Como 1,5 milhão de garrafas plásticas são transformadas em roupas todos os dias

Em 2023, uma empresa chamada Shree Renga Polímeros ficou famosa na Índia quando o primeiro-ministro Narendra Modi usou uma jaqueta feita de garrafas pet recicladas no Parlamento. A empresa transforma garrafas pet em poliéster, um dos tecidos mais populares do mundo, valorizado por sua durabilidade, leveza e baixo custo de produção. Embora essas características o tornem ideal para vários usos na indústria têxtil, o excesso de oferta de poliéster também alimentou um desastre ambiental. Agora, várias marcas tradicionais estão tentando aumentar a quantidade de poliéster feito de plásticos reciclados, mas esse é o melhor uso do plástico velho?

O poliéster representa mais da metade de todas as nossas roupas e a empresa indiana pode transformar cerca de 1 a 2 milhões de garrafas de plástico em poliéster em um único dia. Isso será mais do que triplicado nos próximos anos, porque a Shree Renga, sediada em Karur, no estado indiano de Tamil Nadu, anunciou um investimento de 100 milhões de rupias (7 milhões de reais) para expandir sua capacidade.

A empresa está montando uma instalação verde de reciclagem de garrafas PET em Thennilai e Manavasi, em Karur. O projeto utilizará tecnologia de ponta para reciclagem de resíduos de garrafas PET para agregar valor a produtos como fibras, fios e peças de vestuário. Este investimento visa aumentar a capacidade da empresa em seis vezes, para 130 toneladas por dia. O fim da utilização dos produtos da empresa irá para têxteis técnicos, produtos tecidos e malhas.

A Shree Renga processa cerca de 25 toneladas métricas de poliéster diariamente do qual o fundador K Sankar se orgulha de cada filamento que sua fábrica gira, mas ele levou décadas tentando chegar até aqui. Hoje ele dirige o negócio ao lado de seu filho Senthil, que largou o emprego para ajudar seu pai.

As garrafas pets movimentam hoje um mercado que produz cerca de 9 bilhões de unidades anualmente só no Brasil, das quais 53% não são reaproveitadas. Na Índia é pior pois mais de 90% dessas garrafas não é reciclada. Os catadores as coletam e as depositam em locais de triagem, onde os trabalhadores as esmagam e as depositam para venda todo mês.

A Shree Renga compra cerca de 900 toneladas de lixo de empresas como esta, mas tudo o que ela realmente quer é o polietileno tereftalato, um dos tipos de plástico mais comuns. O primeiro passo para obtê-lo é fazer uma triagem retirando os rótulos, tampinhas e cola que podem arruinar o material final. Chegar ao pet puro consome muito tempo.

Em seguida, as garrafas são lavadas e trituradas para formar flocos que não sejam maiores que 14 milímetros que são transformados em pellets de pet. Depois de uma série de lavagens em um tanque de flutuação o pet está pronto para ser processado e transformado em fibra.

Na década de 1980, o algodão era a fibra mais popular do mundo, mas nas décadas seguintes, o poliéster passou a dominar a indústria e deve continuar crescendo com a maior parte da produção terceirizada para o Sudeste Asiático. A popularidade foi alimentada por marcas de fast fashion.

Só em 2020, o mundo produziu poliéster suficiente para encher cerca de 2 milhões de caminhões de lixo. Menos de 15% disso veio de material reciclado e um estudo mostrou que um único caminhão cheio de roupas vai para um aterro sanitário ou incinerador a cada segundo para reduzir essa estatística.

Mais e mais marcas estão trabalhando com poliéster reciclado feito de garrafas de plástico No início de 2024 mais de 120 empresas de roupas se comprometeram a aumentar o uso de poliéster reciclado. A Shree Renga lançou sua própria marca de roupas recicladas em 2021, chamada Ecoline Clothing, uma marca focada em moda sustentável, usando fios a partir de fibras plásticas recicladas e algodão orgânico. A empresa cria um material de tecido híbrido misturando algodão com fibras feitas de garrafas PET recicladas

Senthil e seu pai estão felizes em salvar qualquer plástico que puderem de aterros sanitários ou oceanos mesmo que seja apenas temporário. Transformar lixo em uma peça de roupa demora mais para chegar aos aterros sanitários, embora haja muito trabalho para que isso seja feito.