Toda sexta-feira, quando ainda era vivo, meu pai subia até a caixa d'água no terceiro andar do patronato da cidadezinha onde nasci no interior de Minas e aguardava o sexto badalo do sino da matriz, às seis horas, popularmente a hora da "Ave Maria", e usava seu trompete para tocar a versão de Schubert. O som ecoava por quase toda a pequena cidade em silêncio profundo, e quem não conseguia ouvir ia até o centro para ouvir tocá-lo. |
Eu era criança; entendia porque algumas pessoas rezavam, mas ainda não entendia porque muitos choravam. A empatia musical que nós faz chorar de emoção também necessita a compreensão de algumas emoções que criança ainda não tem.
Meu pai repetiu aquela sessão por 10 anos, até que certo dia a diretora da escola do grupo escolar, que havia sido transferido temporariamente para o prédio do patronato, porque uma chuva derrubou a escola, me levou para casa porque meu pai acabara de falecer de um ataque cardíaco fulminante.
A rua na frente da minha casa estava lotada de gente e meu tio me levou para andar de bicicleta e depois para a casa da minha avó. A minha ficha só caiu quando minha mãe levou eu e meus irmãos para pedir a benção para meu pai no caixão e ele não me abraçou. Foi quando chorei. Até hoje a Rádio AM toca uma gravação surrada da Ave Maria do Tião" às seis da tarde.
É por isso que gosto tanto de "aves-marias", uma música que pode evocar uma infinidade de emoções, de fato, qualquer canção bem executada tem esses poder. Você já viu alguma atuação tão boa que te deu arrepios?
Uma apresentação da seção de Trombone do Colégio Benedict, uma faculdade privada historicamente negra em Columbia, no estado americano da Carolina do Sul vem circulando on-line por sua pura demonstração de talento. O solista William Bilal deslumbra o público com uma versão eletrizante de "Black & Blues" de Al Jarreau.
A apresentação ocorreu durante uma "Batalha de Trombone" entre duas escolas em 2019, mas o vídeo só viralizou agora depois de passar pela capa do Reddit. A seção de trombone estava tocando nas arquibancadas do estádio em comemoração ao baile, mas William pegou seus colegas de banda de surpresa.
- "Para todas as pessoas que se perguntam por que a banda é tão badalada, nunca tínhamos ouvido ela tocar essa canção", escreveu Brenard Robinson, que vivenciou essa apresentação em primeira mão na arquibancada. - "Foi a primeira vez que ouvimos isso junto com o resto da multidão."
A performance solo de William não demonstra apenas puro amor pela música, mas também uma habilidade única de fazer o trombone cantar. Desde então, a seção de Trombone do Benedict fez de "Black & Blues" um elemento-chave de seu repertório, tocando a canção diversas vezes nos mais diferentes eventos. Eles também incorporaram um novo arranjo de uma versão autoral de William "Fish Fry Blues".
Eu aprendi a tocar os mais diversos instrumentos, mas nunca tive coragem de exercitar a minha embocadura em um instrumento de sopro. Simplesmente não consigo.
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