Em 10 de abril de 1815 o Sol desapareceu, logo após, em uma ilha da atual Indonésia, o Monte Tambora entrar em erupção com um estrondo ouvido a mais de 2.000 quilômetros. Plumas sulfurosas de vapor e cinzas subiram milhares de metros no céu, formando nuvens pretas de tempestade, de fuligem e raios. Essa erupção seria marcada como a maior já registrada na história, mas, naquele momento, seu impacto estava só começando. Toda a vegetação da ilha foi destruída quando árvores arrancadas, misturadas com cinzas de pedra-pomes, foram levadas para o mar e formaram jangadas de até 5 quilômetros. |
Uma jangada de pedra-pomes foi encontrada no Oceano Índico, perto de Calcutá. Nuvens de cinzas espessas ainda cobriam o cume em 23 de abril. As explosões cessaram em 15 de julho, embora as emissões de fumaça ainda fossem observadas até 23 de agosto. Chamas e tremores secundários estrondosos foram relatados em agosto de 1819, quatro anos após o evento.
A erupção de 1815 liberou de 10 a 120 milhões de toneladas de enxofre na estratosfera, causando uma anomalia climática global. Subindo alto na atmosfera, as emissões do Tambora se espalharam pelo planeta, tampando o Sol por quase um ano inteiro.
Os céus nebulosos e o tempo frio de 1816 causaram estragos na agricultura, levando à fome em todo o hemisfério norte. Nações lutaram com epidemias, e artistas criaram tributos sombrios a esse tempo que parecia apocalíptico.
Esta anomalia climática foi citada como uma razão para a gravidade da epidemia de tifo de 1816-19 no sudeste da Europa e no Mediterrâneo oriental. Além disso, um grande número de gado morreu na Nova Inglaterra durante o inverno de 1816-1817, enquanto temperaturas baixas e chuvas fortes levaram a colheitas fracassadas nas Ilhas Britânicas.
Famílias no País de Gales viajaram longas distâncias como refugiadas, implorando por comida. A fome era prevalente no norte e sudoeste da Irlanda, após o fracasso das colheitas de trigo, aveia e batata. A crise foi severa na Alemanha, onde os preços dos alimentos aumentaram acentuadamente. Manifestações em mercados de grãos e padarias, seguidas de tumultos, incêndios criminosos e saques, ocorreram em muitas cidades europeias. Foi a pior fome do século XIX.
Esse foi o ano sem verão, literalmente um dos períodos mais sombrios da história humana. Então por que alguns pesquisadores modernos procuram formas de repeti-lo?
Obviamente, ninguém quer replicar esse período de fome e desespero, mas alguns cientistas têm interesse em usar névoa sulfurosa para bloquear o Sol e, esperançosamente, frear os efeitos do aquecimento global. Essa é uma das várias propostas no campo da geoengenharia, uma classe de intervenções intencionais em larga escala nos sistemas da Terra com a intenção de ajudar a conter as mudanças climáticas.
Esquemas de geoengenharia diferentes intervêm em sistemas diferentes. Qualquer plano de resfriar o planeta bloqueando a quantidade de raios solares que chega à Terra se encaixa na categoria de gerenciamento de radiação solar.
Algumas dessas propostas são em grande escala, como as sugestões de criar uma versão útil de plumas vulcânicas ou construir um guarda-sol gigante na órbita terrestre. Outras são mais limitadas, com foco em melhorar sistemas de resfriamento natural. Por exemplo, pesquisadores podem aumentar nuvens marinhas ou fazer a Terra refletir mais luz solar construindo enormes superfícies brancas.
Muitos desses planos parecem um tanto quanto estranhos, e há razões para acreditar que eles podem funcionar, principalmente devido a eventos naturais como a erupção do Tambora. Cientistas sabem que erupções vulcânicas resfriaram o clima periodicamente. Tanto a erupção de Pinatubo em 1991 quanto a de Krakatoa em 1883 reduziram a temperatura média global em pelo menos meio grau Celsius por mais de um ano.
Esses efeitos de resfriamento são globais e de ação rápida, mas também são incrivelmente arriscados. A Terra é um sistema caótico no qual até as menores mudanças podem criar incontáveis efeitos cascata imprevisíveis. Sabemos que resfriar temperaturas impacta a precipitação, climas extremos e outros fenômenos climáticos, mas é difícil até mesmo para os modelos computacionais mais avançados prever como ou onde essas consequências vão ocorrer.
O gerenciamento de radiação solar de um país pode ser o desastre não natural de outro país, causando climas extremos ou problemas agrícolas como os do pós-erupção do Tambora. Mesmo se esses esquemas resfriarem o planeta de forma segura, o gerenciamento de radiação solar não lida com gases de efeito estufa, causas do aquecimento global.
Essas soluções são apenas curativos altamente experimentais, que o mundo teria de suportar por pelo menos algumas décadas enquanto trabalhamos em, de fato, remover o CO2 do ar. Se arrancássemos o curativo de forma prematura, as temperaturas globais poderiam aumentar rapidamente, causando um período de superaquecimento intenso.
Por esses e outros motivos, o gerenciamento de radiação é arriscado. Hoje, pesquisadores estão realizando experimentos em pequena escala, como o aumento de nuvens marinhas para proteger a Grande Barreira de Corais de mais aquecimento e branqueamento. A maioria dos cientistas concorda que devemos buscar maneiras de cortar as emissões e remover o CO2 atmosférico em primeiro lugar.
Entretanto, há razões para continuar estudando as abordagens mais agressivas. Para grandes males, grandes remédios, e, no futuro, a geoengenharia pode ser o último recurso da civilização. Além disso, alguns desses planos seriam surpreendentemente fáceis de executar por algum ator desonesto com dinheiro suficiente.
Vamos querer estar preparados se alguém começar a usar a geoengenharia sem a aprovação do governo. Mas talvez a razão mais importante para investigar os impactos da geoengenharia é que as pessoas já fazem intervenções em grande escala na atmosfera. De muitas maneiras, a mudança climática é um plano de geoengenharia sem intenção alimentado pelas emissões geradas por séculos de queima de combustíveis fósseis.
A menos que tomemos medidas para conter as emissões e retirar o CO2 da atmosfera logo, o verão pode nunca mais ser o mesmo novamente.
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