O McLanche Feliz imaculado

Você já pensou o que aconteceria se você deixasse um McLanche Feliz do McDonald's em cima de uma mesa, fotografando-o durante os 137 dias seguintes? Nada. Isso mesmo, não acontece nada. Esta é a conclusão de uma chocante experiência artística da fotógrafa nova-iorquina Sally Davies, que está imortalizando a evolução do tal lanche da maior rede de lanchonetes na sala de sua casa e publicando as imagens na Internet.

Não é possível ver a presença de mofo, putrefação ou qualquer outro processo que afeta à alimentação humana habitual fora das câmaras frigoríficas. Mais de quatro meses após a compra, está praticamente igual ao primeiro dia.

O projeto tem uma clara intenção: denunciar a comida artificial vendida pelo McDonald's e demonstrar seu suposto abuso dos conservantes. E como tudo o que está relacionada a esta empresa, está tendo uma forte propagação viral nas redes sociais. No entanto, o experimento não é nem um pouco de original, já que os testes de duração de hambúrgueres da rede são até certo ponto comuns na Internet nos últimos anos.

Em 2004, Morgan Spurlock, autor do documentário A dieta do palhaço colocou sanduíches de diferentes lanchonetes em frascos de cristal e gravou sua evolução. Os hambúrgueres estragavam rápido, mas as batatinhas permaneceram intactas durante 10 semanas.

A revista nova-iorquina "Stay Free!" comparou em 2005 um sanduíche de hambúrguer com batatas fritas de um lanchonete simples do bairro do Brooklyn com um do McDonald's. Em uma semana, a primeira estava completamente mofada, enquanto a segunda só tinha leves marcas de fungos.

A nutricionista estadunidense Karen Hanrahan mostrou em seu blog em 2008 um hambúrguer supostamente comprado no McDonald's 12 anos antes, que tinha mantido guardada em um tupperware fora da geladeira. O aspecto nem tinha mudado; segundo o depoimento de Karen, só estava começando a esmigalhar e tinha o mais estranho dos cheiros. Na imagem, o sanduíche de 1996 está à esquerda, comparado com um recém comprado.

Em março de 2010 a blogueira Nonna Joann publicou no BabyBites um post intitulado "Happy birthday, happy meal", no qual celebrava com ironia o primeiro aniversário de um lanche comprado há um ano. Uma vez mais, as imagens do hambúrguer comprado em 2009 e na atualidade eram praticamente iguais, apesar de ter permanecido em uma estante de seu quarto em Denver durante 12 meses.

- "Nunca cheirou mal, nunca apodreceu e nem mofou", afirmava Joann. "Acho que as formigas, as moscas e os ratos estão mais preparados que os humanos, porque nenhum deles deixou-se enganar. Nunca tocaram o McLanche Feliz. As crianças também não deveriam fazê-lo".

O último ensaio clínico com os hambúrgueres do McDonald's foi realizado neste mês por um personal trainer de Oklahoma chamado Christian Henning, com o mesmo resultado: três meses ao ar livre e nem sinal de putrefação, nem na carne nem nas batatas fritas.

E o McDonald's, que diz de tudo isto? O post de BabyBites teve tal impacto na Rede que a empresa se viu obrigada a emitir um comunicado defendendo seus lanches.

"A carne de nossas hambúrgueres não têm conservantes. Mas desde uma perspectiva científica, pelo jeito que o McDonald's processa os hambúrgueres frescos, nenhum poderia ter esse aspecto após um ano a não ser que tenha sido manipulado ou congelado."

Como se explica então a longa duração dos seus lanches? Além da conclusão mais óbvia -que estas experiências tenham sido arranjadas-, há três possíveis respostas. A primeira, que a maioria dos testes tenham sido realizados em condições de baixa umidade, motivo pelo qual a carne simplesmente secou e assim permaneceu imune à decomposição. A pergunta então seria por que isto não ocorre com qualquer outra carne frita em casa?

A segunda explicação é que o McDonald's esteja mentindo e coloque sim conservantes, algo que também parece questionável já que uma simples análise poderia colocar a empresa em sérios problemas.

A terceira é que exista uma confabulação entre o McDonald's e o Vaticano, motivo pelo qual o segundo tenha cedido o segredo da incorruptibilidade dos santos à primeira em troca de dinheiro e/ou hambúrgueres grátis.

Em qualquer caso, dá um pouco de medo pensar nestes lanches intocáveis pela putrefação. Mas de qualquer forma também deveriam nos inquietar aquelas pizzas que a gente esquece na geladeira. Dia desses achei uma fatia que inadvertidamente caiu na gaveta de frutas e verduras há uns 4 meses atrás, estava um pouco esverdeada, mas igualmente deliciosa e um pouco azedinha. Claro que não tinha a etiqueta do McDonald's, então não vale nem a pena criticar.

Fonte: El Pais.