O mês passado foi o setembro mais quente já registrado, colocando 2023 no caminho certo para ser o ano mais quente em quase 175 anos de coleta de dados climáticos, de acordo com um novo relatório da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, por suas siglas em inglês). O mês escaldante segue os meses de junho, julho e agosto mais quentes já registrados na história. Não foi apenas o setembro mais quente já registrado, mas foi de longe o mês mais atipicamente quente de todos os 174 anos de monitoramento de dados do clima da NOAA, segundo disse sua cientista-chefe, Sarah Kapnick, em um comunicado. |
Os pesquisadores atribuem o calor a dois fenômenos simultâneos. O primeiro deles é El Niño, um padrão climático natural marcado por temperaturas mais elevadas da superfície do mar no Oceano Pacífico central e oriental ao longo do Equador.
O segundo fenômeno é o aquecimento anormal das águas do Atlântico Norte. Embora ambos os fenômenos fossem esperados, os números surpreendem até mesmo os especialistas que investigam as alterações climáticas há anos.
Pesquisadores e meteorologistas dizem que ainda não é possível atribuir com certeza a ocorrência desses dois fenômenos às mudanças climáticas causadas pelo homem, mas o calor registrado neste momento é compatível com os modelos projetados em que há aumento da temperatura do planeta.
- "Incrível. Enervante. Incompreensível. Absolutamente chocante", escreve Zeke Hausfather, cientista pesquisador da Berkeley Earth, em um artigo de opinião no New York Times. - "À medida que as temperaturas globais quebravam recordes e atingiam novos máximos perigosos ao longo dos últimos meses, os meus colegas cientistas do clima e eu ficamos quase sem adjetivos para descrever o que vimos."
Os efeitos foram sentidos em todo o mundo. Incêndios florestais assolaram o Canadá, fortes chuvas levaram a inundações catastróficas na Líbia e secas severas na floresta amazônica secaram rios e alimentaram incêndios florestais. As cenas são terríveis. Rios com leitos secos e uma grande nuvem de fumaça pairando no céu amazônico. Manaus, encravada no meio da floresta, ficou há pouco encoberta por uma nuvem espessa de fumaça originada nas queimadas nos arredores da cidade.
Só para que se tenha uma ideia, na última segunda-feira (16/10), a aferição do nível do Rio Negro registrou o ponto mais baixo desde 1902 com 13,59 metros. Assim, a seca na região bateu o recorde da estiagem de 2010, considerada, até então, a maior da história. As medições de outros rios importantes da região, como o Madeira, indicam que a vazante também já é a maior registrada historicamente.
De acordo com o novo relatório da NOAA, setembro também bateu recordes de baixa cobertura de gelo marinho, principalmente por causa da Antárctida, que teve o seu quinto mês consecutivo com uma cobertura mínima recorde.
As temperaturas mais quentes da superfície do mar também contribuíram para as 17 tempestades nomeadas que ocorreram em todo o mundo em Setembro, sete das quais atingiram a intensidade de ciclones tropicais, como a que ocorreram em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Pesquisas anteriores associaram temperaturas oceânicas mais elevadas a furacões mais intensos.
Embora o mês passado pareça extraordinário, os pesquisadores dizem que, infelizmente, as temperaturas continuarão a subir, a menos que tomemos medidas rápidas para limitar nossas emissões de dióxido de carbono. No próximo mês, autoridades de todo o mundo se reunirão para a COP28, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, em Dubai, para discutir como alcançar as metas estabelecidas no Acordo de Paris de 2015.
Durante a COP21, na França, 196 partes concordaram em limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. Para atingir este objetivo, as emissões de gases com efeito de estufa devem atingir o pico antes de 2025 e diminuir 43% até 2030, de acordo com as Nações Unidas.
Temos o conhecimento, o dinheiro, a tecnologia e a energia limpa acessível de que necessitamos para reduzir as nossas emissões de carbono. O que impede é a falta de vontade política e de financiamento suficiente para tornar realidade as necessárias mudanças rápidas, generalizadas e intersectoriais.
Mas eu não apostaria na ONU para corrigir as alterações climáticas: ela falhou miseravelmente durante mais de 30 anos. Somos constantemente encorajados a pensar na próxima grande conferência sobre o clima como o mais importante, aquele que está prestes a fazer o avanço mais importante. Mas a COP28 não vai ser diferente e dificilmente os líderes mundiais vão apresentar planos concretos e realistas para reduzir as suas emissões líquidas nacionais de carbono a zero até 2050.
É uma esperança vã pensar que 197 países cheguem a um acordo sobre qualquer ação climática significativa, especialmente quando envolve tanto dinheiro e poder. Desde o final da década de 1950, os cientistas sabiam que o dióxido de carbono estava se acumulando e que isso poderia ser um problema. No final da década de 1970, eles sabiam que isso aconteceria, era apenas uma questão de quando. Agora o mundo está com esta batata muito quente na mão
O cientista que alertou que as alterações climáticas estavam sobre nós em 1988, James Hansen, chamou o Acordo de Paris de fraude e, desde 2015, muitas nações não estão cumprindo os seus compromissos de Paris. E mesmo que o fizessem, o aumento da temperatura média global neste século seria muito superior aos dois graus acima dos níveis pré-industriais que o acordo deveria garantir. Seja como for um relatório como este berra: "é agora ou nunca!!!"
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