Na semana passada falávamos sobre "Adágio em Sol menor de Albinoni", um grande hoax musical atribuído ao músico barroco veneziano do século XVIII Tomaso Albinoni, mais que na realidade foi composto pelo próprio biógrafo de Tomaso do século XX chamado Remo Giazotto. Uma hoax musical, também mistificação musical, é uma peça musical composta por um indivíduo que a atribui intencionalmente erroneamente a outra pessoa. Por exemplo Fábio Júnior cantando "Dont let me cry", de 1975 como Mark Davis era um hoax musical. |
Na época, cantores com nome em inglês, cantando músicas estrangeiras, tinham chance de fazer mais sucesso. E Fábio "Mark Davis" Júnior fez um tremendo. De fato, o conceito de hoax musical não é novo pelos mais diversos motivos e geralmente não está realmente envolvido com o propósito de pura "farsa".
O mais famoso compositor a cometer uma série delas foi o russo Vladimir Fedorovich Vavilov, exímio violonista de 12 corsas, violinista e alaudeiro que tinha o estranho costume de não assumir as autorias de suas canções atribuindo as para outras pessoas. No caso de "Ave Maria de Caccini" ele espalhou que a canção foi composta por Giulio Romolo Caccini, um compositor, cantor, e escritor italiano do final do Renascimento e do início do Barroco.
As escolhas não eram ao acaso, as autorias eram indicadas a músicos célebres do passado cuja obra não podia ser rastreada e este foi o caso da "Ave Maria de Caccini". Em 1987, a fantástica mezzo-soprano soviética Irina Arkhipova ouviu a canção de "Caccini", composta para cordas, e perguntou se o organista Oleg Yanchenko podia arranjá-la para uma orquestra. Assim nascia um sucesso instantâneo que foi gravado depois por dezenas de cantores clássicos, incluindo estrelas de renome, como a fantástica Inessa Galante, Andrea Bocelli, Jackie Evancho, Julian Lloyd Webber, Kokia, Sumi Jo, Tarja Turunen, entre muitos outros.
Somente após sua morte é que o mundo descobriu que ele era um exímio compositor e que dezenas de obras-primas musicais eram suas. A análise estilística da partitura de "Ave Maria", por exemplo, mostrava que ela era moderna demais para ter sido escrita há mais de 400 anos e todas as pistas levavam a uma pessoa: Vladimir Vavilov.
A canção ficou bem conhecida no Brasil, quando nas festas de fim de ano de 2012, a Globo mostrou as Meninas Cantoras de Petrópolis interpretando "Ave Maria de Vavilov" nos jardins do Palácio de Cristal em Petrópolis.
A filha de Vladimir Vavilov disse mais tarde que seu pai tinha certeza de que as obras de um desconhecido violonista autodidata russo com o sobrenome banal "Vavilov" nunca seriam publicadas, mas ele realmente queria que sua música se tornasse conhecida. Isto era muito mais importante para ele do que a fama do seu sobrenome. Algo que me parece ainda mais surpreendente nesta canção é que foi composta em um período obscuro da União Soviética, quando músicas religiosas eram proibidas.
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