O dia que Kurt Cobain avacalhou o próprio show na Argentina

Há 30 anos o Nirvana fez um dos seus piores shows no Brasil durante o Hollywood Rock, de 1993. Enquanto Krist Novoselic e Dave Grohl tentavam no desespero manter a música nos eixos o antipático Kurt Cobain, não deixava. Ele estava em outra. Era como se não estivesse lá, ou se estava, era como se não quisesse ser visto. O histórico de shows do Nirvana na América do Sul realmente deve ser esquecido. Os problemas não ocorreram só no Brasil: no ápice de seu sucesso, em outubro de 1992, o trio de Seattle desembarcou em Buenos Aires para apresentação única no Estádio José Amalfitani.

Além de ser uma das maiores estrelas do rock de todos os tempos, Kurt Cobain foi um defensor apaixonado e sincero dos direitos das mulheres. Essa defesa muitas vezes se infiltrou no trabalho dentro da música, desde a composição de canções anti-estupro até a plataforma de bandas lideradas por mulheres com vagas de apoio ao Nirvana.

Kurt frequentemente convocava bandas emergentes lideradas por mulheres, cuja música ele admirava, para se juntar a elas em turnê. Quando a banda pegou a estrada para promover Nevermind, Kurt chamou a banda japonesa de pop-punk Shonen Knife para abrir para eles. Mais tarde, em 1993, a Calamity Jane os apoiou em um show em Buenos Aires, Argentina, um evento que demonstraria o firme compromisso de Kurt em apoiar as mulheres, a tal ponto que ele estava disposto a sabotar seu próprio desempenho.

Durante um show no Estádio José Amalfitani em outubro de 1992, o apoio da banda feminina Calamity Jane foi mal recebido pelo público que começou a atirar objetos no palco. A recepção hostil acabou sendo demais para a banda, que, como Kurt lembra:

- "Foi terrível, uma das piores coisas que já vi, tanta massa de machismo de uma só vez", disse ele em entrevista mais tarde.

Kurt, como era de se esperar, ficou furioso com a ação, e o baixista Krist Novoselic precisou dissuadir Kurt que se recusava a tocar. Mas ele decidiu divertir-se com o público e ridicularizá-los por causa do seu sexismo.

- "Acabamos nos divertindo, rindo deles. Antes de cada música, eu tocava a introdução de 'Smells Like Teen Spirit' e depois parava. Eles não perceberam que estávamos protestando contra o que eles fizeram", lembrou ele.

Kurt também adaptou seu setlist para irritar seu público, abrindo com uma jam improvisada e tocando uma série de músicas de uma coletânea pouco conhecida do público.

- "Tocamos por cerca de quarenta minutos, e a maioria das músicas eram do Insecticide, então eles não reconheceram muita coisa", explicou ele.

Embora o Nirvana tenha tocado a maior parte de seu querido disco de sucesso, Nevermind, eles retiveram seu maior sucesso, "Smells Like Teen Spirit", provocando o público com ela várias vezes, mas nunca tocando completamente. E quando provocava ainda sacaneava praticamente engolindo o microfone.

Nos anos seguintes, Kurt continuou falando sobre o assunto que o chateou tanto, por causa da péssima impressão deixada pela noite no Estádio do Vélez.

- Ao longo de todo o show de abertura, o público jogou dinheiro e tudo o que tinham nos bolsos, lixo e pedras, intimidando-as", disse Kurt. - "Até que as garotas não aguentaram mais e começaram a chorar. Foi terrível, uma das piores coisas que já vi, uma grande massa de sexismo".