A graça e encanto de um texto, e por consequência de um livro, está na possibilidade do leitor criar ele próprio a cara e a personalidade do protagonista que ele "enxerga" lendo a história. Além de fomentar a boa prática da ortografia e gramática, a leitura abre todo um mundo de criatividade que são próprias do leitor assíduo e que abrem as portas para um raciocínio mais fluído, já que aumenta a conectividade cerebral. Por exemplo, enquanto você está lendo essas palavras, o seu cérebro está decodificando uma sequência de símbolos abstratos e consubstanciando ideias complexas. Isso não é incrível? |
Por isso é uma pena que textos como este, que ilustra o artigo, tenham perdido protagonismo, em favor de memes, piadas fáceis, curtas e estúpidas e banners com frases de autorias duvidosas. É um texto humorístico que apareceu pela primeira vez em 2007, ainda com Osama bin Laden como protagonista, e que foi revisitado em 2015 depois dos ataques de novembro daquele ano em Paris.
O mais grave dessa falta de leitura da atualidade é que muitos perderam a capacidade de analogia e alguns inclusive não sabem identificar o sarcasmo sem a presença das "aspas". Aqui mesmo no MDig tivemos uma grande polêmica quando dois leitores ficaram indignados com o uso da palavra "jênio" (sem aspas) e com este contexto (sarcasmo).
Já no caso deste texto o problema foi ainda mais além com leitores interpretando a história ao pé da letra como se tratasse de um história real. Serviu inclusive de matéria para estes sites de fact-checking, que se estendem pela rede na atualidade, quanto todo o necessário era bom senso, senso de humor e um mínimo de interpretação de texto.
A valer, é apenas um texto cômico delicioso que mostra as desventuras de dois terroristas do Daesh no Brasil, que nos permitimos a licença de atualizar e corrigir alguns erros.
Documentos descobertos e mantidos em sigilo pela Polícia Federal, FBI e a DGSE Francesa revelaram que o Estado Islâmico (ISIS), teria ordenado a execução de um atentado no Brasil.
O alvo da ação seria a estátua do Cristo Redentor, um dos símbolos mais conhecidos do Rio. Dois integrantes da organização jihadista foram enviados ao país para sequestrar um avião que seria lançado contra a "estátua-símbolo dos infiéis cristãos".
Os registros da Polícia Federal dão conta de que os dois terroristas chegaram ao Rio no domingo, 1 de novembro, às 21:47m, em um voo da Air France. A missão começou a enfrentar problemas já no desembarque, quando a bagagem dos muçulmanos foi extraviada, seguindo em um voo para o Paraguai.
Após quase seis horas de peregrinação por diversos guichês, somados a dificuldade de comunicação em virtude do inglês ruim, os dois saíram do aeroporto, aconselhados por funcionários da Infraero a voltar no dia seguinte, com um intérprete. Os dois terroristas pegaram um táxi pirata na saída do aeroporto, sendo que o motorista logo percebeu que eram estrangeiros e rodou duas horas dando voltas pela cidade, até abandoná-los em um local ermo da Baixada Fluminense. Ali, três cúmplices assaltaram e espancaram os homens.
Eles conseguiram ficar com alguns dólares que estavam ocultos em cintos próprios para transportar contrabando e pegaram carona em um carro do ovo, com a condição de comprarem pelo menos 3 bandejas, cada um. Na segunda-feira, às 7:33, graças ao treinamento de guerrilha no Afeganistão, os dois terroristas conseguiram chegar a um hotel de Copacabana.
Alugaram então um carro e logo na primeira incursão pela cidade se perderam entrando na Rocinha onde o carro foi totalmente destruído com rajadas de metralhadoras. Mais uma vez, graças ao treinamento de guerrilha, se safaram e voltaram para o aeroporto determinados a sequestrar logo um avião e jogá-lo bem no meio do Cristo Redentor.
Enfrentaram um tremendo congestionamento por causa de uma manifestação de estudantes e professores em greve e ficaram três horas parados na Avenida Brasil, altura de Manguinhos, onde seus relógios foram roubados em um arrastão. Às 12:30m, resolveram ir para o centro da cidade e procuraram uma casa de câmbio para trocar o pouco que sobrou dos dólares. Receberam notas de R$ 100,00 falsas, dessas que são feitas grosseiramente a partir de notas de R$ 1,00.
Por fim, às 15:45, chegaram ao Tom Jobim para sequestrar uma aeronave. Aeroviários e passageiros estavam reunidos no saguão do aeroporto, tocando pagode e gritando slogans e palavras de ordem contra o governo. O Batalhão de Choque da PM chegou batendo em todo mundo, inclusive nos terroristas, que apanharam até no céu da boca.
Os árabes foram então conduzidos à delegacia da Polícia Federal do Aeroporto, acusados de tráfico de drogas, visto que alguém havia plantado papelotes de cocaína nos seus bolsos. A denúncia acabou ainda mais agravada por falsificação de moeda, e majorada por comércio ilegal e atentado contra a saúde pública, quando encontraram as bandejas de ovos no banco de trás do carro.
No entanto, às 18 horas, aproveitando o resgate de presos feito por um esquadrão de bandidos do Comando Vermelho, eles conseguiram fugir da delegacia em meio da confusão e do tiroteio. Às 19:05 eles se dirigiram ao balcão da GOL para comprar as passagens, mas o funcionário que lhes vendeu as passagens omitiu a informação de que os vôos da companhia estavam todos cancelados.
Estressados com tantos desencontros, eles então começaram a discutir entre si, pois estavam em dúvida se destruir o Rio de Janeiro, no fim das contas, seria um ato terrorista ou um gesto de altruísmo próprio de uma obra de caridade. Também estavam hesitantes se enfim as 72 virgens compensavam tanto esforço.
Às 23:30m, sujos, doloridos e mortos de fome, decidiram comer alguma coisa no restaurante do aeroporto. Pediram sanduíches de churrasquinho com queijo de coalho e limonada. Só no domingo conseguiriam se recuperar da intoxicação alimentar de proporções épicas, decorrente da ingestão de carne podre usada nos sanduíches.
Foram levados para o Hospital Miguel Couto, depois de uma espera de cerca de três horas para que o socorro chegasse e percorresse os hospitais da rede pública até encontrar vaga. No HMC foram atendidos por uma enfermeira feia, grossa e mal-humorada. Eles também notaram que a mulher tinha mais bigode do que eles. Totalmente debilitados, só teriam alta hospitalar no domingo, de onde seguiriam direto para o Departamento da Polícia Federal, no centro.
Domingo, 18:20h: os homens de al-Baghdadi conseguiram fugir do hospital, disfarçados de mulher, depois de roubar maquiagem e acessórios femininos no vestiário das enfermeiras e se dirigiram por engano para as imediações do Maracanã. O Flamengo acabara de perder o jogo e a torcida rubro-negra confundiu as "mulheres" com torcedoras do time adversário, mas depois que se revelaram como homens levaram uma surra sem precedentes. O chefe da torcida era um tal de "Pé de Mesa", que abusou sexualmente deles.
Às 19:45m, finalmente foram deixados em paz, com dores terríveis pelo corpo, em especial na região ano-retal. Ao verem uma barraca de venda de bebida nas proximidades, decidiram se embriagar uma vez na vida -mesmo que fosse pecado, Alá que se foda!-. Tomaram cachaça adulterada com metanol 72° GL e foram levados às pressas novamente para o Miguel Couto. Os médicos também diagnosticaram gonorreia, fissura anal e abcesso anorretal (Pé de Mesa não perdoa!).
Segunda-feira, 23:42m: os dois terroristas enfim conseguiram fugir do Rio escondidos no baú de um caminhão da Havan, que foi assaltado horas depois na Serra das Araras. Desnorteados, famintos, sem poder andar e sentar, eles foram recolhidos por uma van clandestina de uma ONG ligada aos direitos humanos. Quando chegaram a sede da ONG descobriram com tristeza que um dos diretores da instituição era o Jorjão da Silva, vulgo Pé de Mesa.
Desesperados, os dois terroristas conseguiram mais uma vez fugir do local, graças ao bendito treinamento no Afeganistão, e perambularam a madrugada inteira à cata de comida nas caçambas de lixo. Debilitados, cansados, abatidos e com muito sono, acabaram adormecendo debaixo da marquise de uma loja.
A Polícia Federal ainda não revelou o hospital onde os dois foram internados em estado grave, depois de serem espancados quase até a morte por um grupo de pitboys mata-mendigos. O porta-voz da PF declarou que, depois que os dois saírem da UTI, serão recolhidos no setor de imigrantes ilegais, em Brasília, onde permanecerão até que o Ministério da Justiça autorize a deportação dos dois infelizes, se tiver verba, é claro.
Em uma declaração para repórteres dos principais veículos de notícia e pessoal dos direitos humanos, os dois consideraram totalmente desnecessário a prática do terrorismo no Brasil e irão sugerir no próximo Simpósio Mundial de Terrorismo, a ser celebrado no Irã em data e local não revelado, um convênio para realização, no Rio de Janeiro, de cursos, oficinas e treinamento especializado para o pessoal do Daesh, alegando que em matéria de terror e sofrimento imposto, estamos anos luz à sua frente.
Afinal não é em qualquer pais que um grupo de terroristas ganha status de movimento social.
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