Ano das Trevas: por que 536 d.C foi um ano terrível para se estar vivo?

Em 536 d.C., algo extraordinário aconteceu. Seja o que for, envolveu o mundo em trevas durante 18 meses. Para muitos, foi um dos piores anos da história. Cronistas de Constantinopla da época relataram que o sol parecia esmaecido e obscurecido, levando a falhas generalizadas nas colheitas, fome e turbulência social em todo o planeta. A pesquisa contemporânea postula que uma enorme erupção vulcânica ou uma série de erupções simultâneas podem ter sido responsáveis por este evento devastador.

Estas erupções teriam desencadeado um inverno vulcânico, alterando drasticamente o clima da Terra. As consequências deste evento variaram desde a desintegração de impérios até a notória Praga de Justiniano, com fome e milhões de mortes que iniciaram a Pequena Idade do Gelo da Antiguidade Tardia, que durou de 536 a 560.

O inverno vulcânico de 536 foi o episódio mais severo e prolongado de resfriamento climático no Hemisfério Norte nos últimos 2.000 anos. A maioria dos relatos contemporâneos sobre o inverno vulcânico são de autores de Constantinopla, a capital do Império Romano do Oriente, embora o impacto das temperaturas mais frias tenha se estendido para além da Europa.

Em 538, o estadista romano Cassiodoro descreveu em uma carta a um de seus subordinados que os raios do sol eram fracos e pareciam ter uma cor "azulada"; ao meio-dia, nenhuma sombra de pessoas era visível no chão; a lua, mesmo quando cheia, estava "vazia de esplendor"; as estações parecem estar todas confusas: um inverno sem tempestades, uma primavera sem suavidade e um verão sem calor.

Os estudos modernos determinaram que no início de 536 (ou possivelmente no final de 535), uma erupção ejetou grandes quantidades de aerossóis de sulfato na atmosfera, o que reduziu a radiação solar que atingia a superfície da Terra e arrefeceu a atmosfera durante vários anos. Em março de 536, Constantinopla começou a experimentar céus escurecidos e temperaturas mais baixas.

Em 2015, a revisão das cronologias do núcleo de gelo polar datou os depósitos de sulfato e uma camada de criptotefra no ano exato de 536. Esta é uma forte evidência de que uma grande erupção vulcânica explosiva causou o escurecimento e resfriamento observados, eliminando a necessidade de uma explicação extraterrestre, mas um evento de impacto próximo a este período de tempo não pode ser descartado.

No entanto, a origem exata da erupção permanece um mistério, obrigando os cientistas a continuar a investigar um dos episódios ambientais mais importantes da história da humanidade.