A eleição papal mais longa da história durou absurdos dois anos e nove meses

A principal atração na antiga cidade de Viterbo, na Itália central, é um palácio do século XIII construído para servir como residência de campo para o papa. O Palácio Papal também fornecia aos papas um lugar para escapar sempre que as coisas se tornavam violentas em Roma, como acontecia frequentemente por causa da rivalidade entre as duas facções em duelo: os Guelfos e os Gibelinos, apoiando o papa e o Sacro Imperador Romano, respectivamente. Um dos grandes salões desse palácio, conhecido como Salão do Conclave, foi a sede da mais longa eleição papal da história.

Palácio Papal de Viterbo.

A eleição durou dois anos e nove meses, de novembro de 1268 a 1º de setembro de 1271, porque os vinte cardeais votantes estavam tão divididos por interesses pessoais e rixas familiares que não conseguiram chegar a um acordo.

Quando o Papa Clemente IV morreu em 29 de novembro de 1268, o Colégio de Cardeais, composto pelos mais proeminentes autoridades eclesiásticas, se reuniu em Viterbo para escolher o sucessor, porque a tradição ditava que a eleição deveria ocorrer na cidade onde o papa anterior morreu.

Os cardeais começaram a eleição se reunindo e votando uma vez por dia no Palazzo dei Papi, antes de retornarem para seus respectivos quartos. O Colégio de Cardeais naquela época estava igualmente dividido entre os cardeais franceses e italianos, que queriam um papa de seu próprio país. A eleição se arrastou por meses. Três dos vinte cardeais originais morreram de velhice.

Após quase um ano de indecisão, frustrados pelo atraso, os cidadãos de Viterbo, sob as instruções do capitão da cidade, Ranieri Gatti, trancaram os cardeais dentro do palácio e ordenaram que eles escolhessem um nome, nem que fosse no "par ou ímpar".

Eles também removeram o telhado do edifício, deixando os cardeais à mercê dos elementos, e reduziram seus suprimentos de comida a meros pão e água. De acordo com algumas fontes, o telhado foi remontado depois que os cardeais ameaçaram colocar toda a cidade de Viterbo sob interdição.

Salão do Conclave.

As ações drásticas não fizeram absolutamente nada para quebrar o impasse, que se arrastou por mais um ano. Finalmente, em agosto de 1271, os cardeais decidiram nomear um comitê de seis para negociar um acordo. Quando os seis não conseguiram concordar com a escolha de um dos cardeais, eles decidiram olhar para fora de suas fileiras.

O nome de Teobaldo Visconti, o arquidiácono de Liège, que naquela época estava em guerra na Palestina, foi sugerido e todos concordaram. Teobaldo Visconti se tornou o Papa Gregório X em 1º de setembro de 1271.

Para evitar eleições mais longas, o Papa Gregório X introduziu regras rigorosas: os cardeais deveriam ser isolados em uma área fechada e não receberiam quartos individuais; nenhum cardeal tinha permissão, a menos que estivesse doente, de ser atendido por mais de dois servos; a comida era fornecida por uma janela para evitar contato externo. Após três dias do conclave, os cardeais deveriam receber apenas um prato por dia; após outros cinco dias, eles deveriam receber apenas pão e água. Durante o conclave, nenhum cardeal devia receber qualquer receita da Igreja.

Infelizmente, o sucessor de Gregório X, o Papa Adriano V, achou os regulamentos muito rigorosos e os aboliu. Mas quando houve outro impasse de 2 anos após a morte do Papa Nicolau IV em 1292, o próximo papa, Celestino V, restaurou essas normas.

Palácio Papal de Viterbo.

Hoje, a eleição papal acontece na Capela Sistina no Vaticano. Uma vez que o conclave tenha começado, os cardeais comem, votam e dormem em áreas fechadas separadas até que um novo papa seja escolhido. Eles não têm permissão para entrar em contato com o mundo exterior, exceto em emergências médicas.

Um candidato tem que garantir uma maioria de dois terços para ser eleito papa. Se nenhum resultado for obtido após três dias de votação, o processo é suspenso por no máximo um dia para oração e um discurso do cardeal sênior na Ordem dos Diáconos.

Após mais sete votações, o processo pode ser novamente suspenso de forma semelhante, com o discurso agora sendo feito pelo cardeal sacerdote sênior. Se, após outras sete votações, nenhum resultado for alcançado, a votação é suspensa mais uma vez, o discurso sendo feito pelo cardeal bispo sênior.

Após mais sete votações, haverá um dia de oração, reflexão e diálogo. Nas votações seguintes, apenas os dois nomes que receberam mais votos na última votação serão elegíveis em uma eleição de segundo turno, onde uma maioria de dois terços ainda é necessária.

Duas vezes por dia durante o conclave, fumaça emerge da Capela Sistina indicando se a votação resultou em uma eleição. Se a fumaça for preta, indica fracasso. Se a fumaça for branca: Habemus Papam!

O 266° Papa da Igreja Católica, o cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito em 13 de março de 2013, já no segundo dia do conclave, escolhendo o nome de Francisco. Ele é o primeiro jesuíta a ser eleito Papa, o primeiro Papa do continente americano e o primeiro não europeu investido como bispo de Roma em mais de 1 200 anos, desde Papa Gregório III, que nasceu na Síria e governou a Igreja Católica entre 731-741.