Na virada do século, os jornaleiros eram essenciais para a distribuição de jornais. Embora as edições matinais dos jornais fossem muitas vezes entregues diretamente aos assinantes, as edições vespertinas dependiam quase exclusivamente dos jornaleiros. A maioria deles de crianças e adolescentes, vinha de famílias pobres de imigrantes e vendia jornais à tarde e à noite, após as atividades escolares. Eles compravam maços com 100 jornais a 50 centavos de dólar e vendiam a 1 centavo cada, com um lucro de 50 centavos. Parece pouco, mas estamos falando de 1899, cujo valor reajustado hoje daria em torno de 19 dólares. |
Ou seja, se fosse hoje, estes garotos chegavam ao fim dia com 100 reais, mas não era para proveito próprio. Muitos deles eram arrimo de família e esse dinheiro provavelmente era utilizado para colocar comida na mesa de casa. Mas eles sabiam que sempre deviam ter no mínimo 50 reais no bolso para poder comprar um novo maço de jornais no dia posterior.
Ver as fotos, que ilustram este artigo, de crianças de pés no chão com no máximo 7 anos, é de cortar o coração. Mas leis que abordassem questões relacionadas com o emprego e o bem-estar das crianças trabalhadoras era uma modernice que só chegaria nos Estados Unidos décadas mais tarde com a Lei de Normas Trabalhistas Justas de 1938, que passou a restringir o emprego e o abuso de crianças trabalhadoras. Além disso, os pais não podiam se dar ao luxo de manter outra boca dentro de casa sem fazer nada.
Em 1898, com o aumento das vendas de jornais na Guerra Hispano-Americana, vários editores aumentaram o custo de um pacote de 100 jornais para um jornaleiro de 50 centavos para 60 centavos, um aumento de preço que na época foi compensado pelo aumento nas vendas. Após a guerra, muitos jornais reduziram o custo aos níveis anteriores, com as notáveis exceções do Evening World, de Joseph Pulitzer, e do New York Evening Journal, do manipulador William Randolph Hearst.
Aproximadamente em 18 de julho de 1899, um grande grupo de jornaleiros em Long Island rapidamente formou um sindicato, elegeu Louis "Kid Blink" Baletti, de 18 anos, como seu presidente. No outro dia eles invadiram uma central de distribuição do New York Evening Journal e declararam greve contra os jornais de Joseph e William, até que os preços caíssem para 50 centavos de novo. Os jornaleiros de outras regiões da cidade foram rápidos em se juntar ao sindicato.
Os métodos dos jornaleiros foram violentos nos primeiros dias da greve. Qualquer homem ou rapaz que vendesse os dois jornais boicotados era assediado por um grupo de grevistas, espancado e os seus jornais destruídos. Os donos dos jornais pagavam adultos para venderem os seus jornais, oferecendo-lhes proteção policial, mas os grevistas muitas vezes encontravam formas de distrair os agentes para que pudessem atacar os "fura-greves".
Os jornaleiros também distribuíram panfletos e penduraram cartazes pela cidade, incentivando as pessoas a ajudá-los em sua causa, não comprando o World e o Journal.
Em 24 de julho de 1899, os jornaleiros realizaram um comício em toda a cidade. Estima-se que sete mil meninos participaram do comício. Uma ferradura floral foi oferecida a Kid Blink como recompensa por fazer o melhor discurso da noite.
Nos dias que se seguiram ao comício, as táticas dos jornaleiros mudaram para serem em grande parte não violentas. Apesar de já não espancarem as pessoas que vendiam o World e o Journal, a greve ainda foi eficaz porque o público estava do seu lado e optou por não comprar os jornais, mesmo que estivessem à venda.
Em 26 de julho de 1899, espalharam-se rumores entre os jornaleiros de que os líderes da greve, Kid Blink e David Simmons, haviam traído a greve e concordado em vender os jornais boicotados em troca de suborno dos executivos do jornal. Ambos os meninos negaram as acusações, mas algumas fontes observam que Kid Blink usava roupas um pouco mais bonitas do que o normal, indicando a possibilidade de ele ter aceitado um suborno.
Em resposta a essas suspeitas, Kid Blink e David Simmons renunciaram aos seus cargos de liderança, Simmons mudou de vice-presidente do sindicato para tesoureiro e Kid Blink tornou-se um conselheiro.
Naquela noite, Kid Blink foi perseguido pelas ruas por um grupo de meninos irritados com os rumores de que ele havia abandonado a greve. Um policial, ao ver o grupo de meninos correndo, presumiu que Kid Blink fosse o líder e o prendeu por conduta desordeira. Kid Blink foi multado e solto, enquanto um grupo de jornaleiros do lado de fora do tribunal zombava dele.
Em 1º de agosto de 1899, o World e o Journal fizeram uma oferta aos jornaleiros: o preço de cem jornais baixaria para 55 centavos, eles recomprariam quaisquer jornais não vendidos e ademais os garotos teriam direito a um "lanche" no momento que comprassem o maço de jornais.
Isso significava que os meninos, que tinham dificuldade para vender todos os seus jornais, não seriam forçados a vender até tarde da noite para evitar prejuízos durante o dia. E ainda que o "lanche" fosse apenas uma fatia de pão seco, servia para aliviar a fome. Os jornaleiros aceitaram esta proposta, encerraram a greve e dissolveram o sindicato em 2 de agosto de 1899.
A greve durou duas semanas, fazendo com que o World diminuísse sua circulação de 360 mil jornais vendidos por dia para menos de 125 mil. Embora o preço dos jornais não tenha baixado integralmente ao valor anterior, a greve teve sucesso ao forçar os dois jornais a oferecer recompras integrais aos seus vendedores, aumentando assim a quantidade de dinheiro que os jornaleiros recebiam pelo seu trabalho.
Este evento inspirou o filme musical de 1992, "Newsies" ("Extra! Extra!" no Brasil), de 1992, o maior fiasco de bilheteria da Disney de todos os tempos. Ironicamente o filme foi adaptado para a Broadway em e se tornou um grande sucesso, com exibições na Broadway de 2012 a 2014, e em turnê de 2014 a 2016.
O rosto da greve foi indubitavelmente Louis "Kid Blink" Baletti. Ele foi descrito pelos jornais da época como um "menino pequeno" com cabelos ruivos e um tapa-olho no olho esquerdo. Kid Blink era um líder carismático e vários jornais publicaram discursos que ele proferiu nos comícios, um dos quais diz em parte:
- "Amigos e trabalhadores. Este é um momento que testa o coração dos homens. Este é o momento em que temos que nos unir como cola. Sabemos o que queremos e vamos conseguir mesmo sendo cegos."
Após a greve, Kid Blink conseguiu emprego como charreteiro e posteriormente como gerente de um bar. Mais tarde ele foi o braço direito do mafioso nova-iorquino George Washington "Chuck" Connors. Ele morreu em julho de 1913, aos 32 anos, de tuberculose.
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