Como aprender com o fracasso?

Mais cedo ou mais tarde, todo mundo falha em alguma coisa. Mas será que todos aprendem com seus fracassos? Na verdade, as evidências sugerem que a maioria das pessoas luta para superar erros e derrotas. Por que as pessoas evitam as lições do fracasso? Essa é a questão que os pesquisadores Lauren Eskreis-Winkler e Ayelet Fishbach exploraram em um artigo recente publicado pela revista Perspectives on Psychological Science. Eles encontram uma série de obstáculos emocionais e cognitivos para aprender com o fracasso – e fornecem passos concretos para superá-los.

O fracasso machuca o ego, aquela sede metafórica de nossa auto-estima e auto-importância. Quando falhamos, sentimo-nos ameaçados, e essa sensação de ameaça pode desencadear uma resposta de luta ou fuga. A “luta” no contexto do fracasso parece uma rejeição generalizada do valor da tarefa, ou uma crítica às pessoas envolvidas ou à injustiça da situação que você enfrentou. No entanto, a "fuga" pode ser a resposta mais comum ao fracasso. Quando fugimos do fracasso, desviamos a nossa atenção da tarefa que ameaça a nossa percepção de nós mesmos como pessoas eficazes.

Em seu artigo, Lauren e Aylet propõem remover o ego do fracasso tanto quanto possível, observando primeiro os fracassos das outras pessoas, antes de você mesmo assumir uma tarefa. Em um dos seus estudos, metade dos participantes aprendeu lições com os resultados negativos de outras pessoas mais do que com os seus próprios. Em outras palavras, quando você pretende aprender a esquiar, provavelmente será útil assistir a vídeos no YouTube sobre erros comuns, antes de você mesmo chegar a uma pista.

Se as emoções negativas atrapalham a compreensão, elas também sugerem tentar técnicas de autodistanciamento. Isto envolve pensar na sua experiência pessoal a partir da perspectiva externa de um terceiro neutro, perguntando: - "Por que O João falhou?" em vez de - "Por que falhei?" Embora isso possa parecer extravagante, parece funcionar.

De acordo com um estudo, quando as pessoas adotam uma perspectiva distanciada ao discutir um acontecimento difícil, elas compreendem melhor as suas reações, experimentam menos sofrimento emocional e apresentam menos sinais fisiológicos de estresse. A longo prazo, também experimentam uma reatividade reduzida quando se lembram do mesmo evento problemático semanas ou meses depois, e são menos vulneráveis a pensamentos recorrentes (ou ruminação).

Também pode ser útil escrever sobre o fracasso na terceira pessoa ou do ponto de vista de um eu futuro que está relembrando o fracasso.

As pessoas tendem a esconder os seus próprios fracassos, por vergonha, mas existem formas de transformar o fracasso em sucesso, transformando-o numa história de crescimento. Em uma série de estudos de 2018 e 2019, os pesquisadores pediram às pessoas que transformassem os fracassos em diferentes domínios, como trabalho, preparação física ou escola, em histórias inspiradoras para outras pessoas.

Isso muitas vezes alimentou o sucesso no futuro. Os alunos do ensino médio que compartilharam os fracassos com os do ensino médio obtiveram notas melhores do que aqueles que não reformularam seus fracassos; alunos do ensino médio que davam conselhos a alunos do ensino fundamental passaram mais tempo fazendo o dever de casa.

Como os adultos podem aplicar esses insights à vida real? Se você é um chefe, por exemplo, considere compartilhar seus erros com os funcionários para ajudá-los a melhorar seu próprio desempenho, o que os ajudará (assim como você) a aprender com o fracasso.

Existem outras maneiras de fortalecer seu próprio ego. Os estudos constatam consistentemente que os especialistas são mais capazes de tolerar o fracasso nas suas áreas, em parte porque têm um histórico passado de realizações e um futuro baseado no compromisso.

Se tudo mais falhar, tente apenas ficar triste por seus erros e derrotas. Há muitas pesquisas sugerindo que a tristeza evoluiu como uma resposta ao fracasso e à perda, e que existe para nos encorajar a refletir sobre nossas experiências. A tristeza parece melhorar a memória e o julgamento, o que pode nos ajudar a ter sucesso no futuro; o arrependimento pode realmente aumentar a motivação.

Além do desafio emocional ao nosso ego, o fracasso também apresenta um desafio cognitivo, o que significa que as informações provenientes do fracasso podem ser mais difíceis de processar do que as experiências bem-sucedidas. Enquanto o sucesso aponta para uma estratégia vencedora, a partir do fracasso as pessoas precisam inferir o que não devem fazer.

De fato, todos nós precisamos fazer uma avaliação realista sobre se uma tarefa vale nosso tempo e esforço. O fracasso inicial envia um sinal de que uma tarefa pode não proporcionar retorno sobre o investimento; assim, naturalmente nos inclinamos na direção do sucesso, mesmo quando a história de sucesso não tem nada a ver conosco. Então, como podemos fazer com que nossos cérebros prestem mais atenção às lições que advêm do fracasso?

Frequentemente, precisamos nos perguntar: minhas falhas levarão a recompensas no futuro? É por isso que metas e compromissos são importantes para superar as barreiras cognitivas para aprender com o fracasso. Ter em mente um objetivo claro a longo prazo, como tornar-se médico ou aprender a navegar, pode ajudar-nos a tolerar o fracasso a curto prazo e a ignorar a fuga à informação.

Em uma lição encorajadora do TED-Ed escrita por Dan Kwartler com a ajuda de Lauren Eskreis-Winkler e animada por Luiz Stockler, a narradora Alexandra Panzer explica como os humanos têm a oportunidade de aprender e crescer com o fracasso, apesar da desmoralização paralisante que surge quando não alcançamos um objetivo.

As pessoas muitas vezes descrevem o fracasso como um momento de aprendizagem, um tropeço necessário no nosso caminho para a melhoria. Mas aprender com nossos erros nem sempre é fácil, especialmente quando esses fracassos são desmoralizantes, esmagadores ou simplesmente confusos.

Além disso, pode não haver respostas claras sobre o motivo pelo qual uma tarefa não foi bem-sucedida, tornando muito mais difícil tornar-se amigo do fracasso. Querer aprender com nossos fracassos é completamente natural, e há muito a ganhar sendo resilientes e cultivando uma mentalidade construtiva. Mas fixar-se nos seus fracassos pode facilitar o esquecimento de todos os seus sucessos.