Conforme o sol se põe abaixo do horizonte nos arredores de cidades americanas como Washington, Chicago e Nova York uma comoção começa. Logo, há patas arranhando e dentes rangendo contra alumínio e madeira enquanto traseiros peludos saem de seus esconderijos. Como calouros desesperados do ensino médio que esqueceram seus códigos de armário, guaxinins se acotovelam e mexem em várias fechaduras que guardam cubículos cheios de comida de cachorro deliciosa e petiscos de sardinha. Outros guaxinins esperam no fundo, prontos para atacar qualquer resto abandonado. |
Um gambá vagando na confusão é empurrado para o lado pelos bandidos mascarados. Esta adorável historinha foi parte de um projeto de pesquisa detalhado em julho na Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences e um dos vários exemplos recentes de nossa compreensão mutável da inteligência do guaxinim.
Enquanto muitas outras espécies ao redor do mundo estão em declínio, os guaxinins estão realmente prosperando e se dão particularmente bem em áreas urbanas, disse a autora principal Lauren Stanton, uma ecologista cognitiva da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Uma grande parte de seu sucesso se deve à sua adaptabilidade a novos desafios e oportunidades, seja aninhando em chaminés aconchegantes, invadindo galinheiros ou invadindo latas de lixo — algo que lhes rendeu o apelido de "pandas do lixo".
Guaxinins são fortes -eles podem empurrar um bloco de concreto da tampa de uma lata de lixo- e tenazes. Quanto mais fazem para mantê-los fora, mais habilidades eles aprendem para invadir, levando a uma corrida armamentista cognitiva entre pessoas e guaxinins.
Em 2016, por exemplo, a cidade de Toronto, no Canadá, gastou 31 milhões de dólares (cerca de 130 milhões de reais) em lixeiras resistentes a guaxinins. Enquanto elas dissuadiram a maioria dos possíveis ladrões, certos trapaceiros não tiveram problemas em resolver o novo quebra-cabeça. A cidade continuou a lançar novas versões da lixeira, tentando enganar os invasores de lixo mais persistentes de Toronto.
As habilidades únicas dos guaxinins selvagens há muito os tornam grandes solucionadores de problemas, bem como agitadores travessos nos arredores das comunidades humanas. Nativos de uma grande faixa da América do Norte, do sul do Canadá até a borda da América do Sul, os guaxinins eram uma visão familiar para os povos indígenas na era pré-colonial.
A palavra guaxinim pode ser rastreada até a palavra proto-algonquiana ärähkun, derivada da frase "ele coça com as mãos". Os primeiros taxonomistas os nomearam por um comportamento relacionado e notável: Ursus lotor, que se traduz como "urso lavador" e, em todo o mundo, a palavra local para guaxinim geralmente inclui alguma menção a lavar. O guaxinim-brasileiro, por exemplo, é conhecido tanto por mão pelada quanto rato-lavadeiro.
É baseado na ideia adorável, mas não totalmente precisa, de que os guaxinins lavam sua comida antes de comer. Embora eles adorem dar uma boa molhada na comida, não é realmente sobre limpeza. Como os guaxinins parecem ter evoluído ao longo de rios e outros corpos d'água, eles têm adaptações para encontrar e comer mariscos e outros tesouros subaquáticos: suas patas são supersensíveis quando submersas.
O tato é um sentido muito importante para os guaxinins, e é realmente mais forte do que alguns dos outros sentidos deles. Os guaxinins estão sempre sentindo seus ambientes.
No início do século XX, a curiosidade e a destreza dos guaxinins chamaram a atenção de pesquisadores de psicologia, que notaram suas semelhanças comportamentais com os macacos. Eles esperavam que estudá-los em laboratório pudesse fornecer informações sobre a psicologia humana. Infelizmente, a natureza travessa dos guaxinins os tornava participantes indisciplinados. Eles estavam sempre fugindo das gaiolas e eram muito obstinados e difíceis de trabalhar. Então os pesquisadores jogaram a toalha com os guaxinins.
Embora seja difícil comparar a inteligência entre espécies, alguns estudos recentes mostram que a densidade neural dos guaxinins é mais semelhante à dos primatas do que a de outras espécies carnívoras. O cérebro do guaxinim tem aproximadamente o mesmo tamanho que o cérebro de um gato doméstico, por exemplo, mas contém aproximadamente o mesmo número de neurônios que o cérebro maior de um cachorro.
Não importa onde estejam na escala de inteligência, os guaxinins têm um talento especial para conseguir o que querem. De acordo com o estudo mencionado no início deste artigo, parece que suas personalidades únicas fazem alguns "bandidos" melhores do que outros.
A equipe de pesquisa apresentou aos guaxinins uma caixa retangular de madeira que tinha 24 cubículos de guloseimas, cada um protegido com uma fechadura. Para abrir a porta e acessar a deliciosa guloseima dentro de cada cubículo, tudo o que um guaxinim tinha que fazer era deslizar uma trava de alumínio para a direita.
No início do estudo, uma guaxinim fêmea chamada Willowherb levou vários minutos e várias tentativas para abrir a fechadura. Quando testada novamente um ano depois, ela conseguiu na primeira tentativa, sugerindo que ela provavelmente se lembrava da habilidade.
Oito dos 35 guaxinins finalmente conseguiram abrir as fechaduras. Todos eles tinham personalidades altamente exploratórias e persistentes, e tiveram sucesso por meio de muitas tentativas e erros. Os jovens curiosos foram particularmente bons no desafio. Os arrombadores de fechaduras também abriram portas adicionais após descobrirem a primeira, indicando que estavam aplicando o que aprenderam.
Os outros guaxinins não passaram fome: eles escolheram espreitar nas sombras e roubar comida quando a porta estava aberta, certamente pensando:
- "Por que vou quebrar a cabeça para abrir esta merda se sei que outra pessoa está disposta a fazer o trabalho duro por mim?"
Em seguida, os pesquisadores substituíram algumas das fechaduras por versões que eram mais fáceis ou mais difíceis de abrir, exigindo que os guaxinins deslizassem, removessem, girassem ou puxassem uma trava para baixo. Eles descobriram que os mesmos guaxinins que eram bons solucionadores no primeiro teste se saíram bem no próximo, aplicando o que aprenderam a travas mais avançadas.
Até mesmo os guaxinins que tinham recorrido ao roubo de comida no teste anterior tentaram abrir as fechaduras mais fáceis, o que eventualmente os levou a descobrir algumas das mais difíceis. Eles aprenderam essa habilidade básica, e então isso lhes deu a motivação e o conhecimento para entender que podiam abrir outras.
Infelizmente, o mesmo processo é verdadeiro para latas de lixo e caixas de correio. Quanto mais tentam manter os guaxinins fora delas, melhor alguns ficarão em arrombar.
É por isso que a melhor estratégia é remover ou bloquear completamente o acesso deles a latas de lixo, sótãos aconchegantes a um galinheiro cheio de galinhas saborosas. Um impedimento mais básico que as pessoas provavelmente já tem na sua despensa é o papel-alumínio. Guaxinins odeiam por ter quatro vezes mais receptores sensoriais nas mãos, então simplesmente colocar um pouco em seus lugares favoritos pode resolver. Aromas fortes como o de molho picante, canela ou vinagre também são conhecidos por afastar um guaxinim curioso.
Diferente de seu primo norte-americano, o mão-pelada (Procyon cancrivorus) gosta de manter uma distância providencial de tudo que envolve humanos. Ele habita florestas decíduas e mistas nas margens de rios de norte a sul do país, mas é pouco conhecido pela população. Ele é muito esquivo é muito difícil capturá-lo em armadilhas ou observá-lo na natureza, por isso, poucos conseguem estudar mais a fundo a sua biologia.
O que é fascinante nesta espécie é o fato de pertencerem a ordem Carnivora, mas seguirem uma dieta onívora, alimentando-se de insetos, outros animais e frutos, o que os tornam importantes dispersores de sementes. A espécie não está listada no ranking brasileiro de animais ameaçados e é classificada como espécie não ameaçada na lista vermelha da IUCN. No entanto, atropelamentos, poluição dos recursos hídricos e fragmentação dos habitats são ameaças ao mamífero.
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