Quando vi meu primeiro eclipse solar total em 1985, notei algo estranho, tipo, além do encantamento e expectativa, com a luz do dia gradualmente se apagando e dando lugar à escuridão, todos os pássaros de repente pousaram nas árvores e começaram a cantar em massa. Mas estou longe de ser o primeiro a notar animais fazendo coisas estranhas durante um eclipse. Relatos de reações animais incomuns a eclipses solares datam de séculos atrás. Uma das primeiras histórias vem do monge italiano Ristoro d'Arezzo, que descreveu o que aconteceu durante um eclipse total em 3 de junho de 1239. |
- "Quando o sol desapareceu e o céu ficou escuro, todos os animais e pássaros ficaram aterrorizados; e as feras selvagens puderam ser facilmente capturadas", escreveu Ristoro.
Durante um eclipse visto em Portugal em 21 de agosto de 1560, o astrônomo Christoph Clavius escreveu que não podia dar crédito quando o céu se tornou bleu.
- "Eestrelas apareceram no céu e os pássaros despencaram no chão aterrorizados por uma escuridão tão horrível", segundo contou Christoph.
Mais recentemente, houve um relato de que um grupo de tartarugas de Galápagos se amontoou durante a totalidade, então metade do grupo começou a acasalar antes de todas olharem para o céu.
Então, o que realmente sabemos sobre como os animais vivenciam os eclipses solares? Existem centenas de relatos anedóticos de comportamentos estranhos de animais relacionados a eclipses, que remontam a centenas de anos.
Embora seja difícil confirmar tais relatos, astrônomos modernos e caçadores de eclipses também relataram animais selvagens e domésticos reagindo visivelmente aos eclipses: vacas leiteiras retornam ao celeiro, grilos começam a cantar, pássaros vão para o poleiro ou se tornam mais ativos, e baleias saltam nos mares.
Os cientistas também se mostram interessados no assunto; os cerca de 4 minutos de totalidade durante o eclipse de abril de 2024 nos Estados Unidos geraram pelo menos 32 artigos científicos sobre o tópico. E à primeira vista, parece que podemos facilmente classificar as reações dos animais em várias categorias.
Alguns comportamentos são surtos que parecem relacionados à ansiedade,como babuínos que andavam de um lado para o outro em seu recinto do zoológico, ou cavalos que se aglomeravam e balançavam a cabeça e caudas, ou girafas que corriam freneticamente em círculos.
Por outro lado, há os comportamentos noturnos; pássaros voam para seus poleiros, rãs-touro noturnas deixam seus esconderijos diurnos e aranhas que tecem orbes -que normalmente constroem novas teias todos os dias- são enganadas para desmantelar suas teias quando a escuridão de um eclipse chega.
Depois, há comportamentos completamente novos; em um estudo, um grupo de gibões começou a fazer chamados estranhos que os pesquisadores nunca tinham ouvido antes, e um bando de chimpanzés supostamente subiu em árvores para olhar o céu. E alguns animais parecem não reagir de forma alguma. Mas quando você começa a realmente olhar para o que realmente sabemos, as coisas começam a ficar um pouco confusas.
Primeiro, há a questão do tamanho da amostra. Eclipses solares totais ocorrem apenas uma vez a cada 18 meses, e cada um cobre apenas uma pequena faixa do planeta por vez. Como resultado, lugares específicos podem passar mais de 100 anos entre as experiências de eclipse, tornando observações repetidas de animais no mesmo habitat desafiadoras, para dizer o mínimo.
Por exemplo, o último eclipse total no Brasil ocorreu em 3 de novembro de 1994, que foi visto em uma faixa que começou no oeste do país e seguiu até o litoral sul. O próximo eclipse solar total no Brasil acontecerá só em 2045.
Portanto, não é surpreendente que alguns estudos se contradigam completamente, como um que descobriu que as garças-noturnas-de-coroa-preta fazem muito barulho possivelmente de ansiedade durante um eclipse, enquanto outro afirma exatamente o contrário, que diz que as garças ficam em silêncio durante um eclipse. Então é muito difícil saber como categorizar estes comportamentos.
Segundo, é muito difícil saber o que está acontecendo na cabeça de um animal, especialmente sem observações repetidas e experimentos controlados. Então não podemos saber por que, por exemplo, aquelas tartarugas foram compelidas a acasalar durante o eclipse. E isso nos leva à questão de, bem, nós.
Estamos preparados para esperar que os animais possam fazer algo estranho durante um eclipse, e essas expectativas podem levar até os observadores mais cuidadosos a interpretar o que um animal faz durante um eclipse solar como sendo causado pelo próprio eclipse.
Na verdade, todas essas anedotas e pesquisas podem nos ensinar mais sobre nós mesmos -e quão profundamente os eclipses nos afetam- do que sobre o que, exatamente, os animais estão fazendo ou pensando durante esses 4 minutos de totalidade.
A verdade é que a maioria das espécies que pareceram ter uma mudança comportamental durante um eclipse exibiram comportamentos típicos de suas rotinas noturnas. Um youtuber das Ilhas Faroé filmou suas galinhas durante um eclipse. Quando começou a escurecer elas se recolheram para o galinheiro, para cinco minutos depois saírem e o galo cantar com todo vigor anunciando um novo dia. O mais engraçado da história é que, segundo ele, uma das galinhas botou um segundo ovo naquele dia.
Eclipses podem invocar medo e ansiedade, ou excitação e admiração em nossa própria espécie, então talvez seja natural esperar, ou até mesmo torcer, que outras criaturas estejam compartilhando um pedaço dessa experiência conosco.
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