Vídeos de segurança de companhias aéreas estão ficando mais produzidos. Eles são mais eficazes?

Os passageiros que voam pela British Airways hoje em dia podem se surpreender ao descobrir que estão viajando não para Heathrow ou Gatwick, mas primeiro para a Inglaterra do século XIX: com homens a cavalo, mulheres em carruagens e um espartilho tão apertado que uma mulher pode precisar de uma máscara de oxigênio. O novo vídeo de segurança da companhia aérea está repleto de referências à cultura britânica e se baseia no sucesso de dramas de época de sucesso, como "Bridgerton", parte de uma tendência de companhias aéreas usando briefings de segurança cada vez mais cinematográficos.

A British Airways disse que o novo filme tem como objetivo "manter os clientes engajados com mensagens importantes de segurança". Mas os especialistas estão divididos sobre se esses vídeos interessantes, que parecem almejar a viralidade, efetivamente compartilham informações vitais de segurança, ou apenas fornecem entretenimento além da conscientização da marca ou cultural.

Observadores da indústria atribuem o surgimento de vídeos de segurança peculiares a um briefing de desenho animado lúdico da Virgin America em 2007 e ao briefing da Air New Zealand em 2009, que incluiu membros da tripulação usando pouco mais do que pintura corporal enquanto demonstravam os "elementos essenciais da segurança". Nos anos seguintes, celebridades, dançarinos tradicionais, diretores de alto nível como Taika Waititi e até mesmo um grupo de K-pop apareceram em produções cada vez mais elaboradas em nome da segurança das companhias aéreas.

Especialistas e autoridades enfatizam que as viagens aéreas são incrivelmente seguras e é improvável que ocorra uma emergência a bordo, a não ser briga entre passageiros. Blaise Waguespack, professor da Universidade Embry-Riddle na Flórida e especialista em marketing de companhias aéreas, disse que o surgimento de vídeos criativos de segurança reflete uma tentativa das transportadoras de romper a constante "desordem de conteúdo" em dispositivos digitais e alcançar passageiros distraídos, o que é "sempre um problema ao tentar entregar informações hoje em dia".

Alguns especialistas elogiaram os esforços. Kevin Kuhlmann, professor de aviação e ciência aeroespacial na Universidade Estadual Metropolitana de Denver, disse que por muito tempo os briefings "foram mandatados e roteirizados de uma maneira que era benigna e mundana", levando os passageiros regulares a se desligarem. Ele aplaudiu os vídeos criativos por trazerem “o briefing de volta ao foco”.

Vídeos de segurança ambientados, digamos, em uma animação de ficção científica estilo Pixar ou no mundo de Senhor dos Anéis oferecem muitas distrações visuais enquanto seguem uma rota cênica para a segurança. Mas Scott Koslow, professor de marketing na Universidade Macquarie na Austrália, disse que com esses vídeos - "...você pode realmente obter atenção que não conseguiria de outra forma e um pouco de confusão pode ser um preço decente a pagar para fazer as pessoas olharem para a tela."

Se essa atenção se traduz em retenção é uma questão diferente, no entanto. Alguns funcionários da companhia aérea atribuíram a evacuação bem-sucedida de um avião da Japan Airlines que colidiu com outra aeronave no início deste ano ao vídeo de segurança curto e simples da companhia aérea. E a pouca pesquisa que existe sobre o tópico sugere que o brilho de Hollywood das companhias aéreas pode ter resultados mistos.

Um estudo de 2015, com 45 participantes, sugere que, uma vez que um espectador esteja assistindo a um vídeo de segurança, um vídeo humorístico é melhor para prender a atenção do que um vídeo com uma celebridade ou um vídeo padrão.

Outro estudo do mesmo ano, com 82 participantes, descobriu que, embora briefings de segurança engraçados ou que usem temas de filmes afetem positivamente o humor dos participantes, houve uma compensação entre entretenimento e educação e quanto maior o valor do entretenimento, pior a retenção de mensagens-chave de segurança.

Brett Molesworth, professor da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, e autor dos artigos, disse em uma entrevista que a pesquisa deixa claro que qualquer sobreposição ou confusão no ponto da mensagem-chave de segurança -seja entretenimento, humor, etc.- enfraquece a mensagem de segurança.

Brett diz que só podemos processar uma certa quantidade de informação por vez, e quando nos deparamos com algo divertido ou engraçado, isso geralmente consome toda a nossa capacidade de memória de trabalho. Não é que as companhias aéreas não possam ser divertidas, ele disse, explicando que elas só precisam divorciar essas partes engraçadas ou divertidas das principais mensagens de segurança.

Especialistas dizem que não ajuda que esses vídeos às vezes evitem até mesmo mostrar a aeronave. No vídeo da British Airways, cintos de segurança são colocados a cavalo e as saídas do avião são explicadas em um salão de baile, enquanto em um vídeo de segurança da Air France, a placa de saída é transformada em uma roupa usada em uma passarela em um desfile de moda.

Xiaoyu Wu, um professor da Universidade Griffith na Austrália que estuda aviação e práticas de segurança, disse que esses vídeos podem atrair sua atenção - "...porque eles colocam assentos falsos, não sei, na selva, mas eles nem sempre fazem um bom trabalho em mostrar os recursos de segurança reais da aeronave." Esses vídeos podem perder o que é importante, ele disse, enfatizando que se realmente está funcionando, está preparando as pessoas em caso de emergência.

Pelo menos uma companhia aérea fez questão pública de adotar essa perspectiva. No início deste mês, a Emirates lançou um vídeo de segurança "sem frescuras" que recebeu elogios de vários blogueiros de aviação.

Logo na abertura, fica claro sobre sua intenção. - "Não temos dançarinos cantando, personagens de filmes ou celebridades tentando ser engraçados, infelizmente", diz um comissário de bordo. Outro diz que, embora o entretenimento esteja disponível mais tarde: " - "A segurança sempre vem em primeiro lugar."