No fim dos anos 1700, um médico alemão chamado Samuel Hahnemann publicou artigos sobre um novo tipo de tratamento inteiramente fundamentado na "verdade experimental" que chamou de homeopatia. A teoria de Hahnemann tinha duas hipóteses centrais. Primeiro, o tratamento de uma doença deveria ser feito com uma dose de algo que pudesse causá-la. Segundo, medicamentos diluídos são mais potentes do que os concentrados. Então, um remédio homeopático para insônia pode incluir uma solução extremamente diluída de cafeína, uma bobagem sem tamanho. |
Nos 300 anos seguintes, vários médicos e pacientes recorreram à homeopatia e hospitais inteiros foram construídos para focar em tratamentos homeopáticos. Apesar de tudo isso, diversos estudos mostram que a homeopatia não tem efeito terapêutico e os tratamentos geralmente não são melhores que placebos. Ainda assim há um mercado bilionário na comercialização de esferas de açúcar.
Então, por que tantos profissionais e instituições ainda sustentam essa prática? A resposta é que a homeopatia é uma pseudociência, um conjunto de teorias, técnicas e suposições que parecem científicas, mas não são.
Nos piores casos, os praticantes de pseudociência encorajam essa confusão para explorar as pessoas. Mas mesmo quando bem-intencionada, a pseudociência pode impedir que pessoas tenham a ajuda que precisam. Então, como você pode saber o que é ciência e o que é pseudociência? Essa questão é conhecida como o problema da demarcação, e não existe uma resposta simples.
Parte do problema é que definir a ciência é surpreendentemente complicado. Existe a ideia de que toda ciência, de uma forma ou de outra, está ligada a testes de evidência empírica. Mas algumas atividades científicas são fundamentalmente teóricas e diferentes áreas abordam o empirismo com objetivos, metodologias e padrões variados.
O filósofo do século XX, Karl Popper, tentou resolver o problema da demarcação com uma regra simples. Ele argumentou que para uma teoria ser científica, ela deve ser falseável, ou capaz de se provar errada. Isso requer uma teoria para fazer previsões específicas. Por exemplo, se você teorizar que a terra gira ao redor do sol, também deveria ser capaz de prever o trajeto dos outros corpos celestiais.
Assim, a teoria poderia ser refutada com base na correspondência, ou não, das observações feitas. A regra de falseabilidade de Popper é uma ótima maneira de identificar pseudociências, como a astrologia, que faz predições muito amplas e que se adaptam a qualquer observação. Porém, apenas a falseabilidade não resolve totalmente o problema da demarcação.
Muito do que consideramos ciência hoje já foi impossível de testar por falta de conhecimento ou tecnologia. Felizmente, existem outros fatores que podem identificar pseudociências, incluindo como um campo reage a críticas. Cientistas devem sempre estar abertos para a possibilidade de novas observações mudarem o que se pensava anteriormente.
E teorias totalmente refutadas devem ser rejeitadas em favor de novas explicações. Ao invés disso, teorias pseudocientíficas são geralmente alteradas para justificar qualquer resultado contraditório. Esse comportamento mostra resistência ao que a filósofa Helen Longino chamou de criticismo transformativo.
Pseudociências não tentam resolver seus vieses internos ou se envolver significativamente com uma transparente revisão por pares. Outro indicador fundamental na ciência é uma coerência global. Cientistas se baseiam em uma rede de informações compartilhadas que pesquisas contínuas desenvolvem entre disciplinas.
Já a pseudociência costuma ignorar ou negar esse conjunto de informações. Por exemplo, criacionistas alegam que os animais não evoluíram de um ancestral comum e que a terra tem menos de 20 mil anos. Contudo, tais alegações contradizem um mar de evidências de diversos campos científicos, incluindo a geologia, a paleontologia e a biologia.
Embora o método científico seja a ferramenta mais confiável para analisar evidências empíricas do mundo à nossa volta, ele certamente não revela tudo sobre a condição humana. Crenças baseadas na fé são importantes em nossas vidas e tradições culturais. Mas o motivo de ser tão importante estabelecer esse limite é que as pessoas costumam disfarçar crenças como ciência, tentando manipular os outros ou enfraquecer descobertas legítimas.
E mesmo quando parece ser inofensivo, legitimar pseudociências pode atrasar o progresso científico real. No mundo em que é cada vez mais difícil separar verdade e ficção, é essencial manter o pensamento crítico afiado. Então, quando ouvir sobre uma nova alegação surpreendente, se pergunte: podemos testar isso? As pessoas por trás dessa teoria estão atualizadas com novas descobertas? Essa teoria é coerente com os conhecimentos científicos do mundo? Já que parecer científico e ser realmente científico são duas coisas muito diferentes.
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Comentários
Uma interessante reflexão que encontrei
A CIÊNCIA EM CRISE. Uma análise.
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Para quem quer ir ainda além :
A AURORA DE UMA NOVA CIÊNCIA. 5 cientistas apontam alternativas
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