negócio iria à falência e, talvez o pior de tudo, ele e sua família perderiam a casa. Por todos esses motivos, desistir não era uma opção.
Logo ficou claro que suas estimativas para a velocidade do barco eram extremamente otimistas: ele havia estimado uma média de 220 milhas por dia, enquanto a realidade era cerca de metade disso, em um dia bom. Não havia como ele alcançar os outros competidores ou ganhar qualquer um dos prêmios, a menos que algo extraordinário acontecesse.
E assim, apenas cinco semanas depois de partir de Teignmouth, Donald começou uma das fraudes mais audaciosas da história da navegação: ele começou a falsificar sua posição. A partir de 5 de dezembro, ele criou um diário de bordo falso, com vistas do sol plotadas com precisão, retrocedendo a partir de posições imaginárias.
Para parecer convincente, ele ouvia previsões para as áreas relevantes e escrevia um comentário fictício como se estivesse experimentando essas condições. Foi uma façanha de marinharia, e apenas alguém com o brilhantismo de Donald poderia tê-lo realizado de forma convincente.
O Grande engano
Depois de alguns dias de prática, ele se sentiu suficientemente confiante para enviar seu primeiro comunicado de imprensa falso, alegando que havia navegado 243 milhas em 24 horas, um novo recorde mundial para um marinheiro sozinho. Na verdade, ele navegou 160 milhas, talvez um recorde pessoal, mas certamente nenhum recorde mundial.
E assim começou a grande fraude. Enquanto Donald descia lentamente o Atlântico, seu avatar imaginário já estava contornando o Cabo da Boa Esperança e se dirigindo para o Oceano Índico. Gradualmente, em parte por mal-entendidos e em parte devido ao giro adicionado por seu agente no Reino Unido, as posições de Donald tornaram-se cada vez mais exageradas, até chegando a parecer que poderia vencer a corrida, afinal.
Enquanto isso, o verdadeiro Donald estava vagando pelo Atlântico, se "escondendo" exatamente na mesma área em que, apenas algumas semanas antes, sugeriu brincando que um marinheiro poderia se esconder para falsificar uma viagem ao redor do mundo. Para garantir que seus sinais de rádio não fossem captados pelas estações terrestres erradas, ele manteve o silêncio do rádio por quase três meses, de meados de janeiro até o início de abril, e culpou a falha do gerador novamente.
A parada na Argentina e o retorno
Teignmouth Electron foi encontrado à deriva no meio do Atlântico, 700 milhas a oeste dos Açores, em 10 de julho de 1969.
Incrivelmente, ele até desembarcou em uma baía remota perto de Buenos Aires, na Argentina, para comprar materiais para consertar um dos cascos, que havia começado a desmoronar. Apesar de ser saudado e registrado pelas autoridades locais, essa parada de quebra de regra permaneceu sem ser detectada.
Em 29 de março, ele alcançou seu ponto mais ao sul, pairando a alguns quilômetros das Malvinas, a 13.000 quilômetros de casa, antes de iniciar sua ascensão pelo Atlântico.
Finalmente, em 9 de abril, ele quebrou o silêncio do rádio e explodiu de volta à corrida com um telegrama contendo a frase infame: "HEADING DIGGER RAMREZ", sugerindo que ele estava se aproximando de Diego Ramirez, uma pequena ilha a sudoeste do Cabo Horn, quando, na verdade, estava perto de Buenos Aires.
A essa altura, Bernard Moitessier teve seu "momento de loucura" e desistiu da corrida e estava navegando para o Taiti "para salvar sua alma". Os únicos outros competidores que restavam eram Robin Knox-Johnston, que subia lentamente o Atlântico e a caminho de ser o primeiro a chegar em casa, e Nigel Tetley, correndo em seu encalço para receber o prêmio pela viagem mais rápida, porque ele saiu bem depois de Robin.
O dilema
Rachel Weisz interpreta Clare Crowhurst em "Somente o Mar Sabe".
Parece provável que Donald estava planejando terminar em segundo lugar atrás de Nigel Tetley, o que o salvaria da ruína financeira sem chamar muita atenção para seus livros de registro fraudulentos.
Mas seu reaparecimento na corrida teve um efeito dramático no curso dos acontecimentos. Já cuidando de um barco quebrado na perna do Atlântico de volta para casa, Nigel Tetley temeu perder o recorde de velocidade para o ressurgente Donald e começou a empurrar seu trimarã mais rápido em direção à linha de chegada. A cerca de 1.800 milhas de casa, o inevitável aconteceu: o barco de Nigel Tetley quebrou e afundou, e ele teve que ser resgatado por um navio que passava.
De repente, os holofotes mudaram para Donald, o improvável amador que aparentemente surgiu do nada para vencer os profissionais. A BBC tinha uma equipe de prontidão para gravar seu retorno ao lar e esperava-se que centenas de milhares de pessoas se aglomerassem à beira-mar em Teignmouth para recebê-lo em casa.
Era tudo que Donald temia. Como um dos vencedores, seus livros passariam por um exame muito mais minucioso, e de fato já havia alguns, incluindo o presidente da corrida, Francis Chichester, que suspeitavam que algo não estava certo.
Em meados de junho, Donald alcançou o Mar dos Sargaços e, quando os ventos alísios diminuíram e seu barco diminuiu a velocidade, ele mergulhou em seu próprio pântano mental. Era como se todos os seus fracassos anteriores o tivessem alcançado neste grande e final fracasso.
O filósofo louco
Teignmouth Electron em Cayman Brac em 1991.
E dessa vez não teve saída, não teve como se reinventar. Em vez disso, ele desistiu de ser "marinheiro" e passou a filosofar. Ao longo de uma semana, ele escreveu um manifesto de 25.000 palavras que descrevia como a humanidade havia alcançado um estado evolucionário tão avançado que agora poderia se fundir com o cosmos. Tudo o que era necessário era "um esforço de livre arbítrio". Ele encerrou seu diário em 1º de julho com este apelo desesperado:
- "Só desistirei deste jogo se você concordar que na próxima vez que este jogo for jogado ele será jogado de acordo com as regras que são elaboradas por meu grande deus que revelou finalmente a seu filho não apenas a natureza exata da razão dos jogos, mas também revelou a verdade o caminho do final do próximo jogo que Está acabado! Está está acabado! É A MISERICÓRDIA."
Seguiu-se uma contagem regressiva, terminando precisamente às 11:20:40. Não se sabe o que aconteceu a seguir, mas geralmente se supõe que Donald pulou do lado do barco para a morte. Seu iate vazio foi encontrado à deriva, com a vela da mezena levantada, por um navio que passava em 10 de julho com dois conjuntos de diários de bordo: o verdadeiro e o falso. Nada indicava no barco que ele havia sido invadido por uma onda traiçoeira, ou que tenha ocorrido qualquer acidente que possa ter causado a queda de Donald no mar.
O provável suicídio
Simon Crowhurst com o diário de bordo de seu pai.
De seu aparente estado de espírito, conforme indicado por suas entradas mais recentes no diário de bordo e declarações filosóficas, parece provável que ele deliberadamente decidiu tirar a própria vida, possivelmente em um esforço para se tornar um "ser cósmico de segunda geração" de acordo com sua crença, que a partir daí não precisava mais de seu corpo terreno
Coube aos jornalistas do Sunday Times, Nicholas Tomalin e Ron Hall, juntar as peças do que havia acontecido e revelar ao mundo a elaborada farsa de Donald. Segundo eles, as últimas semanas de suas entradas no diário, uma vez que ele estava enfrentando a possibilidade real de ganhar o prêmio, mostraram crescente irracionalidade.
Nicholas e Ron acreditam que, diante de uma escolha entre duas situações impossíveis: admitir sua fraude e enfrentar vergonha pública e provável ruína financeira, incluindo a perda da casa da família, ou voltar para casa para uma recepção de herói fraudulenta, e então ter que viver com a culpa e o possível desmascaramento subsequente, Donald mergulhou em uma paranóia clássica, um distúrbio psicótico no qual idéias ilusórias são construídas em uma estrutura complexa e intrincada.
Embora Nicholas e Ron tenham descartado a possibilidade de que algum tipo de intoxicação alimentar tenha contribuído para sua deterioração mental, eles reconheceram que não há evidências suficientes para descartá-la, ou várias outras hipóteses.
Eles também reconheceram que outras hipóteses poderiam ser construídas, envolvendo mais enganos: como a de que Donald talvez tivesse fingido sua própria morte e que de alguma forma tenha sobrevivido fugindo do Teignmouth Electron em outro barco, mas que eram extremamente improváveis.
O vencedor da corrida e um exemplo de altruísmo.
Robin Knox-Johnston é recebido na sua chegada à Plymouth.
Ah sim... a corrida: com Donald e Nigel Tetley fora da corrida, o oficial da marinha mercante britânica Robin Knox-Johnston, em seu lento barco de madeira, foi a única pessoa a terminar a corrida e recebeu os dois prêmios devidamente, embora posteriormente tenha demonstrado um grande senso de altruísmo e generosidade ao doar o prêmio em dinheiro de £ 5.000 para a viúva de Donald, que nesse ínterim nem tinha onde morar.
O significado da viagem de Donald mudou muito desde a publicação do livro "A estranha última viagem de Donald Crowhurst" de Nicholas e Ron em 1970. Naquele então ele era visto como um farsante que teve um fim patético. Agora é mais provável que seja visto como um "herói" trágico, uma alma torturada em exílio involuntário do mundo estável.
O grande interesse público
A corrida do Globo de Ouro gerou enorme interesse público na época, e a descoberta do barco de Donald foi notícia de primeira página. É um fascínio que continua quase inabalável até hoje. O filme francês Les Quarantièmes Rugissants, baseado na história de Donald, foi lançado em 1982, enquanto pelo menos cinco peças abordaram o tema, assim como a ópera Ravenshead de 1998.
Vários livros foram publicados sobre Donald e a corrida em geral, embora nenhum deles acrescente nada substancial à história contada por Nicholas e Ron em 1970. No entanto há diferentes narrativas sobre a história. Por exemplo. Um romance de 1999 de John Preston, "Ink", fala sobre um ex-velejador idoso que vive sozinho em um remoto hotel à beira-mar inglês. Seu nome: como Donald Crowhurst.
O romance de 2017 "O Barco Além do Tempo", de Heide Heinig, apresenta Donald em um universo alternativo imaginário para o qual ele foi levado por aliens, com base nos "seres platinados" que Donald descreveu ter conversado em seu diário de bordo, durante suas alucinações.
Em 2006, o aclamado documentário "Deep Water" incorporou imagens contemporâneas da corrida, incluindo algumas filmadas por Donald durante sua viagem, e em 2017 o diretor Simon Rumley lançou sua própria versão estilizada da história, chamada simplesmente de "Donald".
"Somente o Mar Sabe, então, é apenas a versão mais recente da saga de Donald, embora com Colin Firth e Rachel Weisz a bordo, seja o mais importante. O filme é um drama psicológico cativante, que mostra como, por meio de uma série de pequenos passos, uma pessoa pode se encurralar em um canto do qual não há como escapar.
É essa humilhação de um homem iludido, mas essencialmente bem-intencionado, que dá à história tanta ressonância e inspira artistas, músicos e escritores há mais de cinco décadas. Pois, como qualquer um que tenha navegado longe da terra sabe, o mar tem o dom de trazer à tona nossos demônios interiores. Há um Donald em todos nós.
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