A Guiné Equatorial tem pouco mais de um milhão de habitantes. Malabo, a capital, não chega a 300.000. Dali vinha Eric Moussambani, quem com seus 22 anos, em 1999, recebeu o visto para representar seu país nos próximos Jogos Olímpicos. Não em atletismo como ele queria, já que a cota de nomes já estava completa, senão na natação, uma disciplina da qual pouco sabia. Os pescadores da região onde morava ensinaram o jovem a dar umas braçadas. Malabo só tinha uma piscina de um hotel onde permitiram seu acesso de forma excepcional três horas à semana. Oito meses mais tarde, Sidney. |
Um dos vídeos mais revisitados da história desta competição mostra um homem só enfrentando a imensidão da piscina olímpica e o olhar atento de dezenas de milhares de espectadores. Ele teria que competir na sua bateria dos 100 metros livres junto a Karin Bare, da Nigéria, e Farkhod Oripov, do Tajiquistão, ambos de capacidades similares à sua. Mas os dois foram eliminados por queimar duas vezes a saída, enquanto ele, que tinha estudado vídeos de outras competições olímpicas na noite anterior, sabia que os juízes davam três avisos antes da largada. Evitou a desclassificação e com isso teve que enfrentar à piscina sozinho.
Este rapaz mal sabia nadar. Atirou-se como um aprendiz, com as pernas verticais e ladeando a cabeça. Os braços, sem ordem nem concerto. A velocidade, inferior a de qualquer garoto que faz curso de natação. 100 metros era um desafio hercúleo, já que a piscina em que ele treinou, por verdade, tinha apenas 15 metros, daí que o pobre Moussambani, quando viu pela primeira vez a piscina australiana, pensou que estava vendo o mar.
Ele conseguiu fazer o giro, mas na metade do trajeto já estava totalmente esgotado.
- "Se olham o vídeo, vão ver que não podia sentir minhas pernas. Sentia que não ia mais longe. Estava nadando mas não saís do lugar. Mas sabia que o mundo inteiro estava me observando: meu país, minha mãe, minha irmã e meus amigos. Não me preocupava o tempo. Tudo o que queria era terminar", explicou em uma de seus múltiplos entrevistas.
O público, que no início riu daquela situação, passou a apoiar e a animar o equato-guineense a que terminasse sua cruzada. Os socorristas estavam de olho no nadador que já mal avançava, senão que sobrevivia ao afundamento, mas chegou. Com uma marca de 1 minuto, 52 segundos e 72 centésimas, a que segue sendo a pior marca da história e inclusive mais baixa que a realizada por outros nadadores no dia seguinte na prova dos 200 metros, mas chegou. E tinha conseguido antes de mais nada o mundo. Ele foi apelidado de "Enguia".
Não recebeu nenhuma medalha, mas se converteu em um dos rostos mais conhecidos e queridos daqueles Jogos, tanto que acabou assinando um contrato por um ano com a Speedo. Ao cabo de quatro anos melhorou sua marca pessoal até uns nada desdenháveis 55 segundos, e se tornou o treinador oficial da seleção de natação de seu país, onde agora já, sim, há um par de piscinas grandes.
Falou-se dele como símbolo de esforço e sacrifício, mas parece mais bem o da valentia: ele foi o homem que, pese a sua limitadíssima habilidade e sua clara inferioridade com respeito ao resto de competidores, se atreveu a se atirar à piscina. Literalmente.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários