O urushiol é uma mistura oleosa de compostos orgânicos com propriedades alergênicas encontradas em plantas da família Anacardiaceae, especialmente o carvalho venenoso, laca-chinesa, hera-venenosa, sumagre-venenoso, e também em partes da mangueira e no fruto do cajueiro. A molécula causa a reação dolorosa e coceira extrema que temos quando tocamos na hera-venenosa, como dermatite de contato induzida por urushiol. Mas o urushiol não é venenoso. A molécula em si não representa nenhum perigo para os humanos. |
No entanto, como muitas outras coisas inócuas por aí, ela pode nos machucar ao enganar inadvertidamente nossas células imunológicas a pensar que há perigo e, assim, fazê-las atacar. Ocorre que quando nossa pele entra em contato com o urushiol as células dendríticas imunológicas que patrulham logo abaixo da superfície da pele agarram a molécula com um conjunto específico de algemas biológicas e a levam para os gânglios linfáticos, onde apresentam o urushiol aos linfócitos T.
Se os linfócitos T não reconhecerem a molécula, eles avaliarão quão perigosa a molécula pode ser, com base no tipo de algemas biológicas que as células dendríticas usaram para agarrar e transportar a "suspeita".
Se as algemas forem as mesmas usadas para prender encrenqueiros conhecidos, como moléculas dos micróbios que causam tuberculose e sapinhos, os linfócitos T provavelmente rotularão a molécula desconhecida como perigosa também. Isso desencadeia uma liberação de proteínas tóxicas para limpar a área e matar tudo ao seu redor, o que causa erupção cutânea dolorosa, bolhas e coceira. Em casos raros, pode causar uma reação anafilática, inchaço, urticária, diminuição da pressão arterial, problemas respiratórios, dor abdominal, cólicas, diarreia e vômitos.
É um truque supereficaz, se a molécula e seu patógeno forem realmente prejudiciais. Mas como o inocente urushiol é um lipídio hidrofóbico, como as moléculas de superfície em muitos fungos e bactérias desagradáveis, ele tem o mesmo tipo de cauda de hidrocarboneto e, portanto, requer as mesmas algemas que muitos "bandidos".
Então o corpo monta uma defesa desnecessária, e extremamente desconfortável, sempre que você entrar em contato com o urushiol. Este é o mesmo fenômeno biológico básico por trás de fungadas induzidas por pólen e choque anafilático após comer amendoim, em outras palavras, é uma alergia. Essas substâncias inofensivas, por uma razão ou outra, desencadeiam um caso de identidade equivocada no sistema imunológico de algumas pessoas, fazendo com que seus corpos erroneamente e, bem, precipitadamente ataquem.
Mas enquanto a maioria das alergias ocorre apenas em uma pequena porcentagem de humanos, estima-se que 85% das pessoas sejam alérgicas ao urushiol, tornando a dermatite de contato induzida por urushiol a alergia mais comum do mundo. O que é super estranho, já que o urushiol nem parece ter evoluído como um mecanismo de defesa. É apenas um espessante de seiva que ajuda a selar folhas danificadas.
E, de fato, o urushiol realmente afeta apenas humanos e nossos parentes próximos; muitos outros animais comem regularmente e alegremente hera venenosa e carvalho venenoso. Ainda não sabemos por que a alergia ao urushiol é exclusiva dos humanos, por que alguns de nós reagem a ela e outros não... ou, realmente, tudo isso sobre alergias em primeiro lugar.
Antes que o urushiol seja absorvido pela pele, ele pode ser removido com uma toalha usando água e sabão. Quantidades substanciais de urushiol podem ser absorvidas em minutos, mas uma vez que o urushiol tenha penetrado na pele, tentar removê-lo com água é ineficaz.
Uma vez iniciada esta resposta, apenas alguns tratamentos, como a cortisona ou a prednisona, são eficazes. Os medicamentos que podem reduzir a irritação incluem anti-histamínicos. Outros tratamentos incluem a aplicação de água gelada ou loção de calamina para aliviar a dor e parar a coceira. Se você está se perguntando: Como podemos comer a castanha de caju se ela tem urushiol? Acontece que a molécula é inativado por um processo de aquecimento.
No Brasil, há um caso quase mitológico sobre dermatite sendo provocada pelo bugreiro (Lithraea brasiliensis), também chamada aroeira-brava, em um quadro conhecido como aroeirite. Durante muitos anos a história de que alguém contraiu dermatite apenas dormindo à sombra desta árvore era considerado "causo" de caboclo mentiroso... até 2010, quando um estudo publicado na revista Anais Brasileiros de Dermatologia, indicou que as substâncias existentes na aroeira-brava realmente são capazes de causar dermatoses, mesmo sem o indivíduo ter contato direto com a planta.
Com efeito, outro estudo, publicado em 1997 na revista American Journal of Contact Dermatitis, pesquisadores concluíram que os alérgenos presentes no bugreiro estão intimamente relacionados ao urushiol.
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