A tribo baudi, também chamada de bauzi, é uma das cerca de 260 tribos indígenas que hoje habitam a Terra de Papua. Ela está incluída na lista das 14 tribos mais isoladas do mundo que só veio a fazer contato com a sociedade moderna no começo dos anos 80. Como não poderia deixar de ser, a vasta região selvagem, as montanhas, os vales, os pântanos e os grandes rios que serpenteiam pela área do rio Mamberamo fizeram com que esta tribo quase não tivesse contato direto com a civilização moderna. |
O cotidiano desta tribo ainda é vivido de forma bem tradicional, que remonta ao período da sedentarização. De acordo com a história de sua distribuição, os baudis costumavam ser nômades coletores e caçadores da região norte da regência de Waropen. Mas durante um longo período espalhou-se ao sul do Lago Bira, Noiadi e sudeste de Neao, duas áreas localizadas nas colinas Van Rees Mamberamo.
A extensão desta área é de aproximadamente 80 quilômetros e a tribo conseguiram se espalhar porque tinham a capacidade de se deslocar com pirogas ao longo do rio e a pé. A população hoje é de apenas alguns milhares de pessoas (no máximo 2.500).
Seja como for, a população evoluiu bastante já que em 1991, a ONG etnolinguista People Groups (PG) estimou a população com um número aproximado de 1.500. Eles se espalharam nas partes norte e central da região do rio Mamberamo. Agora pode-se confirmar que o número de pessoas da tribo Bauzi aumenta a cada ano, embora não haja dados oficiais sobre o seu desenvolvimento.
Sendo uma tribo que ocupa uma área isolada, alguns homens baudi ainda usam tanga, feita com uma folha ou casca de árvore seca e amarrada com uma corda na ponta dos órgãos genitais. Também colocam enfeites em forma de ossos nas narinas.
Já as mulheres usam uma espécie de saia de folhas ou casca de árvore amarrada com uma corda na cintura para cobrir as partes íntimas. Mas não usam cobertura peitoral. Nas festas tradicionais e na recepção de convidados, os anciãos usam enfeites em forma de peruca feitas com penas de casuares e untam o corpo com água de sagu.
A maioria dessas tribos ainda vive no nível de coleta, caça e semi-nômade do Paleolítico Superior. Por conta disso, confeccionaram diversas ferramentas como flechas, lanças, facões, adagas, etc, ainda que hoje lidam muito bem com facões e machados. A maioria dos anciões também sabem fazer fogo primitivo usando apenas uma pedra, um pedaço de bambu e uma bucha seca.
Eles caçam animais da floresta, como porcos, casuares, gambás e aves. A caça é cozida na grelha ou pedra quente. Além disso, os bauzis também cultivam sagu e tubérculos como alimento básico. Acontece que eles não suas técnicas agrícolas são bem rudimentares e ninguém sabe explicar direito como eles adquiriam o conhecimento para extrair a fécula de carboidratos (substância amilácea) em forma de pó do interior esponjoso de várias espécies de palmeiras, chamadas popularmente de saguzeiros.
O processo é bem complicado, exigindo o corte de uma grande árvore aproximadamente com 15 anos de idade, logo antes de florescer. Isso se deve ao fato das frutos do saguzeiro consumirem o amido, deixando seu interior oco e fazendo a planta morrer. O interior esponjoso da palmeira é retirado e triturado com ferramentas de madeira improvisadas e seu amido é extraído com um método rigoroso de lavagem da casca esponjosa. Somente depois de bem decantado o sagu é assado no fogo alto em forma de panqueca.
Os baudis raramente consomem vegetais. É por isso que crianças menores de cinco anos, mulheres grávidas e lactantes desta tribo apresentam frequentemente sintomas de desnutrição e anemia. Também é bastante estranho como as crianças dificilmente mostrem a cara e só apareçam quando é necessário praticar um trabalho coletivo. Até o fim deste artigo você irá entender o possível motivo da tribo ocultar as crianças.
Embora limitados, os baudis também possuem conhecimentos sobre métodos naturais de cura utilizando plantas florestais (etnomedicina). A tribo viveu de forma nômade desde o seu início, adaptando-se às necessidades alimentares e de comodidade adaptativa de uma região. Eles construíram pequenas cabanas nas margens dos rios e lagos para ajudar na caça, coleta ou agricultura. A tribo costuma ser especialista na pesca de grandes tilápias e crocodilos, cuja carne é salgada para conservação.
Com a ajuda dos missionários, esta tribo conseguiu aprender um pouco sobre cultivo de tubérculos, mas este definitivamente não é seu forte, por isso geralmente o plantio é tarefa das crianças.
Nas pequenas aldeias onde vivem, constroem cabanas coletivas com estrados de palafita, para ficarem longe do chão, e paredes de casca de árvore e telhados com palha. Grande partes destas choupanas não tem qualquer separação. Por serem classificados como uma tribo isolada, a maior parte da tribo baudi não fala malaio, não sabe ler, escrever e contar. Eles só se comunicam verbalmente usando o idioma local.
A tribo tem uma forma de comunicação capaz de atravessar colinas e rios chamada "telefone da selva" desde a época de seus ancestrais. Este é um método de envio de mensagens por longas distâncias em cadeia que se origina de uma pessoa e é então transmitida a outra. O truque é gritar bem alto para que a voz ecoe e reverbere no vale, ou da margem até a montante do rio.
Como os grupos vivem dispersos ou distantes uns dos outros os "telefones florestais tornaram-se um método eficaz de comunicação para transmitir mensagens a pessoas distantes. Certamente não é uma mensagem secreta. O motivo é que quem transmite a mensagem garante que toda a floresta saiba a novidade.
O bauzis geralmente ainda aderem em sua maioria às crenças étnicas e costumes tribais (animismo). No entanto, segundo o grupo PG agora cerca de 55% converteram-se ao protestantismo evangélico. Esta porcentagem é contestável já que a ONG missionária quer arrebanhar o maior número de ovelhas baudi.
Como resultado desta conversão muitos baudis hoje deixaram de entoar seus cânticos originados em suas crenças étnicas. Eles adoram cantar e basta iniciar qualquer atividade coletiva para começarem a cantar cantigas de trabalho que falam de animais, objetos, plantas, lugares, rios e criaturas que possuem uma essência espiritual distinta.
Lingüistas missionários, auxiliados por tradutores locais, vêm tentando há anos estudar a língua e o dialeto bauzi, que possui cerca de 1.350 vocabulários que são divididos em três dialetos. Este esforço foi bem-sucedido com a publicação de diversas literaturas sobre esta tribo, incluindo a tradução da versão da Bíblia do Novo Testamento. No entanto, ninguém se esforçou o bastante para traduzir os cânticos bauzis.
Na vida social os membros da tribo costumam ser pacifistas e quase sempre seguem os conselhos dados pelos anciões. Ainda assim, mesmo os mais velhos não aderem a um modelo de liderança coletiva forte para que possam tornar-se modelos para outros membros da comunidade. No entanto, quando ocorre um conflito entre eles, se portam como "burros empacados" e a única forma de resolver é com a mudança de um dos membros para outro clã.
Desde a descoberta desta tribo na década de 1980, eles continuaram a ser educados por missionários. A maioria dos membros da tribo já não pratica a tradicional arte da guerra, pois são proibidos de usar sua pintura de guerra, em geral amarela. Mas em 1985 os bauzis se tornaram o foco da mídia, quando atacaram o povo faia e mataram quase todos os membros adultos da tribo e levaram consigo os filhos restantes e criaram-nos eles próprios.
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