O Rio Grande do Sul vive a maior tragédia climática de sua história, em meio a um volume de chuvas que, em algumas cidades, chegou ao triplo da média esperada para esta época do ano. As chuvas e as inundações já são classificadas pelas autoridades como a maior catástrofe climática da história do Estado, com um rastro de devastação que já conta com 107 mortes, 136 desaparecidos e 374 feridos. Mas como o volume das chuvas e a extensão das enchentes se comparam às médias históricas? E por que está chovendo tanto assim no Rio Grande do Sul? |
Via: Renan Mattos
Os dados da precipitação em algumas das cidades mais populosas do RS registraram, em apenas dez dias, o dobro ou triplo das chuvas esperadas para um mês inteiro. Acredite ou não, entre os dias 1 e 2 de maio, o estado teve sete das dez cidades que tiveram mais chuva em todo o mundo!
A líder desse ranking é Fahud, em Omã, mas logo na sequência aparecem cinco cidades gaúchas: Soledade, Caxias do Sul, Santa Rosa, Ibirubá e Cruz Alta. Os outros dois municípios do RS que completam o ranking são Bom Jesus e Santo Augusto, que aparecem na oitava e na nona posição.
E essa enorme quantidade de água gerou uma cheia nos rios e nas represas. O nível do lago Guaíba, por exemplo, que circunda Porto Alegre e a região metropolitana da capital, é considerado normal quando o lago fica com até 1,3 metro nos pontos de medição. Quando o lago chega a 2,1 metros, é decretado um nível de alerta. O recorde histórico de cheia do Guaíba foi em 1941, quando ele alcançou 4,76 metros.
Porto Alegre em 1941 e 2024.
Mas essa marca de 83 anos foi superada na noite de 3 de maio, quando o lago chegou a 4,77 metros. Isso causou inundações em diversos bairros da capital gaúcha, incluindo o centro histórico. E o Guaíba continuou a subir pelos dias seguintes: na manhã de 6 de maio, ele chegou a 5,35 metros. Somente hoje, o nível baixou de 5 metros pela primeira vez desde sábado. Mesmo com a redução, o lago segue mais de 2 metros acima da cota de inundação.
E essa situação se repetiu em todo o Rio Grande do Sul. Um decreto publicado pelo Governo local reconheceu o estado de calamidade em mais de 336 cidades gaúchas, ou seja, dois terços dos quase 497 municípios do Estado, de fato, 428 das 497 cidades relataram algum problema relacionado ao temporal, com 1.482.006 milhão de pessoas afetadas.
O governador do Estado, Eduardo Leite, afirmou que o Rio Grande do Sul vai precisar de um esforço extraordinário de recuperação sem precedentes, a exemplo do plano que reconstruiu a Europa depois da Segunda Guerra.
Mas o que explica esse fenômeno? Quais eventos climáticos estão por trás de tanta chuva? O Instituto Nacional de Meteorologia explicou que as tempestades são consequência de uma combinação de três fatores principais:
- - A presença de um cavado, ou uma corrente intensa de vento sobre uma região alongada de relativa pressão atmosférica baixa, que proporcionou a formação de um tempo bastante instável no Sul;
- - Um corredor de umidade que vem da Amazônia e potencializou a intensidade das chuvas.;
- - A presença de uma onda de calor na região central do país que causou um bloqueio atmosférico na região.
Os meteorologistas explicam que essa massa de ar quente sobre a área central do país fez com que a frente fria ficasse concentrada na região Sul, impedida de avançar e se diluir sobre outras áreas do país.
Ou seja, as chuvas catastróficas do Sul têm relação direta com a onda de calor registrada no Centro-Oeste e no Sudeste, onde as temperaturas estavam cerca de 5°C acima da média para o outono. Aliado a isso, o período entre o final de abril e o início de maio de 2024 ainda recebe a influência do fenômeno El Niño, que aquece as águas do oceano Pacífico e aumenta a umidade em diversas partes do planeta.
Essa combinação de diversos fatores de uma única vez é considerada rara pelos especialistas, mas, em um relatório publicado em 2023, os especialistas do Painel de Mudanças Climáticas da ONU, o IPCC, apontaram pela primeira vez uma relação entre as fortes precipitações observadas na região que engloba o Rio Grande do Sul desde a década de 1950 e as alterações climáticas provocadas pela ação humana.
E, segundo os pesquisadores, infelizmente existe uma probabilidade muito grande de que esses eventos voltem a ocorrer de uma forma mais frequente e intensa daqui em diante.
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Comentários
Obrigada pelo excelente artigo
a média de chuvas no RS é de 100 a 150 mm por mês, dependendo da região.
em 1941, choveu até 970 mm em certas regiões, mas foi em 22 dias.... agora, teve cidade, como Fontoura Xavier, em que choveu 750 mm em 4 dias, e muitas cidades tiveram mais de 500 mm de água nestes 4-5 dias.