Em 1624, o rei Luís XIII, o Justo, da França, de 23 anos, ficou em pânico quando descobriu que estava ficando careca. O que diriam as pessoas, em uma época em que o cabelo do monarca passara a simbolizar o seu poder e nobreza? Luís não estava interessado em descobrir. E por isso tomou uma decisão que deu início a uma febre da moda de 150 anos: passou a usar uma peruca particularmente imponente e pomposa. Muito antes de Luís, as pessoas adotavam perucas por diversas razões, incluindo higiene, no teatro e em um esforço de parecer mais jovem do que realmente eram. |
As perucas datam, pelo menos, do antigo Egito, onde cabeleireiros conceituados as transformavam em estilos intrincados. Durante certas dinastias romanas antigas, as perucas das mulheres passaram a ser tão ornamentadas, que os poetas troçavam das suas numerosas camadas.
Durante a Idade Média, a Igreja Católica desencorajou o uso de perucas, realçando, em vez disso, a humildade e a austeridade. Portanto, quem usava peruca na Europa ocidental medieval geralmente usava um estilo de aspeto mais natural. Mas à medida que as regras foram relaxando no início do século XVI, as perucas tornaram-se acessórios mais aceitáveis.
A rainha Isabel I, a Virgem, da Inglaterra possuía mais de 80 perucas vermelhas, que ela usava para aumentar o cabelo e escondê-lo, à medida que ele ficava mais fino e grisalho. Uma dessas perucas até enfeitou a sua efígie fúnebre. No entanto, foi só quando Luís XIII exibiu a sua magnífica juba, décadas depois, que as grandes perucas começaram a crescer realmente.
Membros da corte de Luís, ansiosos por caírem nas graças dele, seguiram o exemplo e os aristocratas de outros locais depressa os imitaram. A popularidade crescente das perucas pode ter sido acentuada pelas preocupações com a perda de cabelo provocada pelo mercúrio, que os médicos prescreviam para tratar a sífilis e outras doenças.
Mas as pessoas também consideravam as perucas muito convenientes, porque eliminavam a necessidade da limpeza diária e do penteado do cabelo. Em meados do século XVII, a tendência ampliou-se com Luís XIV, filho de Luís XIII. Nessa altura, a Europa seguia a moda da alta-costura de Madrid. Mas o governo de Luís XIV mudou isso, investindo fortemente na indústria de luxo da França.
Criaram-se guildas especializadas, formalizaram-se lançamentos sazonais, impôs-se um código de vestuário no tribunal e proibiu-se as importações do que podia ser feito na França ou nas suas colônias. Luís XIV ordenou que o seu filho, outro Luís, queimasse um de seus casacos porque era feito com tecido estrangeiro.
Impulsionada pelo seu crescente império colonial, a França acumulou riquezas e influência, e as grandes perucas de estilo parisiense logo se empoleiraram em muitas cabeças europeias. Estas cabeleiras postiças masculinas exigiam cabelos tão grossos e compridos que eram usados os cabelos de 10 cabeças para criar apenas uma peruca.
Em um século, o número de fabricantes de perucas parisienses quadruplicou. Até as pequenas aldeias ostentavam, muitas vezes, pelo menos, um fabricante de perucas. Geralmente, fabricavam a sua mercadoria a partir de cabelo humano, provavelmente proveniente de mulheres pobres, ou de materiais mais baratos, como a lã ou a crina de cavalo.
Para limpar as perucas, eliminar os odores e absorver o suor, as pessoas aspergiam pós perfumados de farinha, de giz com aromas de violeta, de rosas, de cravo e de limão. Era uma atividade confusa, com salas inteiras atribuídas à tarefa. Aliás, é aí que nasceu o termo "empoado".
Em meados do século XVIII, as perucas masculinas continuaram populares, mas tornaram-se mais simples, muitas vezes estilizadas com cachos em volta do rosto e um rabo de cavalo atrás. As perucas femininas, no entanto, subiram a novas alturas, elevando-se, literalmente, até um metro. Os fabricantes de perucas construíam-nas muitas vezes usando varas, fitas e recheio de lã.
Depois de coberta de cabelo, a peruca podia ser enfeitada com todo o tipo de acessórios. As perucas de cor mais clara passaram a ser moda e eram realçadas com pós por vezes tingidos de roxo, rosa ou azul. Mas nem todos apreciaram essa tendência. Os caricaturistas zombavam das usuárias de grandes perucas, chamando-as de frívolas extravagantes.
E as temperaturas mais quentes em algumas das colônias da Europa deviam tornar incômodas as pesadas perucas empoadas. No entanto, no final do século XVIII, ganhou força uma reação popular contra a decadência aristocrática.
À medida que a França enfrentava uma escassez de pão, as perucas empoadas de farinha eram consideradas problemáticas. E em 1789, teve início a Revolução Francesa. Em 1795, o Parlamento da Inglaterra aprovou um "imposto sobre o pó" que levou muitos a abandonarem as suas grandes perucas. E assim, abandonaram a moda, como uma mera relíquia de uma mania do passado.
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