O rabo de boi está ganhando fãs nos EUA, mas nem todo mundo está feliz com isso

Quando eu era criança, era bem comum comer rabada ou ensopado de rabo de boi no fim de semana. Era uma comida barata da época mas muito gostosa. Os ossos fazem um caldo muito substancioso e rico em proteínas. Na verdade a rabada ainda é um corte barato não superando os 20 reais aqui no Brasil, mas nos últimos anos, o rabo de boi se tornou uma tendência nos EUA. Um corte que antes era jogado no lixo por açougueiros americanos, hoje está presente em muitos. A mesma trajetória alimentar da miséria à riqueza foi semelhante para lagosta, camarão e outros frutos do mar que eram comida de pobre nos EUA.

Grande parte do ressurgimento da rabada se deve a chefs criativos e marketing inteligente. Alguns usam o termo gentrificação alimentar para ilustrar essa transição de suas origens humildes para sua atual proeminência no universo culinário. Hoje, esse corte ósseo de carne bovina se tornou uma mercadoria cara, e custa cerca de R$ 180 o quilo, quase o mesmo preço de um quilo de filé mignon, mas por muito menos carne.

Por muito tempo, a rabada foi considerada um corte descartável de carne bovina nos Estados Unidos. Até duas décadas atrás, custava apenas alguns reais por quilo. Naquela época, no início de 2000, ninguém queria, exceto os negros americanos.

A rabada, repleta de tecido conjuntivo resistente, era frequentemente dada a negros americanos escravizados. Eles, por sua vez, alavancaram sua criatividade para converter esse pedaço de carne descartado em um prato rico e delicioso.

Especialistas culinários escravizados usavam ingredientes, como potlikker, ou licor de panela, o caldo saboroso criado ao ferver feijões e verduras. para assar rabo de boi até que a carne delicada se transformasse em pedaços deliciosos. Após o fim da escravidão, seus descendentes continuaram comendo pratos de rabo de boi.

Rabada é um prato muito apreciado no Brasil e é feito em forma de guisado do rabo do boi, ao qual se adicionam verduras e legumes, como tomate, cebola e pimentão, juntamente com temperos frescos e secos. No Brasil, a rabada tradicionalmente é acompanhada de arroz, polenta, angu ou batatas cozidas com agrião.

Na Europa, a sopa de rabo de boi é um prato comum desde a Idade Média, elogiada por seu sabor forte e supostas propriedades medicinais. Nas culinárias africana e caribenha, ensopados e refogados de rabo de boi são alimentos reconfortantes apreciados, geralmente servidos com arroz ou vegetais de raiz.

Para muitos que trabalham com carne, o aumento da popularidade da rabada nos EUA não é uma surpresa tão grande. Era apenas uma questão de tempo até que o cenário gastronômico americano mais amplo alcançasse os negros americanos e outras regiões, como Jamaica e Guiana, onde o rabo de boi é muito comum.

O rabo de boi cozido lentamente está profundamente enraizado na tradição de muitas culturas. À medida que a inspiração culinária continua a se expandir globalmente. As pessoas estão procurando por essa experiência autêntica de comida reconfortante. O sabor rico e carnudo que vem da preparação cuidadosa do rabo de boi é procurado e delicioso.

Evidentemente que as pessoas que antes consumiam a rabada não estão muito contentes. O alto preço afastou o corte de suas mesas. O aumento no preço e na demanda também levou a uma onda de respostas online: debates sobre se o corte deve ser limitado -embora não esteja claro para quem-, e sites que vendem mercadorias declarando "Faça o rabo de boi barato novamente". Em uma tentativa de desencorajar as vendas, os usuários de mídia social que apreciam o corte têm inventado histórias sobre como o corte causa perda de cabelo.