Além de ser o maior deserto de sal do mundo, o Salar de Uyuni tem o maior reservatório de lítio

O Salar de Uyuni é o maior deserto de sal da Terra, estendendo-se por aproximadamente 11.000 km², com mais de 10 bilhões de toneladas de sal, através do planalto andino. Uyuni é famoso por suas extensões brilhantes de sal banhadas em água, e pelos padrões hipnotizantes de favo de mel encontrados nos cantos mais secos do deserto. A salina tem uma elevação média de 3.660 metros acima do nível do mar, mas nem sempre foi assim. Cerca de 5 milhões de anos atrás, a região onde as montanhas dos Andes estão hoje era baixa e o clima se tornou árido.

Com o tempo, o calor extremo e a escassez de chuvas fizeram com que lagos pré-históricos na região evaporassem, deixando para trás crostas de sedimentos e sal. Processos tectônicos e atividade vulcânica então empurraram essas crostas para um alto planalto, onde permanecem até hoje.

Comparado com outras salinas como o Salar de Atacama no Chile, que tem uma crosta de sal com mais de 1.000 metros de espessura em alguns lugares, o Salar de Uyuni é "bem fino", com uma crosta de apenas 10 metros de espessura. A quantidade de sal que se acumula em uma salina depende da geologia da área, e as placas tectônicas abaixo do Salar de Uyuni são muito menos ativas do que aquelas abaixo do Salar de Atacama.

A crosta de sal de Salar de Uyuni cobre uma camada de água extremamente salgada, ou salmoura. Mas a água também fica no topo da crosta em alguns lugares devido a um processo chamado "ressurgência" de água doce.

A salina é cercada por montanhas cobertas de neve e vulcões que fornecem água derretida para a borda da crosta. A água doce desliza por baixo da crosta, mas imediatamente se separa da salmoura devido à diferença de salinidade. Como a água doce é menos densa do que a salmoura, ela vai realmente sobrepor ou flutuar, essencialmente, em cima da água salgada.

A ressurgência de água doce ocorre quando a água doce migra através da crosta e brota para a superfície, criando lagos na salina. O Salar de Uyuni tem entre seis e oito desses lagos, que são vitais para animais como flamingos que vivem no deserto. O tamanho dos lagos varia dependendo da estação e da seca.

Água doce escorrendo dos picos ao redor é a razão pela qual o Salar de Uyuni é uma das reservas mais ricas de lítio da Terra. A atividade hidrotermal e vulcânica nos Andes significa que as montanhas são ricas em minerais, incluindo lítio, que a água coleta conforme flui sobre as rochas.

O salar fica em uma região montanhosa chamada de "triângulo do lítio", que inclui partes da Bolívia, Argentina e Chile e detém 75% do lítio do mundo, de acordo com a Harvard International Review.

O Salar de Uyuni provavelmente contém a maior parte do recurso, 10,2 milhões de toneladas métricas, ou cerca de 38% dos suprimentos de lítio conhecidos no mundo, de acordo com um estudo de 2012. O Serviço Geológico dos EUA estima que o salar contenha cerca de um quarto do suprimento mundial, e a Harvard International Review cita até 50%.

O que acontece ali é que qualquer água que entra e que já tenha níveis marginalmente elevados de lítio devido à atividade hidrotermal e vulcânica dos Andes fica cada vez mais concentrada ao longo do tempo devido à evaporação.

Embora as empresas de exploração de recursos estejam interessadas no Salar de Uyuni, o lítio está tão espalhado pelo salar que ainda não temos tecnologia disponível para extraí-lo de forma econômica no momento. E isso é uma boa notícia para o salar, porque esses ecossistemas desérticos são incrivelmente frágeis.

Ademais, A mineração de lítio precisa de muitas mudanças para ser universalmente benéfica como prática. Os maiores participantes da mineração devem se comprometer com princípios de transparência e cooperação com os governos locais do triângulo do lítio.

Chile, Argentina e Bolívia podem liderar esforços na pesquisa e organização de dados que esclareçam os impactos da mineração e extração. Já houve progresso nessa frente, como no Chile, o Conselho Popular do Atacama montou estações de monitoramento em uma lagoa em seu salar para rastrear mudanças nos níveis de água. Mais desenvolvimentos podem e devem ser feitos a esse respeito para garantir que a revolução verde não coloque em risco as pessoas e os ambientes que promete proteger.